Um amigo carioca mandou me avisar que curtiu no prolongado feriado de Corpus Christi a um festival de jazz paradísiaco, ou seja, no Rio das Ostras, pequena cidade litorânea do Estado do Rio de Janeiro, com pouco mais de 60 mil habitantes, muito próxima da charmosinha Casimiro de Abreu, a “Terra do Poeta”, um santuário turístico que tive o privilégio de conhecer.
Uma amiga do meu amigo, paranaense e arquiteta, foi ao festival e não imaginava que lá, neste minúsculo município brasileiro, milhares de pessoas, trajando confortáveis bermudas e chinelos, caminhavam equipadas com cadeirinhas de praia em direção a um enorme terreno batizado como ‘Cidade do Jazz’.
Durante cinco dias, entre quarta-feira (06/6) e domingo (10/6), um grupo de aproximadamente 25 mil pessoas (por dia), segundo informações do Corpo de Bombeiros, aproveitou gratuitamente espetáculos que um cidadão de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro precisaria desembolsar mais de R$ 100,00 por ingresso.
Ter conhecimento prévio das atrações não parecia ser prioridade. Raramente era possível encontrar alguém que soubesse o nome dos músicos ou das bandas.
“É americana?”, perguntou a amiga arquiteta do meu amigo jornalista, referindo-se ao quarteto de jazz-groove Soulive, que se apresentou na noite de sexta-feira. “Sim”, respondeu o amigo. “Mas é boa?”, indagou mais uma vez. “Pessoalmente, gosto bastante”. Sem demora, a amiga arquiteta emendou: “Quero só ver, vou cobrar depois!”
Sim, a arquiteta aprovou o som da banda. Fez o sinal de ‘jóia’ com o polegar enquanto dançava. Mas toda a platéia parecia contagiada, seja durante as audições de um jazz mais conceitual executado pelo vibrafonista Stefon Harris ou pelo blues caricato do guitarrista Roy Rogers, pela percussão universal do pernambucano Naná Vasconcelos, do duo Luciana Souza e Romero Lubambo, ou pelo “Free Jazz” do saxofonista Ravi Coltrane (foto), herdeiro do mestre John Coltrane. As pessoas aplaudiram, vibraram e abraçaram um evento que pode não fazer parte do ideário cultural dos habitantes de Rio das Ostras, mas aos poucos vai enchendo de orgulho alguns moradores que não têm cerimônia para afirmar que o município é agora mais um “Templo do Jazz no Brasil”.