Fórum: do carimbó ao tecnobrega

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Todos ritmos foram ouvidos no Fórum Social Mundial, que acabou neste domingo. E as costumeiras músicas de protesto que acompanham o evento, que reúne a esquerda mundial, indo de Mercedes Sosa a Bob Dylan e Bob Marley, ganharam até um reforço local.
 
“Não, Soja na Amazônia, Eu Digo Não/Nós Combatemos a Destruição” é o refrão da música que Marcos Tupiniquim cantava no campus que sediou simpósios. “Você pode denunciar a realidade em qualquer ritmo. Usei o carimbo [música de forte influência caribenha] porque é mais próximo do povo daqui”, argumentou o artista local, vendendo seus CDs por lá.

A programação musical do Fórum foi intensa, recebendo desde artistas engajados como as argentinas do Actitud María Marta e o rapper brasileiro Gog até artistas do mainstream como Jorge Ben Jor e Seu Jorge. Mas no meio da agenda entrou também o tecnobrega, fenômeno cultural do Pará que é apresentado como exemplo de economia alternativa à grande indústria fonográfica.

Aparelhagem

As “aparelhagens” dos grupos Rubi, Príncipe Negro e Superpop mostraram suas parafernálias eletrônicas no centro de convenções Hangar, que no dia seguinte recebeu Lula, Hugo Chávez, Evo Morales e mais dois presidentes sul-americanos.

Foi um cenário nobre para uma música que ficou proibida desde 20 de janeiro em seis bairros periféricos de Belém. Por determinação do governo estadual da petista Ana Julia Carepa, essas regiões não poderiam ter festas tecnobrega porque seriam focos de tumultos durante o evento que divulgaria a capital paraense para o mundo.

A restrição cita especificamente as festas de “aparelhagens”, apelido de equipes que tocam em geral tecnobrega (mistura do antigo brega com elementos eletrônicos) em grandes sistemas de som.

A cena musical, uma invenção paraense, atraiu o interesse de acadêmicos, que veem nas “aparelhagens” um modelo de produção inovador, em que o artista “pirateia” seu próprio trabalho, distribui as músicas gratuitamente a camelôs e ganha dinheiro com gigantescos shows, e não com os direitos autorais. Durante o Fórum, por exemplo, foram lançados um documentário e um livro sobre o fenômeno musical.

A Festa

As festas de tecnobrega acontece em área do subúrbio de Belém. Os clubes lotados e o público cooptado por versões locais de músicas de ídolos gringos como Britney Spears, Paul McCartney e Rihanna. E mais,  letras melodramáticas em português e base rítmica amazônica. Alguns estudantes visitantes no Fórum se arriscaram nesses bailes, mas a frequência era mesmo de adeptos locais.

Outro ponto alto é o remix de “São Amores”, sucesso do grupo Aviões do Forró. O público com as mãos finge que tem um revólver na mão e atira em direção do DJ gritando “bang-bang-bang” entre o refrão que diz “amores que matam”. Foi o único gesto de violência por lá.

“Os policiais dizem que o bandido rouba e depois gasta nas festas. Mas isso é um preconceito antigo. No Pará, o que é do povo não é cultura”, protestou Manoel Machado, presidente da Apasepa (Associação das Aparelhagens Sonoras do Estado do Pará).

Fenômenos

Os fenômenos do tecnobrega e do reggae consumido no Maranhão têm algo em comum: são sinônimos de resistência.

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