O 2º Festival de Música Barroca de Alcântara será aberto nesta sexta-feira, dia 7, nas cidades de Rosário (Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário) e Bacabeira (Igreja Imaculada Conceição da Bem Aventurada Virgem). Produzido pela Equinox do Brasil, o evento, que reverencia este ano o aniversário de 400 anos de fundação de São Luís, ocorrerá até o dia 11 de dezembro, também, em Alcântara, nos dias 8 e 9 (sábado e domingo), respectivamente, (Igreja Nossa Senhora do Carmo). Na capital maranhense, o Festival de Música Barroca ocorrerá, nas igrejas Nossa Senhora dos Remédios e da Sé, posteriormente, à programação do 2º Colóquio Nordestino de Musicologia Histórica: uma iniciativa da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Durante o evento, será oferecido a um jovem talento maranhense o Prêmio Equinox.
Para a segunda edição do Festival de Música Barroca de Alcântara, com patrocínio da Petrobras, foram escaladas sete atrações musicais: Conjunto de Música Antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF), Quadro Cervantes, Marília Vargas e Ensemble, o trio formado por Paulo Mestre, Silvana Scarinci e Juan Manuel Quintana, o duo formado por Guilherme de Camargo e Ricardo Kanji, e os grupos maranhenses Capela Brasileira e Marabrass.
– Nós estamos trazendo para o Maranhão grupos de renome no cenário da música barroca para darmos o nosso presente à cidade de São Luís, pelos seus 400 anos de fundação. São apresentações que certamente encantarão o público e a programação está ainda mais rica do que a da primeira edição”, disse Bernard Vassas, coordenador geral do evento.
Atrações
O Conjunto de Música Antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF), por exemplo, é formado por seis músicos e desde 1981 cumpre seu objetivo de resgatar e transmitir não apenas a música, mas a visão de mundo da Idade Média e do Renascimento. Para divulgar seu repertório de maneira mais aproximada ao ideal sonoro da época, os artistas trabalham na pesquisa bibliográfica e discográfica disponíveis na atualidade, apresentando-se com réplicas dos instrumentos utilizados naqueles períodos.
O grupo, que gravou seis CDs temáticos e um LP, somando mais de 15 mil cópias vendidas, é composto pelos artistas Mário Orlando (viola da gamba e canto), Sonia Leal Wegenast (canto e percussão), Virginia van der Linden (flauta transversa e canto), Marcio Paes Selles (canto, viola da gamba e flautas), Lenora Pinto Mendes (flauta doce e viola da gamba), e Leandro Mendes (canto e flautas doces). Na época em que iniciou suas atividades o grupo era composto apenas por flautas, instrumento que ainda permanece comum a todos os integrantes.
Quadro Cervantes – Fundado em 1974, o conjunto Quadro Cervantes é considerado pela crítica como o mais importante conjunto de música antiga do país. Além da sua inegável qualidade artística, prima pelo humor e a comunicação que estabelece com suas plateias. Os repertórios que costuma apresentar vão desde o período medieval até o cancioneiro brasileiro do século XIX. Empregando cópias fiéis de instrumentos antigos, recitais do grupo compreendem trios vocais e dezenas de instrumentos das famílias de sopro, percussão, cordas dedilhadas e cordas friccionadas. Quadro Cervantes é formado por Helder Parente (voz, flautas e percussões), Márcia Taborda (soprano e percussões), Mario Orlando (vielle, viola da gamba e contratenor) e Nícolas de Souza Barros (vihuela e guitarra renascentista).
A soprano Marília Vargas, acompanhada do brasileiro Guilherme de Camargo e dos argentinos, Dolores Costoyas e Juan Manuel Quintana, retornará ao Maranhão nesta segunda edição do evento para apresentar ao público, por meio do concerto Si dolce e il Tormento, um programa de música do século XVII italiano: um dos períodos mais marcantes da história da música. Marília Vargas é formada em canto barroco na Schola Cantorum Basiliensis (Suíça) e possui intensa atividade como solista no Brasil e Europa.
O concerto Si dolce e il Tormento deverá ser um dos mais contagiantes do festival, tendo em vista o encontro dela com os dois músicos argentinos radicados na Europa e também com um dos mais importantes instrumentistas de cordas dedilhadas antigas do Brasil, que é Guilherme de Camargo (teorba).
O trio formado por Paulo Mestre (contratenor), Silvana Scarinci (teorba) e Juan Manuel Quintana (viola de gamba), por sua vez, apresentará o concerto “Imagine: a canção inglesa de Purcell aos Beatles”.
O Duo Camargo Kanji, constituído pelo flautista, cravista e regente Ricardo Kanji e Guilherme Camargo instrumentista renomado, especializado em cordas dedilhadas antigas do Brasil, apresenta o programa “Pífaro e Viola, Traverso e Teorba: Perspectivas Barrocas Francesas, Portuguesas e Brasileiras”. Traz duas estéticas diametralmente opostas. Por um lado, todo o requinte da música francesa do século XVII, com suas incontáveis idiossincrasias estilísticas, interpretada com instrumentos do período da composição, traverso barroco e teorba, representantes dos mais refinados da instrumentação do período.
Por outro, toda a simplicidade da música rústica escrita originalmente para a viola de arame, em Portugal e no Brasil do século XVIII e arranjada aqui para pífaro, nossa tradicional flauta de bambu, e viola. Já o Marabrass, grupo maranhense de percussão e metais, fundado em junho de 2003, apresentará repertório variado, com obras compreendendo desde a música Renascentista até a Contemporânea, incluindo compositores brasileiros, sendo alguns maranhenses. O grupo é formado por Daniel Cavalcante e Hugo Carafunim (trompetes), Jairo Moraes (trompa), Daniel Miranda (trombone), George Campos (tumba) e Marcel Silva (percussão).
