Eu sou o trânsito…

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O Brasil está diante de mais uma barbárie, sem precedentes, provocada por mais um psicopata que é notícia nessa imensa onda de violência deflagrada aqui, acolá, em qualquer lugar. Fiquei chocado com as cenas mostradas pela TV em que um homem identificado Ricardo José Neif utilizou o seu Golf preto como uma arma atirando-o contra os ciclistas do “Massa Crítica”.

Pra quem não sabe, nas sexta-feiras, diversos ciclistas, incluindo crianças, jovens e idosos, se reúnem e seguem um roteiro por algumas ruas de Porto Alegre. Eles formam um grupo, mas na verdade juntam mais de 100 pessoas que não são parte de nenhum movimento organizado – ou pelo menos um movimento que os una. Eles se juntam porque têm uma motivação em comum: usam bicicleta como meio de transporte e querem que esse seu direito seja respeitado.

A maior prova de que esse direito não é respeitado aconteceu, na última sexta-feira (25), com a “Massa Crítica”, como é chamada a manifestação. Um homem identificado como Ricardo José Neif  não gostou de se sentir atrapalhado no trânsito, e principalmente, por um grupo de ciclistas e por não considerar a bicicleta como um meio de transporte, resolveu agir com agressividade e desequílibro emocional.

Não se tem certeza sobre o que ele pensa ou deixa de pensar, A única coisa é que esse cara irresponsável, maluco, dependente de um carro para viver, passou do limite do que uma pessoa pode fazer numa situação de stress. Ele passou por cima. Ponto.  Ali não importava se era criança, jovem ou idoso. Foi uma reação em cadeia. Me coloco (euzinho) na cabeça do motorista/quase assassino, e chego a conclusão errada que bicicleta não é meio de transporte e lugar de pedestre é somente na calçada.

É bom que se diga essa é uma mentalidade que tem predominado em alguns segmentos da sociedade brasileira, que ainda vivem culturalmente de maneira primitiva, privilegiando o abuso de Poder e a impunidade como uma manifestação politicamente correta, deixando de lado a harmonia social, o respeito ao outro, configurado como uma virtude de todos. È lamentável se perceber a todo instante que o cultural na cabeça de alguns mortais é comprar um carrão importado ou não, de última geração ou não, e sair por aí blasfemando em tom arrogante: “a rua é minha e daqui ninguém me tira”.

No que diz respeito ao que aconteceu em Porto Alegre exacerba a legislação do trânsito. O quadro é preocupante, pois não foi uma infração. Foi intencional, uma tentativa de homicídio e coletivo. Mas, o infrator é rico e em depoimento relatou que agiu em legítima defesa e para não morrer utilizou a sua única arma: o Golf preto.

Na internet, algumas distorções sobre o acontecimento. Por exemplo, uma das coisas que a policia começa a dizer é que os ciclistas não avisaram os órgãos oficiais sobre o evento. E que a falta deste aviso torna a Massa Crítica irregular. Segundo os idealizadores do passeio ciclístico, não é um evento que tem que ser avisado. Eles dizem que a manifestação tem como objetivo buscar a conscientização dos motoristas sem que estes precisem de aparato repressor para compreenderem do direito deles estarem ali.
 
Se uma pessoa que dirige um carro não respeita uma ou mais pessoas que estão de bicicleta e precisa de policia ou fiscalização para respeitar, isso caracteriza que ela precisa ser supervisionada, repreendida para agir com educação e respeito. A ideia é a de que motoristas e ciclistas compartilhem o transito.

É importante que o absurdo de ontem traga um questionamento, que repercuta, que incentive uma consciência crítica sobre os valores da nossa sociedade de consumo, em que o dono do carro se acha o dono da rua porque tem dinheiro. Se as autoridades competentes vão fazer alguma coisa  deconcreta não se sabe. Agora, não se deve calar, mas sim cobrar das autoridades punição severa a quem merece.

Como integrante de uma massa crítica e longe de pertencer ao admirável gado novo, o que me resta é viver a utopia ou viajar para Pasárgada, pois lá não tem trânsito…

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