Foto 2 de 8 – Novos Baianos foi uma das bandas mais importantes da tropicália. “Filhos de João, o Admirável Mundo Novo Baiano” estreia dia 22 de julho Mais Divulgação
O espírito libertário e a criatividade musical – especialmente na mistura de ritmos brasileiros como frevo, baião e choro com o rock – foram a marca registrada dos Novos Baianos, uma das mais famosas bandas dos anos 1960-1970.
A memória do grupo, e também de uma época marcada por muitos enfrentamentos com a ditadura militar, ressurge no documentário “Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano”, de Henrique Dantas.
Vencedor do Prêmio do Júri e do Júri Popular do Festival de Brasília de 2009, o documentário estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Vitória, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre e Campinas.
Depois de um flerte inicial com o rock, visível em seu primeiro disco, “É Ferro na Boneca”(1970), o grupo vive uma guinada fundamental a partir do encontro com o compositor João Gilberto, então voltando de uma temporada nos EUA. Por causa desse contato, os jovens músicos redescobriram os ritmos brasileiros que entrariam na sua fórmula, mudando definitivamente seu rumo. Por isso, o documentário se chama “Filhos de João”.
Curiosamente, João Gilberto é a maior das grandes ausências do filme. Apesar de reiteradas tentativas, ao longo dos penosos 11 anos que levou para finalizar a produção, o cineasta Henrique Dantas não conseguiu ouvir o compositor, mais uma vez honrando sua fama de difícil.
TRAILER DO FILME “FILHOS DE JOÃO, O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO BAIANO”
Falta ao filme, igualmente, uma entrevista com a única mulher do grupo, Baby Consuelo, vista apenas em imagens de arquivo. Mas aí a razão foi bem diferente. Baby foi entrevistada por Dantas e sua participação figurava na versão editada do filme até o momento em que a cantora fez exigências financeiras incompatíveis com o pequeno orçamento do diretor.
Outros integrantes foram bem mais generosos, caso de Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Galvão, Gato Félix, Bola Moraes, Paulinho Boca de Cantor e Charles Negrita, todos dando depoimentos longos e saborosos, permitindo reconstituir a trajetória da banda. Observações certeiras surgem, igualmente, das conversas com Tom Zé e Dadi, ex-integrante do grupo.
Entre as imagens de arquivo, algumas das mais curiosas foram filmadas em super-8, acompanhando o período em que o grupo viveu junto numa comunidade no interior carioca. Na época, lembram os integrantes, eles guardavam todo o dinheiro ganho nos shows sem contar, numa sacola, de onde quem precisava se servia.
Uma parcela razoável desse dinheiro foi gasta na aquisição de uniformes e bolas de futebol, já que vários integrantes dedicavam-se diariamente ao esporte — com direito a partidas com a participação de profissionais como o tricampeão de 1970 Jairzinho. Moraes Moreira conta no filme que passou pela cabeça de alguns dos músicos inclusive largar tudo pelo futebol.
Desse rico painel evocado pelo documentário, visualiza-se uma época em que fica evidente a influência hippie, nesse viés libertário do comportamento da banda, o que lhe valeu não poucos problemas com as autoridades vigentes, em plena ditadura. E clareia-se, igualmente, a vibrante criatividade de vários integrantes dos Novos Baianos que, apesar de separados por problemas internos em 1974, continuam individualmente carreiras de expressão.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)