Rios, Pontes & Overdrives

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Chico Science nasceu no interior pernambucano. Inquieto e dono de uma criatividade singular, era muito ligado em diferentes batidas musicais, onde incorporava a linguagem do hip-hop a elementos do maracatu e ciranda as suas canções, contrapondo toda diversidade cultural de seu estado à biodiversidade do mangue.

Ele morreu de maneira trágica, deixando apenas dois álbuns ao lado da Nação Zumbi (Da Lama ao Caos e Afrociberdelia). Mesmo assim, ajudou a modificar a cultura pop no Brasil. Inquieto era uma palavra que o definia bem. Você olhava e ele estava sempre com uma expressão honesta, com os olhos arregalados, como ele diz em uma musica: ‘Fechando os olhos e mordendo os lábios, sinto vontade de fazer muita coisa’ [“Enquanto o Mundo Explode”].

O cantor era um garoto do subúrbio, que acabou encontrando uma maneira de atrair a atenção – na época, embora culturalmente rica, Recife era considerada umas das piores cidades para se viver. Nesse cenário, Science se tornou uma referência, se reinventando sem perder suas raízes.

Science conquistou seu espaço graças à originalidade na mistura de ritmos regionais. E se hoje a receita é considerada clássica, na época, com Da Lama ao Caos, era algo inovador.

Produzido por Liminha (Mutantes), o álbum abriu as portas para o movimento que ficou conhecido internacionalmente como manguebeat. Um movimento que para alguns é datado, eu costumo definir como atemporal. Você ouve e percebe que ainda não perdeu o frescor. Sempre irá soar a frente de seu tempo, contemporâneo.

Chico uniu a tradição cultural a suas necessidades de expressão. Questionava e propunha mudanças através de uma linguagem crítica. Algo que ele sempre dizia era ‘o futuro é agora’. Dizia isso e trabalhava em cima. Hoje, com ele, tudo seria ainda mais fora de espaço. Se assim a galera já ouve e entende, com Chico [presente] estaríamos dois, três degraus acima.

“Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar”. Já se passaram 15 anos desde a morte de Chico Science, ex-vocalista do grupo Nação Zumbi que morreu vítima de um acidente de carro em 2 de fevereiro de 1997, em Olinda (PE). Mas os caranguejos filhotes do manguebeat continuam andando soltos por aí.

Bandas como Mombojó, China, Otto, Lulina e Karina Buhr mantém a cena musical de Recife agitada 20 anos após a publicação do manifesto “Caranguejos com Cérebro”, escrito pelo jornalista Fred Zero Quatro, que tocou com Science no Nação e mantém o Mundo Livre S/A.

O Plugado deste domingo, (5/02), das 19h às 21h, na Mirante FM reverencia o mangue boy Chico Science e o movimento que revolucionou a cena música brasileira  na década de 90.

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Antene-se

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Já se passaram 15 anos desde a morte de Chico Science, ex-vocalista do grupo Nação Zumbi que morreu vítima de um acidente de carro em 2 de fevereiro de 1997. Mas os caranguejos filhotes do manguebeat continuam andando soltos por aí.

Bandas como Mombojó, China, Otto, Lulina e Karina Buhr mantém a cena musical de Recife agitada 20 anos após a publicação do manifesto “Caranguejos com Cérebro”, escrito pelo jornalista Fred Zero Quatro, que tocou com Science no Nação e mantém o Mundo Livre S/A.  E no Plugado deste domingo, (5/02), na Mirante FM especial com o mangue boy Science e o movimento que revolucionou a cena música brasileira na década de 90.

A Massa toda Canta

Para China, ex-Sheik Tosado e um dos filhotes do movimento, “era incrível ver um cara no palco que tinha meu sotaque, era do bairro vizinho e estava levantando aquela massa toda”, conta. “Chico nos deixou esse orgulho das nossas raízes, do nosso Estado e mais que isso: fez com que toda uma geração percebesse que viver de arte era viável no Brasil”.

