Paris: do rap à Ópera

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brancadeneve.jpgA revista IstoÉ traz uma reportagem sobre o Ano da França no Brasil 2009. Um dos maiores centros irradiadores de cultura do mundo, Paris será aqui, a partir do dia 21 de abril, quando será aberto oficialmente o Ano da França no Brasil, apelidado informalmente de Ano da França.Br 2009. Até o dia 15 de novembro a organização do gigantesco festival espera que 500 atrações, grande parte vinda da França, aconteçam em diversas capitais brasileiras. Desse número, 300 são exclusivamente culturais.

Num cálculo simples, daria mais de um evento diferente por dia durante oito meses. Na verdade, os comissariados francês e brasileiro (esse é o nome dado aos responsáveis pela programação) aprovaram 645 projetos apresentados por produtores culturais dos dois países. Nesse meio tempo, veio a crise, uma palavra que é a mesma em português e em francês.

Novidade

Como franceses detestam o lugar-comum, procuraram evitar especialmente aquele que diz respeito a uma cultura de forte tradição. Segundo a comissária francesa Anne Louyot, “a França será apresentada no Brasil de maneira contemporânea, que foge um pouco do clichê do país antigo, com monumentos e clássicos”

Assim, em vez de trazer Charles Aznavour, Richard Clayderman, ou um texto como Bérénice, de Racine, atualmente em cartaz na Comédie-Française (duas conhecidas instituições nacionais), preferiu-se, por exemplo, investir em autores mais recentes, como Bernard Marie Koltès, cujo texto Le retour au désert ganhará montagem itinerante pelos CCBB de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Ou, então, abrir espaço para uma grande variedade de grupos de teatro de rua, grupos de rap, da música “multicultural” e “contemporânea” africana, entre outras linguagens artísticas atuais.

Aprovado

O comissário brasileiro Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, participou ativamente da escolha dos projetos e confirma essa vontade de comunicação com o público: “O que se verá é uma França que hoje vai do rap à ópera.” Segundo Miranda, as despesas estão sendo divididas meio a meio entre o governo e empresas dos dois países, com um orçamento total variando entre R$ 85 milhões e R$ 100 milhões.

De todas as cifras, a de público é a que tem recebido mais atenção. A ideia é bater os 15 milhões de espectadores do Ano do Brasil na França, em 2005. Para tanto, a abertura oficial está a cargo do super-requisitado Groupe F, coletivo que mistura pirotecnia, música e espetáculo de luzes de forma monumental, como ficou provado na abertura da Olimpíada de Atenas, em 2004.

Só para esse espetáculo está previsto um público de 1,5 milhão de pessoas. Nesse sentido, a tentativa de um diálogo entre as duas culturas se reforça. Um dos pontos de contato levado em consideração pelos programadores foi a mistura étnica dos dois países, tendo a cultura africana como denominador comum.

Mistura

– A França é um país multirracial e como o Brasil tem uma relação forte com a África, embora por razões diferentes”, diz Anne. Portanto, não deve ser vista com surpresa a escolha de músicos como o senegalês Yossou N’Dour e o malinês Salif Keita, nem a seleção de uma mostra de cinema africano dos países francófonos.

Essa atitude receptiva à contribuição das ex-colônias acaba por ser ela mesma um traço cultural, como ressalta Anne: “Somos um país quase tão miscigenado quanto o Brasil, um lugar de encontro de povos e culturas.” E de artistas vindos de todos os cantos do planeta. Basta lembrar a atração que Paris sempre exerceu sobre pintores, escritores e cineastas do mundo inteiro, que produziram na França o melhor de sua obra.

A lista é imensa e engloba nomes como o espanhol Pablo Picasso, o russo Marc Chagall, o franco-suíço Jean-Luc Godard e o irlandês Samuel Beckett, todos contemplados pelo Ano. Um bom exemplo dessa postura cosmopolita é a montagem da peça Quartet: o texto é de um alemão (Heiner Muller) e a direção, de um americano (Bob Wilson), o que coloca em xeque o velho conceito de cultura nacional.

– Faz parte da tradição da França acolher as culturas, misturá-las e enriquecer-se delas. Isso alimenta sua modernidade”, diz Anne. “Não foi à toa que foi o país que mais defendeu, com o apoio precioso do Brasil, o tratado da Unesco sobre a diversidade cultural.” Essa diversidade é uma das bandeiras do Ano da França no Brasil.

Ilha do Francês

Portanto, São Luís, a única capital brasileira fundada pelos franceses, não fiquemos apenas com o ‘rótulo’ e a ‘propaganda’ pelos quatro cantos do estado de que “o Ano da França do Brasil também é aqui”. Se realmente fazemos parte do ‘cast’ do Ano da França no Brasil, vamos se preparar para festa. Temos que entender a simbologia da diversidade cultural, do hibridismo cultural. Lógico, não podemos perder de vista a nossa identidade. Precisamos apenas ter um olhar voltado para uma ‘Paris dos novos tempos’.

Senão, ficaremos a ver navios e à margem de uma programação para se comemorar com o mais delicioso dos clichês franceses: o champanhe.

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