A sexta edição do Lençóis Jazz & Blues Festival superou todas as expectativas e levou mais de cinco mil pessoas para curtir o evento durante o último o fim de semana. Mais de dez atrações fizeram parte da programação realizada na cidade que é porta de entrada do Lençóis Maranhenses, a cerca de 267 Km da capital maranhense, São Luís.
Se nos dias anteriores, o público pode embarcar na conexão do jazz e do blues com estilos bem distintos como o pop, a MPB e o rock, nesse domingo, um tom mais clássico predominou entre os artistas. Começando pela banda maranhense Bossa Nossa, que fez uma apresentação com um sabor especial: o primeiro show para um grande público ocorreu no palco do Lençóis Jazz & Blues Festival.
O quarteto não se intimidou e cativou as pessoas com um repertório baseado em clássicos e elementos pop. “Não esperávamos esse calor todo. Quando vimos todo aquele público, cantando e dançando, ficamos sem palavras”, revelou o flautista e saxofonista Lee Sousa.
A noite continuou com o maranhense Henrique Duailibe e toda a sua verve jazzística. Logo no início, com a faixa “Encontro Musical”, já dava para imaginar um pouco do que viria: muitas misturas de gêneros e elementos da música brasileira.
Dos solos de guitarra aos passos de bateria, Henrique Duailibe colocou bastante “balanço” em seu repertório, com uma sonoridade bem roqueira que, aos poucos, foi correspondida pelo público em aplausos e coros. “Foi uma honra pra quem faz música instrumental ter essa vitrine no festival. E poder ver essas turmas de outras cidades. Eu renasci musicalmente”, brincou o artista.
Enquanto uns renascem, outros retornam: a cantora Taryn Szpilman se apresentou pela segunda vez em uma edição do Lençóis Jazz & Blues Festival. Com exuberância e elegância, a cantora não fez surpresa e revelou ao público o que viria: versões de standards dos anos 30 ao 60. Taryn foi ovacionada ao cantar clássicos de Howlin’ Wolf, Tina Turner, Ray Charles e na extonteante versão de “Oh Darling”, dos britânicos dos Beatles.
Sedutora, atraente e emocionante, a voz da cantora arrebatou o público do festival, que ainda ganhou outro presente: uma versão, ou melhor, uma “brincadeira muito doida”, como disse Taryn, da canção “Fly Me To The Moon”, que ganhou arranjos do reggae, sem perder a essência jazzística. O jazz ainda encontrou lugar na releitura de canções de Billie Holiday (que estarão em uma turnê especial no ano que vem) e no bis, como a versão nacional da canção vencedora do Oscar “Let It Go”, que estrelou o longa de animação “Frozen”. Um presente para as crisnças que estão aqui e para cada criança que existe dentro de cada um de nós falo disse Taryn ao presentear o público com a premiada canção.
A última atração do festival em Barreirinhas não poderia ter sido melhor: uma dobradinha do músico, compositor, instrumentista e produtor cearense Manassés de Sousa e o percussionista maranhense Carlos Pial. Juntos, os músicos apresentaram um show refinado e repleto de virtuosismo. Dois momentos marcaram especialmente a apresentação. Um deles foi quando Carlos Pial (ao pandeiro) e Manassés (ao violão) tocaram em dueto o “Boléro”, do francês Maurice Ravel. Um show irrepreensível que deixou o público maravilhado.
O outro momento inesquecível do show foi quando Pial fez sua apresentação solo. O maranhense abusou da sonoridade de vários instrumentos africanos inusitados misturando-a aos sons da natureza, como o canto dos pássaros. Nessa hora a plateia foi dividida em duas. Cada uma delas cantou em coro sons diferentes que juntaram-se aos produzidos pelo percussionista fazendo com que essa interação se transformasse em um divertido e inesquecível espetáculo.
Depois desceu e passeou entre o público tocando um instrumento semelhante a um tambor surpreendendo novamente os espectadores. “Eu gostei de brincar. Gosto de usar sons da natureza. Hoje poucos percussionistas fazem isso e eu estou resgatando isso no meu trabalho. Fiquei pensando se surpreendia o público. Se ele iria gostar. Arrisquei e deu tudo certo. As pessoas estavam numa energia ótima e foi perfeito. Aliás, tocar nesse festival era uma vontade antiga e eu estou muito feliz de mostrar o meu trabalho aqui”, comemorou.
Manassés agradeceu o público que ficou até o início da madrugada para ouvi-lo tocar e elogiou o evento. “O Brasil tem que ter mais festivais como este. Em Barreirinhas, com certeza, eu vou voltar”, revelou o cearense Manassés, sobre a emoção de subir ao palco.
