RicoChoro Com Vida: ‘para humanizar a plateia’

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Começa neste sábado, dia 20 de agosto, às 19h, na praça Gonçalves Dias, conhecida como Largo dos Amores, mais uma edição do projeto RicoChoro Com Vida, com show da dupla Zé da Velha e Silvério Pontes, além da participação do Instrumental Pixinguinha, Flávia Bittencourt e do DJ Franklin abrindo a festa. A entrada é gratuita.

Ricarte Almeida, idealizador do projeto RicoChoro Com Vida, de volta neste sábado, dia 20/8, na Praça Gonçalves Dias, com Zé da Velha, Silvério Pontes, participação de Flávia Bittencourt e DJ Franklin. Foto: Divulgação
Ricarte Almeida, idealizador do projeto RicoChoro Com Vida, de volta neste sábado, dia 20/8, na Praça Gonçalves Dias, com Zé da Velha, Silvério Pontes, participação de Flávia Bittencourt e DJ Franklin. Foto: Divulgação

O projeto, idealizado pelo sociólogo, radialista e produtor cultural, Ricarte Almeida, de 48 anos, vai acontecer quinzenalmente em praças públicas de São Luís.

Para Ricarte, natural do município maranhense de Pindaré, mas cresceu em Santa Teresa do Paruá, às margens da BR 316, o choro, a sua grande paixão musical, é uma música que ‘influencia e poder ser influenciado’.

Na visão do produtor e apresentador do programa Chorinhos & Chorões, aos domingos, na Rádio Universidade FM, levar o choro para praça pública e com acesso livre é uma “oportunidade única de socializar e humanizar o público”.

PEDRO SOBRINHO: Fale do seu envolvimento com a música ?

RICARTE ALMEIDA: A música faz parte da minha vida desde garoto. Na minha casa se dormia e se acordava escutando chorinho. Meu pai, à noite antes de dormir botava um LP de Choro, o lado A. Logo cedo antes da gente acordar ele colocava o outro lado do disco. Eu ficava com a impressão de ter ouvido choro a noite inteira, como música de ninar.

Depois passei a estudar sobre música, tentando compreender os aspectos históricos e sociológicos, além de pesquisar, produzir. Enfim, é uma paixão.

PEDRO SOBRINHO: A ideia de se tornar produtor cultural ?

RICARTE ALMEIDA: Fiz especialização em Gestão da Cultura. Depois mestrado em Cultura e Sociedade. Sentia a necessidade de produzir, de levar algumas ideias em frente, criar encontros trocas de linguagens, de influências, misturar estilos musicais. Enfim, produzir “incômodos”, no sentido de mexer com as ideias dos músicos, enfim, movimentar a cena.

PEDRO SOBRINHO: Por que o choro foi a vertente escolhida para trabalhar ?

RICARTE ALMEIDA: O Choro é uma base, um gênero matriz, ao mesmo tempo em que é um jeito de tocar outros gêneros. Portanto, uma música aberta ao novo, ao contrário do que muita gente imagina. O Choro influencia e pode ser influenciado. E isso é muito sedutor.

PEDRO SOBRINHO: Você começou divulgando os artistas do choro em local fechado. De repente, o seu projeto passa a ocupar espaço público. O que representa para você esse novo formato do RicoChoro Com Vida para o cenário artístico maranhense ?

RICARTE ALMEIDA: Acredito na possibilidade de se criar encontros entre artistas de linguagens e estilos diferentes. E, agora, a possibilidade de socializar com o público das comunidades esses saraus maravilhosos. Acredito que cumprindo um papel importantes de democratizar o acesso a arte, a boa música, lançando mão de uma ferramenta democratizante, que é a Lei de Incentivo. Um grande ganho para a produção cultural no nosso Estado.

PEDRO SOBRINHO: O que você espera do seu projeto ocupando as praças de São Luís ?

RICARTE ALMEIDA: Usufruir desse espaços públicos, fazendo que cumpram sua função original, há muito abandonada. A gente quer com a arte na praça o convívio humano, a integração das pessoas, a fruição da música e das artes. Isso é belo, lúdico, humanizar os espaços públicos.

PEDRO SOBRINHO: Você acha que é possível catequizar o povo a ouvir toda essa erudição que existe por trás do Choro ?

RICARTE ALMEIDA: Acho que há uma falsa erudição. Na verdade isso é fruto de uma ideia antiga de distanciamento das artes do povo. Havia um tempo que arte era coisa de “iluminados”. O Choro é fruto do jeito popular de se fazer música no Brasil. Isso precisa cada vez mais ser resgatado. O projeto quer estimular isso!

PEDRO SOBRINHO: Qual o papel do DJ dentro do projeto RicoChoro com Vida ?

RICARTE ALMEIDA: Mostrar que, hoje, com as novas tecnologias existem outras formas legítimas de se fazer música. Isso não nega as outras formas, ao contrário, valoriza, influencia e se enriquecem mutuamente. A convivência, o intercâmbio serão sempre algo salutar.

PEDRO SOBRINHO: Existe a possibilidade do seu projeto atravessar o Estreito dos Mosquitos rumo ao interior do Maranhão ?

RICARTE ALMEIDA: Sim, a ideia é essa. Ir às outras cidades, levar esses saraus a mais pessoas e comunidades, aprender com elas lá também.

PEDRO SOBRINHO: Como os artistas locais e de fora vêem essa sua iniciativa de divulgar o Choro no Maranhão ?

RICARTE ALMEIDA: As manifestações são as melhores possíveis e de fora pra dentro. O projeto tem despertado interesse de artistas de outros centros de participarem da cena. Isso é extremamente valioso.

PEDRO SOBRINHO: Como é feita a escolha das atrações ?

RICARTE ALMEIDA: Tentamos criar oportunidades para todos os estilos e linguagens. Tentamos abrir espaço pra todos e todas, possibilitar encontros dos diferentes.

PEDRO SOBRINHO: Por que Zé da Velha e Silvério Pontes para abrir o projeto ?

RICARTE ALMEIDA: Porque são uma alegria. Pela energia vibrante que transmitem e pelo que representam para o Choro e para a música instrumental brasileira.

PEDRO SOBRINHO: Pra encerrar o bate-papo, qual o seu outro grande sonho ?

RICARTE ALMEIDA: Ver a cultura vista como direito de todos e todas, portanto, como políticas públicas acontecendo na vida das pessoas. Aí sim, vai ser possível o acesso a arte e aos bens culturais. Mas, isso é uma construção coletiva, e leva tempo, depende de uma nova cultura política.

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