O tempo passa. E as coisas boas permanecem. Não lembro o ano, mas sei que foi em uma noite junina, encontrei com o paulista Otávio Rodrigues, conhecido como “Doctor Reggae”, produtor e apresentador do programa Bumba Beach, nas rádios Mirante FM e Universidade FM, me convidou para lhe fazer companhia e buscar no aeroporto Marechal Cunha Machado, o baterista carioca Robertinho Silva, que viria participar de um Encontro Percussivo, promovido pelo músico Luiz Cláudio, em São Luís. (Por sinal um belo evento, que reuniu músicos dos Estados Unidos, o percussionista Marco Suzano, o grupo Fogo de Mão (MA), etc…)
E ao desembarcar na ilha, Robertinho foi convidado por Otávio para assistir o batizado do boi do Maracanã, na comunidade que leva nome à brincadeira. Vindo de uma excursão no Carnegie Hall, em Nova York, EUA, com Milton Nascimento, Robertinho disse estar cansado, mas topou o passeio. Ao chegar lá, se foi o cansaço, pois ficou de “cara” com o que viu.
Todo aquele efeito provocado pela orquestra percussiva de matracas e pandeirões, a voz exuberante e as toadas repleta de emoção interpretadas por Humberto de Maracanã mexeram com a sensibilidade do músico. Inquieto e sensível, participou ativamente da celebração. No fim da festa, ele levou de ‘souvenir’ pandeirões e todo aquele ritual que definiu como “encantador”. Robertinho Silva se viu diante de um pedaço do Brasil, de um Maranhão, dono de uma riqueza cultural imensurável. Para mim, foi uma experiência pioneira e valiosa.
Alguns anos depois, lá pelos anos 2000, a minha amiga Samira Salomão, paulistana, apaixonada pelo Maranhão, atualmente morando e trabalhando na Globo, em São Paulo, me convidou para uma missão: a de garimpar meninas de brincadeiras juninas em São Luís para interagir com baianas e cariocas, no programa “Central da Periferia”, apresentado, semanalmente, por Regina Casé, na TV Globo. A tarefa não foi fácil, pois visitamos o ensaio do boi de Morros, no Cohatrac, e no dia seguinte, ou seja, num sábado, fomos até à comunidade do Maracanã. E lá tivemos o privilégio de conhecer Humberto de Maracanã. A primeira impressão foi de estar à frente de uma figura lacônica e sábia. Um homem fino, elegante e sincero.
Enfim, o objetivo principal da visita não conseguimos, mas tivemos o privilégio de conhecer Humberto de Maracanã, com quem tive contato pela última vez no Aeroporto Marechal Cunha Machado. Eu me levantei do banco para cumprimentá-lo. Perguntei para onde iria. Ele me respondeu de maneira monossilábica: Vou participara de um evento cultural no Rio de Janeiro. Desejei boa sorte e sucesso ! Foram dois encontros diretos e com a comunidade em que ele fez a sua história.
Lamento, pois não houve momento para “selfies”, mas registrei tudo em minha mente. E como a morte faz parte da vida, só resta agradecer ao mestre Humberto de Maracanã, título concedido a ele pelo Ministério da Cultura (MinC). A Cultura Popular chora aperda, está de luto e nos sentimos órfãos. Mas, tudo continua vivo se percebermos o legado deixado por ele e a todos os mestres que se foram.
Como um cara que gosto e me permito a ouvir do Jazz ao Samba, do Rock à uma boa toada de bumba meu boi, tenho em Coxinho e Humberto de Maracanã os meus ídolos no gênero. Insubstituíveis !