Manhã- A programação do último dia do festival que contou com mais de 20 atrações e 40 músicos foi aberta pela manhã, no coreto da Praça da Igreja Matriz, com a animada performance do ator, mímico, palhaço e arte educador, Gilson César, no espetáculo “Um dia de clown”.
Sábado – Na segunda noite do festival, cerca de duas mil e quinhentas pessoas compareceram ao evento. As apresentações começaram pelo grupo MB Trio, que realizou a sua segunda participação no Festival. A banda do Espírito Santo com raízes barreirienses misturou canções da própria carreira, com versões de consagrados artistas. Em seguida, foi a vez da dupla paulistana Duofel, que não poupou na excelência artística e mostrou um show recheado de grandes momentos. Como a homenagem do duo ao músico Zé Menezes, falecido na última sexta-feira.
A mais aguardada atração do sábado fez um show que vai ficar para a história do festival. O gaiteiro Renato Borghetti, ao lado do flautista Pedrinho Figueiredo, do violinista Daniel Sá e do tecladista Vítor Peixoto garantiram momentos gloriosos para a plateia, tanto tocando juntos, quanto em apresentações solos inesquecíveis. A noite foi encerrada com o baile retrô da banda maranhense Tequila Blues. A banda fez um setlist que contemplou o rock, o jazz, o blues e o R&B, com canções de veteranos como Stevie Wonder e Ray Charles, além do próprio repertório.
A programação vespertina contou com o show do músico maranhense João Pedro Borges, no coreto da Praça da Igreja Matriz. Com mais de 40 anos de carreira, o artista comentou suas experiências musicais em várias partes do mundo no “Papo de Músico”. No período da manhã, no mesmo local, a programação foi aberta pelo ator Gilson César na primeira exibição do espetáculo “Um dia de clown”. A manhã teve, ainda, um momento de aprendizagem sobre percussão com o músico e professor Eric Carvalho, da MB Trio, no Salão Paroquial da Igreja Nossa Senhora da Conceição.
Sexta – O festival iniciou a sua viagem musical na sexta-feira (1º), indo da música instrumental à MPB, passando, claro, pelo jazz e blues. Logo no início da noite, o jornalista Helton Ribeiro, da Revista Jazz In Blues, anunciou as atrações mostrando uma breve biografia e discografia de todo o line-up e dando o start para o cartunista Nuna Neto ilustrar cenas e pessoas por todo o evento. Vale destacar que ao longo da programação o artista fez mais de cem caricaturas de pessoas do público. Os desenhos divertidos foram um presente do festival para quem prestigiou o projeto. E como democratizar a arte é uma das propostas do festival, todas as caricaturas foram fotografadas e depois exibidas em um telão montado ao lado do palco.
O paulistano André Mhemari e Trio abriram a primeira noite e trouxeram brilho e encanto ao festival. Em seguida, foi a vez da elegância de Paula Santoro, acompanhada do seu trio musical. A artista, emocionada com o público, fez um show cheio de homenagens, indo de Milton Nascimento a Carlos Lira, passando por Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Ivan Lins.
A noite foi encerrada com a performática e cheia de energia apresentação do grupo maranhense Loopicínico. Eles fizeram uma salada musical que misturou ritmos do Pará e do Maranhão como carimbó, bumba meu boi de Pindaré sotaque Zabumba com pitadas de afoxé e rock.
A animação musical já tinha tomado toda a cidade desde o começo do dia, com a apresentação da banda MB Trio que inaugurou o circuito do coreto da Praça da Igreja Matriz. No período da manhã, os alunos da Escola de Música de Barreirinhas presentearam moradores e visitantes com uma brilhante e empolgada apresentação, abrindo a sexta edição do Lençóis Jazz & Blues Festival. Depois, a cantora Paula Santoro ministrou uma oficina de canto para cerca de duzentas crianças e adolescentes da rede municipal de ensino e estudantes de música.
São Luís – No fim de semana, mais precisamente, sexta (8) e sábado (9) a festa tem outro endereço: a Praça Maria Aragão, no Centro de São Luís. A apresentação do festival ficará sob o comando do músico Augusto Pellegrine. Na sexta-feira, a programação inicia logo pela manhã com a oficina de gaita com Jefferson Gonçalves na Escola de Música Lilah Lisboa. Augusto Pellegrine in Jazz, as Clusters Sisters e o carioca Jefferson Gonçalves integram os shows. No sábado, último dia do evento, a carioca Joyce Moreno, a cubana Yilian Canizares e o cearense Artur Menezes encerram o festival.