O carioca Jefferson Gonçalves começou a carreira no início da década de 1990, seguindo por um caminho comum a muitos gaitistas: o blues. Logo, trocou a profissão de bancário pela de músico. Fundou a banda Baseado em Blues e o trio acústico Blues Etc. Gravou com artistas de diferentes gêneros e se consolidou como um dos mais completos nomes da gaita no País – inclusive representando o Brasil em encontros internacionais, como o da Sociedade para a Preservação e Avanço da Harmônica (SPAH, em 1998, em Detroit (EUA).
No entanto, o blues não foi fator limitante para Jefferson. O gaitista identificou traços muito semelhantes entre a música negra norte-americana e a do Nordeste brasileiro, baseada nos ritmos de forró, como o baião, o xaxado e o xote. E essa percepção alargou-lhe os horizontes. Dedicou-se, então, a estudar os representantes mais significativos da arte nordestina. Descobriu o maracatu e o samba rural e, como conseqüência natural, incorporou esses elementos ao seu primeiro CD solo, “Gréia” (2004).
A mistura foi bem recebida por críticos e público. “Gréia” põe no mesmo balaio a criatividade de Bob Dylan e de Luiz Gonzaga, o balanço de Jackson do Pandeiro e de Ray Charles. Tudo é música,
È com a experiência adquirida em centenas de shows, gravações e workshops, que Jefferson Gonçalves foi convidado para participar da primeira edição do Lençóis Jazz Blues Festival, que ocorrerá neste sábado (10) e domingo (11), em Barreirinhas. O músico se apresenta na segunda noite encerrando o evento. Em bate papo com o imirante, o gaitista carioca elogiou o maranhense Júnior Gaiato e adiantou que vai trabalhar com os músicos e os ritmos maranhenses para inclusão no próximo álbum do bluesman.
Blog: Como é misturar música brasileira com blues ?
Pedro Sobrinho: Na minha opinião essa mistura é muito natural, pois tanto a música regional do Brasil quanto o blues vem da mesma raiz que é a África, ou seja, tudo é música negra. A história das lavadeiras de beira de rio e dos colhedores de algodão do Mississipi são a mesma coisa, lamentos, work songs, ou seja, eles cantam o dia dia deles a realidade deles, isso é cultural, isso foi herdado do negros africanos.
Sempre brinco com isso falando que tinham duas embarcações saindo com escravos da África, uma veio para o Brasil e outra para os Estados Unidos. Cada um pegou um pouco da cultura local, mas a essência é do pais de origem, África.
Blog; Você sempre diz que tem gente fazendo música brasileira melhor do que você.
Na harmônica, quem você recomenda?
Pedro Sobrinho: Com certeza, não me considero gaitista de música brasileira, faço um som que mistura tudo, pois escuto de tudo em casa de Luiz Gonzaga á Little Walter e isso se reflete no meu som.
Na música brasileira eu admiro os grandes mestres: Mauricio Einhorn, Rildo Hora, Jehováh da Gaita, José Staneck, Ronald Silva. E da nova geração: Gabriel Grossi, Pablo Fagundes, Júlio Regô e Otávio Castro.
Blog: E no blues?
Pedro Sobrinho: Flávio Guimarães, Rodrigo Eberienos, Robson Fernandes e Big Chico.
Na verdade tem tanta gente boa tocando gaita em vários contextos que fica difícil dizer quem é bom ou não, cada dia conheço alguem novo tocando muito.
Aqui no Maranhão tem o Junior Gaiato que toca pop com o Seu Jorge. Ele toca muito bem e faz um bom trabalho com o Seu Jorge.
Blog: Você também já passou por São Luís. Tem um público cativo. Como é marcar presença no Festival de Jazz e Blues em Barreirinhas, uma cidade distante da capital maranhense, mas com um forte apelo turístico ecológico ?
Pedro Sobrinho: Acho isso o máximo, pois tiro como exemplo o festival de Guaramiranga no Ceará. Ele começou tímido, em uma serra pouco conhecida, e já está na décima primeira edição, já passaram por lá grandes músicos de vários estilos. No ceará tem ainda o Canoa Blues em Canoa Quebrada
No Rio de Janeiro tem o festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras que também está entre os melhores do mundo. Em Pernambuco tem o Oi Blues by Nigth e o festival de Jazz e blues de Garanhuns,
Com certeza o festival de Barreirinhas está tirando como exemplo esses e outros festivais que acontecem pelo Brasil> Acredito que esse é o primeiro passo para o sucesso e garanto que ele vai entrar para o calendário dos grandes festivais de jazz e blues do Brasil.
Blog; Projetos futuro?
Pedro Sobrinho: Continuo com minhas pesquisas. Já estou gravando algumas coisas e agora estou descobrindo os ritmos do Maranhão. Pelo que já escutei o estado tem um ritmo muito próximo dos ritmos africanos. Estou com idéia de gravar algumas músicas para o meu próximo CD com esses ritmos maranhenses. Vou aproveitar essa passagem por aqui para trabalhar o projeto.
Para isso, vou ter o privilégio de ter a participação de três grandes músicos locais, São eles, Edson Travassos, Samir Aranha e Oliveira Neto que estão me acompanhando nos shows. Depois vamos para o estúdio gravar algo algumas músicas que vão entrar no meu próximo cd com certeza.