Depois de percorrer algumas cidades brasileiras, entre as quais as da região Norte do País, o cantor e compositor Zeca Baleiro traz o show da turnê do seu mais recente disco “Coração do Homem-Bomba”, volumes 1 e 2, na Batuque Brasil, na Cohama, a partir das 22h deste sábado (27).
A abertura do show será feita pelo músico maranhense Nosly. Baleiro conversou com o jornalista Pedro Sobrinho sobre as experiências do novo trabalho.
Blog : Cada disco feito por você tem um conceito, uma proposta sonora diferente. No “Coração do Homem-Bomba”, volumes 1 e 2, você aparece descompromissado com as canções bem elaboradas e compromissado em fazer cantar, dançar e divertir. Qual a necessidade da transição no trabalho ?
Zeca Baleiro: O disco, o projeto está dividido. Foi pensado da seguinte maneira. O volume 1 foi feito com canções dançantes, divertidas, ou até mais irônicas. O volume 2 ainda que tem um pouco disso, é um disco mais suave, até mais romântico em um certo sentido. Há uma pequena distinção, mas o interessante é saber que os dois discos não foram feitos à toa. Eles foram bem elaborados, houve uma preocupação com os arranjos.
Blog : Embora os discos tenham uma característica dançante, o bom-humor lírico reaparece no Coração do Homem-Bomba. Você é um artista que gosta de mostrar sempre o lado irreverente em forma de música ?
Zeca Baleiro: O artista mostra nas suas canções o seu pensamento ou pelo menos deveria ser assim. Eu tenho um modo de pensar que você pode chamar de irreverente, pode dar a ele o nome que quiser. Eu tenho um jeito de pensar o mundo, questionar a ordem do mundo, as coisas estabelecidas. Claro, faço isto sem rancor, amarguras, sem levantar bandeiras, pois não sou cantor de protesto. Aliás, canções de protesto nunca renderam boas obras. Agora, eu tenho um olhar crítico sobre o mundo, para o mundo e manifesto isso nas minhas canções. Isto pode ser feito de forma leve, despretensioso, bem humorado, irônico. Ai, a tradição da canção brasileira que não me deixa mentir a Noel Rosa, Wilson Batista, Geraldo Pereira. Se eu fizer um décimo do que eles fizeram, tô feliz, rssssssssss.
Blog : Este seu nono disco é popular e não popularesco. Como você define a regravação de “Alma Não Tem Cor” do Karnak ?
Zeca Baleiro: Alma Não Tem Cor é uma música do primeiro disco do Karnak. Para mim já é um clássico da música brasileira moderna. Sou fã do Karnak. Sou amigo dos músicos. Alguns agora tocam comigo. Sou fã do André Abujamra. Gosto da forma como ele compõe, a forma muito simples e despojada, às vezes se colocando na pessoa de uma criança. Vendo o músico de uma forma ingênua e ali tem uma reflexão profunda e muito séria do mundo. Essa canção já toco há uns quatro anos nos shows, sempre funcionou muito bem. Achava que merecia um registro em disco e achei que cabia muito bem nesse trabalho. Gosto da música pela forma como enfatiza a cor da pele dentro de um contexto bem-humorado.
Blog : Já que a “Alma Não Tem Cor”, a beleza continua sendo fundamental nos dias de hoje ?
Zeca Baleiro: Bom, O culto a beleza, a forma física, o bem estar, virou mais que um pensamento. Virou uma indústria lucrativa, forte e poderosíssima. Haja o imaginário da pessoa desde a infância como um valor absoluto da vida, da existência. Não só “Alma não tem Cor”, mas outras canções do disco também questionam esse super culto a beleza, a aparência, a riqueza, como um bem quase moral, o que é em cima uma proposição imoral. Acho importante cantar essa coisa da beleza também haja vista o meu público ser majoritariamente jovem, uma gente que ainda está formando o seu pensamento sobre o mundo. A canção é ainda uma grande forma de fazer as pessoas amadurecerem o pensamento sobre o mundo, tão quanto os livros, as lições de escola. Costumo dizer que as lições paterna também forjaram o meu pensamento sobre o mundo.
Blog : Em “Baladas no Asfalto & Outros Blues” se percebeu a ausência de convidados. No volume você traz a participação de Chico César. A impressão é de um reencontro de um parceiro constante e companheiro de geração ?
Zeca Baleiro: Não são convidados, são participações discretas, sutis onde destaco o Criolina, projeto dos amigos meus Alê Muniz e Luciana Simões. Me identifico com o trabalho deles como um marco da música pop do Maranhão. Gravaram no meu estúdio e acho o trabalho deles alegre e tem a ver com a proposta do novo disco. No segundo volume tem três cantoras que também participam discretamente ou seja sutilmente no disco. São elas a Non Stopa, Vanessa Bugmany e Ana Amélia. No primeiro disco tem parceria com Chico César, Zé Geraldo, Joãozimho Gomes, poeta paraense, radicado em Macapá (AP). Ainda no volume dois, tem Kléber Albuquerque, o baixista André Bedurê, parceiro aqui de São Paulo.
Blog : O trabalho já está sendo mostrado nos palcos brasileiros. Qual o recado que você deixa para São Luís com relação ao show de lançamento do Coração do Homem-Bomba, volumes 1 e 2
Zeca Baleiro: O show já passou por mais de 20 cidades, Até o fim do ano segue por mais outras tantas. Faremos São Luís amanhã (27) e dia 31, em Imperatriz. Retomamos a partir de janeiro a turnê começando por Salvador. Seguimos por mais três meses, mas tudo depende de um monte de coisas. Espero passar por todas as capitais e dar um giro em outras grandes cidades brasileiras. O legal é saber que a turnê agora está acrescida pelo Coração do Homem-Bomba, volume dois. É uma turnê muito divertida, tem uma atmosfera do baile.
o show foi maravilhoso.