A convite do UOL, Fred Zero Quatro reescreveu o “manifesto” – que surgiu primeiramente em formato de release para um projeto que o Nação e o Mundo Livre fariam juntos.

Rios, pontes e alfaias

Welcome to hellcife. Ex-venérea brasileira, que tempos atrás exportava em abundância uma madeira muitíssimo utilizada em toda a Europa na fabricação de arcos de violino. Na França chamavam de Pernambouc. Por aqui, Pau Brasil. Nos anos 90 do século passado, nosso parceiro Chico Science celebrizou outra espécie, a chamada Rizoflora, árvore predominante nos nossos manguezais. Depois disso, passamos a exportar alfaias, tambores característicos do maracatu, para todo o planeta – um produto com alta carga simbólica. Pode-se dizer que hoje, poucos são os estudantes de percussão que não tenham ou almejem ter em seu set uma alfaia fabricada em Pernambuco.

A vida é um game?

Vinte anos atrás, a zona do antigo porto do Recife, que era frequentada prioritariamente por prostitutas, cafetões, marinheiros e contrabandistas, foi de certa forma resgatada por uma nova espécie da fauna pernambucana, os Chamagnatus granulatus sapiens, ou caranguejos com cérebro.

Nos cabarés da vizinhança do marco zero, os chamados Cool Crabs passaram a produzir e a discotecar em festinhas underground. O bairro passou então a atrair a cobiça de empresários da noite, galeristas e, por fim, do poder público. Hoje um dos mais bem sucedidos setores de exportação do Recife, além da música e do carnaval, são os produtos gerados pelas centenas de micro e pequenas empresas de games e softwares instaladas ali perto, no Porto Digital.

Carnaval sem fim

As festinhas underground não acabaram. Mas os mangueboys são cada vez mais raros. Outras tribos predominam: indies, neofolks, e um híbrido celebrizado pela banda Eddie, a galera original olinda style. Quanto à massa, curte brega e pagode, mas também adora o carnaval multicultural. E a produção musical, herdeira ou não do manguebeat, tem se mostrado cada vez mais fecunda: só em 2011 foram lançados quase 200 discos, alguns com ótima repercussão nacional. O Nação Zumbi, quem viver verá, vai arrebatar mais uma vez o Brasil com o lançamento de seu segundo DVD ao vivo, em 2012.

Da lama aos neurotransmissores

Mas o universo mudou. Se antes os mangueboys se inspiravam na antipsiquiatria e na teoria do caos, hoje alguns deles se interessam pelo conceito de capitalismo linguístico; descobertas recentes no campo da neuroplasticidade; experimentos obscuros da Googleplex; estudos avançados sobre sinapses e redes neurais; a falácia do conceito de “cérebro out-board” e a relação entre o uso contínuo de multitarefas com distúrbios do hipocampo cerebral. Não por acaso, alguns de seus novos gurus são o escritor Nicholas Carr e os neurocientistas Jordan Grafman e Michael Merzenich, que após anos de experimentos vêm alertando que quando realizamos multitarefas online, estamos “treinando nosso cérebro para prestar atenção ao lixo”.

Parabólica revisitada

Quando os mangueboys imaginaram, duas décadas atrás, uma parabólica enfiada na lama, eles não o fizeram seguindo nenhum roteiro pré-estabelecido. E a reflexão que fazemos hoje se assemelha ao que preconiza N. Carr em “A geração artificial”: ainda alimentamos a esperança de que não chegaremos tão gentilmente ao futuro, como diz o escritor, “seguindo os scripts que os engenheiros da computação e os programadores de softwares estão escrevendo para nós”. Voltemos a ganhar a estrada, portanto. Canalizemos nosso desejo de interatividade para as ruas com empatia e tesão, pois, como diz um refrão do novo disco do Mundo Livre S/A, a vida é pra compartilhar…e gozar.

*escrito por Fred Zero Quatro

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