Singular & Plural
São Luís completa 397 anos convivendo com uma diversidade cultural, que passeia do bumba meu boi, ao reggae, do tambor de crioula, ao rock, do cacuriá ao blues, do côco ao samba, da quadrilha ao rap, do Divino ao forró, do Lelê ao Jazz, da dança de terreiros ao axé músic.
Essa variedade rítmica e de manifestações convergem pacificamente entre os músicos. Grande parte da categoria reconhece, valoriza essa convivência, mas diverge ao necessitar um olhar mais reflexivo, visualizando novos horizontes e os ideais instituídos em pleno século XXI. Para Chris Santana, vocalista da banda Sou Soul, por mais que façamos um trabalho distante do que é conceituado de Cultura Popular do Maranhão, jamais poderemos negar a originalidade, a identidade e o diferencial onipresente nessas raízes, nessas manifestações.
– Agora, isto não nos impede de trabalhar em sintonia com outras vertentes musicais que não atrapalham, mas adicionam, ajudam a enriquecer o cenário da diversão na cidade – destacou.
Moramos numa São Luís em que índios, negros, portugueses, holandeses, franceses e demais povos da face da Terra contribuíram para o seu desenvolvimento, fica difícil não compreendê-la como uma ilha cheia de peculiaridades e ao mesmo tempo cosmopolitana. No campo do entretenimento isto já pode ser observado com a receptividade do público, em diversas faixas etárias, que saem na noite em busca da tribo com a qual se identifica. Chris Santana acrescenta que a vida para ter sentido tem que ser diversa.
– A minha música é uma consequência dessa diversidade cultural em que eu vivo, do contrário, seria tudo muito homogêneo, chato. Enquanto houver a discordância, a concordância, a contrariedade, o denominador comum, o conflito, a paz, haverá sentido para a arte. Eu como artista necessito de todo esse coletivo para compor um trabalho singular e contribuir com os formadores de platéia na construção de uma sociedade plural -ressalta.
Essa pluralidade de manifestações e de entretenimento vivenciadas em São Luís também são alvos de questionamentos. Para o jornalista e músico Michael Mesquita, da Michaelboyzband, essa diversidade cultural não é considerada tão diversa assim, como algumas pessoas costumam anunciar.
– São Luís ainda se comporta de maneira provinciana. Aqui encontra-se de tudo e, desse tudo, muito pouco tem consistência. Pouca gente se identifica com o que faz, e muita gente faz com o que não se identifica. São Luís é para mim a capital da (A)d(i)Versidade Cultural – classifica.
Diversidade
Se o bom da vida é poder relativizar sem se posicionar como o dono de uma verdade absoluta, é sinal de que São Luís. embora singular e ao mesmo tempo plural , será sempre um tema para discussão, principalmente, quando se refere a cultura e diversão. Na opinião da estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Aiara Dália, sem dúvida. a diferença é que torna o ser humano ainda mais encantador. “Consigo encarar, com respeito, a diversidade cultural”, argumenta. Na contramão de qualquer polêmica, Aiara declara que gosta de conviver com o São João e o Carnaval do Maranhão.
– Gosto de ver o movimento durante essas festas. Dependendo da minha disposição, gosto de participar de eventos paralelos. E assim caminha a diversidade – brinca.
Quem também concorda com a diversidade cultural vicenciada em São Luís é Nyelson Weber, integrante da Tanatron, banda de Death Metal. Para ele, a diversidade existe, mas alerta para a necessidade das manifestações culturais serem democráticas e democratizadas.
– São Luis é uma cidade multicultural e tem uma riqueza de manifestações que a levaram a ser a capital da Cultura no País 2009, Capital Patrimônio da Humanidade. Isso deve ser motivo de orgulho para nós. (Nós) sociedade e Poder Público e iniciativa privada precisamos rever alguns conceitos ao se discutir o tema cultura no Estado. Alguns músicos conseguem transitar bem e utilizar com sucesso elementos da cultura popular. Outros não. Não pelo fato de ser do contra, ou por xenofobia. Tudo passa por uma vocação, adoção de uma linha de pensamento musical, que precisa ser vista, analisada, respeitada e incentivada como uma opção a mais no meio a tanta riqueza cultural que o Maranhão oferece – defendeu.
Se a História da Humanidade nos possibilitou a visita de vários povos que contribuíram com os nossos costumes, valores sociais, econômicos, político, gastronômico e na arte, cabe aqui definir e quebrar paradigmas de que a nossa identidade não é só maranhense, mas sim também com a miscigenação.
A matéria foi publicada no Suplemento Especialde 397 anos de São Luís do Jornal O Estado do Maranhão, edição do dia 08/09/2009 (terça-feira)