O Coro Capela Brasileira, regido por Ciro de Castro, interpretará obras de Pierre Gédron, compositor da corte de Louis XIII (da época da fundação de São Luís). O diretor musical, Ciro de Castro, foi professor superior de Canto pelo Real Conservatório Superior de Música de Madrid, doutorando em Musicologia pela Universidad Autónoma de Madrid e é, atualmente, professor de canto na Escola de Música do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo.
Nos últimos dois anos, o grupo Capela Brasileira apresentou-se na III Semana de Música da UEMA, e participou do I Festival de Música Barroca de Alcântara ao lado de grupos de renome internacional. Este ano, realizou uma série de concertos durante a Semana Santa nas igrejas Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e Nossa Senhora dos Remédios. E realizou um concerto da série Música e Memória, organizado pelo Museu Histórico e Artístico do Maranhão.
Sobre o Barroco
O Barroco é fruto da síntese entre duas mentalidades, a medieval e a renascentista. O homem do século XVII era um ser contraditório, que usou a arte para expressar suas inquietudes. No Brasil, surgiu de uma feição mestiça e inculta, de natureza naïve (ingênua), sendo esse um dos elementos que lhe conferiu originalidade e tipicidade.
Formado por uma complexa teia de influências europeias e adaptações locais, o Barroco despontou quase cem anos após o “Descobrimento do Brasil”, quando a população já se multiplicava, em uma sociedade escravista. É uma corrente estética e espiritual, cuja essência e vida estão no contraste, no drama, no excesso. A identidade desse período histórico, que inicia no século XVII e se estende até o final do século XVIII, revelou-se através do Barroco, sendo chamado de “Alma do Brasil”, por Affonso Romano de Sant’Anna, escritor brasileiro.
Devido aos fortes laços com a Igreja, a arte barroca foi funcional, além de sua função puramente decorativa, facilitava a absorção da doutrina católica e dos costumes europeus. Foi um instrumento de cultivo e confirmação da fé e das tradições dos conquistadores cristãos. Incontáveis são as obras produzidas por todo o país, do Rio Grande do Sul ao Pará, tendo o Barroco enraizado-se profundamente no Nordeste, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
As principais marcas deixadas pelo Barroco estão na arquitetura. Seus maiores expoentes foram Aleijadinho e Mestre Ataíde. Na literatura, o grande e imortal poeta Gregório de Matos, o Boca do Inferno, e o orador sacro, Padre Antônio Vieira, deixaram seus registros. Baltazar de Campos chegou ao Maranhão em 1661, e produziu inúmeras telas sobre a Vida de Cristo, para a sacristia da igreja de São Francisco Xavier, em Belém. Da música, pouco restou, embora se saiba que fora pródiga. Os principais registros apontam para a missa cantada. Os documentos musicais da Era do Ouro em Minas Gerais, revelados no início do século XX desperta interesse e olhares, alcançando significativa importância nas reflexões, estudos culturais e pesquisas no país.
A música vem com uma visão apurada, perceptiva e compreensiva de manifestação do imaterial. De inegável valor, o Barroco é a escola de arte que mais refletiu a identidade do país, sendo parte de sua história, tradição e cultura da Brasil. Coincidiu com o nascimento da consciência nacional e ao mesmo tempo a favoreceu. Contando com o apoio dos protetores das artes – paróquias, confrarias e associações religiosas, constituiu a primeira possibilidade de expressão artística do país. A influência barroca foi, sob muitos pontos de vista, uma referência fundamental para a construção da identidade nacional brasileira e, também, das artes do espetáculo com forte relação com o país, como o carnaval, por exemplo. Serviço
Programação
7 DE DEZEMBRO 2012 ROSÁRIO
Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário
18h45 – Conjunto de Música Antiga da UFF: “Musica na Corte de Dom Manuel I”
BACABEIRA
Igreja Imaculada Conceição da Bem Aventurada Virgem
19h30 – Quadro Cervantes – “Cantos de Natal”
8 DE DEZEMBRO 2012 ALCÂNTARA
Igreja Nossa Senhora do Carmo
18h – Ensemble Vargas, Camargo, Quintana & Costoyas – “Si Dolce è Il Tormento”
19h- Conjunto de Música Antiga da UFF – “Musica na Corte de Dom Manuel I” 20h30 – Quadro Cervantes – “Cantos de Natal” 9 DE DEZEMBRO 2012
ALCÂNTARA
Igreja Nossa Senhora do Carmo
18h – Trio Scarinci, Mestre & Quintana – ” Imagine, a canção inglesa de Purcell aos Beatles” 21h – Duo Camargo Kanji – “Pífaro e Viola, Traverso e Teorba”
10 DE DEZEMBRO 2012 SÃO LUÍS
Igreja Nossa Senhora dos Remédios 1
9h – Capela Brasileira– “Pierre Guédron e a música da Corte de Luís XIII”
19h30 – Conjunto de Música Antiga da UFF – “Musica na Corte de D. Manuel I”
21h – Ensemble Vargas, Camargo, Quintana & Costoyas – “Si Dolce è Il Tormento”
11 DE DEZEMBRO 2012 SÃO LUÍS
Igreja da Sé
19h – Marabrass – “Som Barroco”
19h30 – Trio Scarinci, Mestre & Quintana – “Imagine: A canção inglesa de Purcell aos Beatles”
21h – Duo Camargo Kanji – “Pífaro e Viola, Traverso e Teorba”