Boca do Lixo

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Não escondo que me tornei um admirável fã dos textos escritos por Silvana Duailibe. O “Lixo e o Chorume”, o último post na internet feito por ela, me serviu de fonte de inspiração para pegar carona e comentar sobre os “lixões e os catadores” ou politicamente correto, os “aterros sanitários e os catadores de material reciclável” espalhados por esse imenso Brasil.

Antes, não posso esquecer que sou uma pessoa que produz muito lixo. E como defensor árduo da cidadania procuro recolher e guardá-lo em lugar apropriado. É feio espalhar lixo em qualquer lugar. Mas, jogando ou não na lixeira [essa última atitude são dos insconscientes e mal educados], a imensa sujeira produzida na zona rural e urbana tem como fim o aterro sanitário. Sorte nossa é que existem os catadores. Gente, que passa batida aos nossos olhos. E quando o observamos é com o olhar de discriminação e de degradação humana.

Assistindo a um programa de TV em que o tema era o documentário “Lixo Extraordinário”, me fez refletir sobre o lixo espalhado dentro e fora de nossas vidas. E logo me veio a cabeça o lixo da ignorância, da omissão e do preconceito. E como lixo para mim não significa trocar a dignidade humana pela vaidade, procurei entender a vida desses trabalhadores que o sistema precisa valorizar e oferecer condições para que eles possam viver como cidadãos.

Como ainda não perdi a fé por acreditar que em algum lugar do planeta tem gente contribuindo, não para mudar o mundo, mas para aliviar a dor de pessoas que são excluídas por falta de oportunidades, mesmo que alguns entendam que aquele voluntariado(a)  venha a ser um aproveitador que usa como trampolim a miséria alheia.

Lixo Extraordinário

Como é prazeroso saber que catadores de lixo brasileiro [com todo respeito] podem dividir o palco do Oscar com gente como Brad Pitt e Johnny Depp no final de fevereiro, depois de estrelarem um documentário sobre o poder transformador da arte.

Em “Lixo Extraordinário”, indicado ao Oscar de melhor documentário, retrata o dia-a-dia de Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, presidente da Associação dos Catadores de Lixo do Jardim Gramacho,  em Duque de Caxias, e um grupo de outros trabalhadores, no maior aterro sanitário da América Latina. Eles tornam-se fontes de inspiração do artista plástico Vik Muniz, que lança uma luz sobre uma atividade que a sociedade prefere ignorar.

Usando fotos ampliadas deles mesmos e do próprio lixo que vasculham todos os dias em busca de objetos recicláveis, Santos e seus colegas ajudam Muniz a criar obras de arte belíssimas que são compradas por colecionadores internacionais por milhares de dólares.

Conhecido por seu apelido, Tião, o catador acaba viajando com Muniz para uma importante casa de leilões em Londres e cede às lágrimas quando uma foto, baseada em sua pose numa banheira descartada, é arrematada por 28 mil libras (45 mil dólares).

Para Tião, que começou a ajudar sua família a catar lixo no aterro do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), quando tinha apenas 11 anos, estar em Hollywood, não parece real para ele e os demais protagonistas do filme. Lembra um pouco a historinha de Cinderela. E quando o relógio bater a meia-noite, eles perdem os sapatos, o encanto da fada madrinha acaba, e o mundo volta para onde estava. Com certeza, Tião o mundo pra você e os parceiros nunca mais será como antes.

As pessoas, que vêem o lixo e os catadores como algo insignificante e invisível, serão obrigados a perceber o filme. Ele mostra o quanto vocês são batalhadores e sustentam as suas famílias honestamente. Talvez, uma coisa que ainda falta é o reconhecimento e uma política governamental convincente para valorização da profissão.

Quanto ao “Lixo Extraordinário”, dirigido pela britânica Lucy Walker  e Karen Harley,  (“Waste Land” em inglês), com codireção brasileira João Jardim, mesmo que não conquiste a estatueta no Oscar, já tem um lugar garantido na galeria da sétima arte e de Hollywood. Além de dar um brilho a mais no cinema nacional, pois valoriza pessoas reais, que acabam tendo a possibilidade de ver um pequeno fio de esperança aonde se agarrar, além de reacender questionamentos sobre a importância dos aterros sanitários e dos catadores de material reciclável em um Brasil ainda tão preconceituoso com essa matéria.

