Nos últimos tempos, o rap feminino mostrou sua força com nomes como Flora Matos, Karol Conka e Lurdez da Luz. Agora, chegou a vez de Tássia Reis, de Jacareí, interior de São Paulo.
Ouça Tássia Reis
Como apresentaria a si mesmo para alguém que gosta de música brasileira alternativa, mas que ainda não te conhece?
É engraçado essa coisa de falar de si mesmo, mas eu sempre me apresento às pessoas nos meus shows e explico porque eu estou ali, acho isso importante, pedir licença, um pouco da atenção das pessoas para apresentar meu trabalho. Eu sempre falo que faço música como se estivesse fazendo um jantar para servir pessoas queridas, e a base desse processo é o rap, mas eu uso vários temperos, tem soul, tem jazz, tem samba, tem original funk, R&B, afrobeat. E eu preparo com toda minha verdade. É a minha miscelânea louca (risos).
Quem são seus heróis musicais?
Eu tenho heróis na música, sim, e geralmente são aquelas pessoas que fazem música com coração mesmo, aqueles que conseguem arrepiar a gente, sabe? O Brasil é muito rico, musicalmente, tem muita gente que me desperta isso. Clara Nunes é uma heroína pra mim, Belchior é com certeza um dos meus ídolos. Djavan, Milton Nascimento, Lauryn Hill, Erykah Badu, Ray Charles e Paulinho da Viola marcam momentos na minha vida também. Acho que para listar de A a Z eu precisaria de muito mais tempo pra não deixar nenhum de fora.
Que outros nomes da nova cena vocês gosta e indica?
Tem aquelas pessoas que estão na caminhada há um tempo, mas que o grande público ainda não conhece, e eu disse ainda (risos). São parceiros de música, pessoas que estão na caminhada procurando espaço, que são sobretudo originais e eu gosto da personalidade. Sã & Kibão, D’origem, Mental Abstrato, Valente de São Paulo, no Rio tem uma galera da produtora com a qual eu sou associada, a Mais Um Sanatório, que é do rapper Xará, sou muito fã dele, ele é um dos responsáveis pelo projeto do meu disco, estamos trabalhando nisso, tem também o Tiago Mac, meu colega de produtora, vai sair um som nosso junto. Enfim, eu tenho a satisfação de realizar projetos com músicos que eu gosto de escutar e que eu super indico.
Que aspectos vê como recorrentes entre esses nomes, um zeitgeist, o espírito do tempo, do momento?
Acho que a palavra que é comum entre essas pessoas é originalidade. São pessoas que fazem suas respectivas músicas, baseadas nas suas experiências, com as suas referências, geralmente são referências lá de trás e isso traz uma segurança na música que eles fazem, aquela sensação de que estão acreditando nas suas verdades, é como faço minha música, então eu me vejo entre essas pessoas.
Crê que a música brasileira estejam em processo de fusão com outros gêneros? O que a música tem a ganhar com esse diálogo?
Na verdade, eu acredito que a música brasileira assim como o povo brasileiro é resultado de fusões. Acredito que toda integração seja bem vinda, desde que seja respeitada a raíz, sabe? Não acredito em fusões de resultados, fico um pouco espantada com pessoas que procuram atalhos, na música tem muito disso.
É como diz o samba “Tá legal, eu aceito o argumento, mas não altere o samba tanto assim”. É por aí (risos)…
O que considera o melhor na tradição do hip hop?
A melhor tradição do hip hop é conseguir aliar o conhecimento com o entretenimento e as amizades que giram em torno disso. Quando conheci esse estilo de vida, me encontrei em todos os sentidos . Posso dizer que o Hip Hop salvou a minha vida, não que eu me tornaria uma ladra, ou uma pessoa sem caráter se não o conhecesse, mas digo pela autoestima, pelo conhecimento, pelas escolhas que mostrou que eu poderia fazer e pela luta pela igualdade! Devo isso ao hip hop.
E o que considera que será o hip hop do futuro?
Acho que o futuro do hip hop é uma coisa, e o hip hop do futuro é outra história. O Hip Hop do futuro é como se estivéssemos falando sobre o que a gente idealiza, e eu espero que a gente continue crescendo, ocupando espaços, abrindo portas, quebrando barreiras, sem esquecer o amor que nos move que é o combustível de tudo. Agora, o futuro do Hip Hop vai depender da integração entre as pessoas que já fazem parte da cultura, para fortalecermos e, consequentemente, apresentarmos com solidez o nosso mundo. Pra que não seja superficial nosso envolvimento, já que estamos por toda parte, TV, rádio, novelas, muros, museus, teatros, e ainda , muitas pessoas não entenderam a nossa real significância.
Que seja em nome da paz, do amor, da união, da diversão e do conhecimento, foi assim que me ensinaram (risos).
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