Gerô continua morrendo

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Um Gerô morreu, assassinado pela Polícia Militar do Estado, em 22 de março de 2007. Outros Gerôs continuam a ser mortos pelas periferias das cidades, inclusive, em nosso Estado. É de se perguntar, então, qual a causa dessa mortandade ? Na origem, a escravidão, mal maior da história do Brasil.

Não se faz impune três séculos de escravidão. A dicotomia Casa Grande e Senzala continua. No contínuo dizer de Mino Carta, a escravidão marcou profundamente o caráter da sociedade brasileira. Da Casa Grande, extraem-se os privilegiados. Aqueles que nascem condenados à impunidade. Por origem ou por pertencerem as organizações públicas, à Polícia, por exemplo, que embranquece negros.

Do outro, nós, que existimos e não-existimos ao mesmo tempo. Se se tratar de cotas raciais para ingresso em Universidades Públicas, todos ou boa parte se coloca contrário, pois, basta melhorar o sistema educacional e todos terão condições de acessar ao ensino superior. Mas, se o caso for de embate com a Polícia, Justiça, essas instituições não têm dúvida de “decidir quem é quem”.

A vida e o inefável cotidiano mostram dia a dia essas certezas. Fato: 21 de novembro de 2010, Salvador, bairro da Amaralina, a Polícia mata garoto de 10 anos. Os policiais envolvidos foram “severamente punidos”, deixaram de fazer serviços externos. Na Paraíba, morrem 1.083% (doze vezes) mais negros do que brancos. A ministra Luiza Bairros explica com propriedade a causa desses números: “os policiais aprendem a caçar negros”.

Estudos mostram que a imagem utilizada para compor o criminoso é centrado na pessoa negra. Mora na periferia (senzala), pele negra e, por dedução, é marginal. Aqui, referimo-nos ao racismo institucional, que de resto molda o comportamento das corporações militares, no caso, sem as exceções de praxe.

Morreu Gerô. Alguns de nós ainda lutam na esteira da resistência cultural. Esquecem o que diz o Rappa que em todo camburão, tem um pouco de navio negreiro e, complementa o Marcelo D2: resistência cultural é casa do “baralho”.

Para que deixem de morrer GERÔS precisamos lutar pelo Poder Político. Dito de outra forma: “precisamos conquistar a consciência da cidadania, que há de ser o objetivo decisivo”, como diz o Mino Carta.

Texto de Carlos Antonio Sousa, negro e advogado

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