5 comentários para "Boca do Lixo"


  1. Manoela

    Bravo! Antes de aprendermos a fazer coleta seletiva e reciclagem ,precisamos aprender a colocar o lixo no lixo. Precisamos de lixeiras suficientes nas ruas.

  2. Paulo José

    Certamente que a sujeira da cidade que amamos passa pela falta de educação de seus habitrantes, que, vez por outra, aqui, acolá; num canto ou noutro, e já parafraseando Pero Vaz de Caminha, "despem-se de suas vestes e de suas vergonhass", e sem dó nem piedade, jogam plásticos, latas de cerveja e refrigerante, papéis, sendo que alguns, até mais audazes, urinam nos logradouros públicos, infestando-os de mau-cheiro.
    Esse trabalho de consicentização é permanente.
    Tal como a lavagem da Fonte do Ribeiroão, sugiro a você que seja realizada uma mega-coleta de lixo na nossa cidade, que tal ?
    Abraços,

    Paulo

  3. Zeca Maranhao

    Torci demais para que esse documentário não ganhasse. Chega de mostrar só imagens deprimentes do Brasil no exterior. Moro nos Eua e todo filme brasileiro que chega aqui, principalmente os que se propõe a concorrer ao Oscar sao deprimentes. A imagem que esses filmes passam do Brasil no exterior é que o Brasil é um grande lixão, um grande favelão e que todos que não são traficantes de drogas são miseráveis que catam lixo pra sobreviver. Por conta disso temos a imagem pior que a do Haiti. Tento mostrar o que temos de bom mas nao adianta eu sou sozinho contra a indústria cinematográfica do Brasil que tem por intuito claro mostrar ao mundo que somos miseráveis e vivemos com um fuzil AR15 nas costas. Nao é atoa que das centenas de publicaçoes turísticas que saem nos EUA o Brasil nao é sequer mencionado e o turista americano diz que só arrisca ir até Cancun no México abaixo disso é suicídio. Tudo por conta de produçoes como esta.
    Olha só os filmes nojentos que tentaram convencer o americano que somos a escória do mundo pra conseguir ganhar um Oscar: Pixote, Cidade de Deus, Tropa de elite, Os filhos de Francisco e assim vai. Cada um mostrando uma imagem do Brasil pior que o outro.

    • pedro sobrinho

      Zeca concordo com vc. em parte. Lógico, que não devemos exportar somente a miséria existente no Brasil. Infelizmente, algumas pessoas vivem uma realidade dura e que é preciso chamar atenção do mundo e arte é uma ferramenta importante no processo. Um outro ponto positivo é a inserção de pessoas que são tratadas como um lixo. De repente você observa que essas pessoas têm valor. Quem olhou Tião em Hollywood, qual a diferença deles para quem tem uma história de ‘glamour’ eterno, só olham a beleza nas coisas e vêem o mundo com otimismo, existe o feio também. Mesmo que o momento de Tião, da Cidade de Deus, Pixote, Madame Satã, seja apenas de Cinderella, vale a pena se perceber que só a arte salva…

  4. zeca maranhao

    Pedro,

    Entendo seu ponto de vista, mas será que o Brasil somente a miséria vale a pena ser mostrada? não temos nada de bom, belo e positivo para passar para o mundo? Esse argumento de estar denunciando miséria me parece tão anos 70. Nao queiram estar na minha pele, morar no exterior e tentar provar que nao somos isso aí. Infelizmente nunca vi um um filme brasileiro tentando ganhar o Oscar que nao seja apelando para a miséria, a violência. Sou nascido e criado em SL nunca vi um fuzil, nunca sequer vi cocaína, nunca vi macacos nas ruas, nunca vi uma cobra a nao ser quando visitei o museu em Belém. Mas a imagem nossa no exterior é que andamos com um fuzil e um macaco nas costas.
    Parece contraditório um apaixonado pelo Brasil como eu, torcendo ardentemente contra ele no Oscar. Enquanto nao pararem com essa baixa autoestima dos brasileiros que com isso tentam agradar americanos, vou continuar torcendo contra.
    Um abraço, amigo.
    Zeca Maranhao
    (escritor)

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