O fim de semana foi de celebração para Criolo. Nos dias 22 e 23 de agosto, o artista deu uma pausa na gravação de seu terceiro álbum para fazer shows concorridíssimos ao lado de Milton Nascimento, no HSBC Brasil, em São Paulo, o que foi interrompido, na primeira noite, devido “Bituca” ter se sentido mal no palco no primeiro show.
Batizado de “Linha De Frente – Milton Nascimento Convida Criolo”, o espetáculo passou com sucesso por Belo Horizonte em junho e segue para o Rio de Janeiro em setembro. Já o domingo (24/8) foi um dia de festa para o compositor Armando Fernandes, que completou 76 anos de vida. Mas o mineiro, conhecido pelo apelido de Mamão, poderia estar bem mais feliz.
Criolo e Mamão, que nunca se encontraram, estão conectados por uma suspeita de plágio difundida pelo YouTube e em fóruns de discussão da internet. “Linha De Frente”, samba lançado por Criolo em Nó Na Orelha (2011), tem melodia e arranjo exageradamente parecidos com “Tristeza Pé No Chão”, composição de Mamão gravada com enorme sucesso por Clara Nunes, em 1973, e regravada por Zimbo Trio, Meirelles E Sua Orquestra, Alcione, Teresa Cristina e Grupo Semente, Zeca Baleiro, entre muitos outros. “Linha De Frente” passaria até como uma paródia da música do mineiro, tamanha a semelhança da primeira estrofe. Mas, nos créditos de Nó Na Orelha, apenas uma pessoa é citada como autora da faixa: Criolo.
Billboard Brasil localizou Mamão em sua residência, em Juiz de Fora, MG. Ainda escrevendo um sambinha aqui e outro acolá, mas sem nunca mais ter experimentado um êxito como o da música em questão, ele classifica o caso como escandaloso. “Tomei conhecimento depois que o cara [Criolo] veio fazer um show aqui em Juiz de Fora [em 2012]. Alguns amigos foram e me falaram ‘pô, Mamão, que coisa interessante, a primeira parte de uma música dele é todinha daquela sua que fez sucesso com a Clara’. Uns cantavam para mim, aí vinham outros e cantavam também. Eu dizia: ‘será que é isso mesmo?’ Até que ouvi a gravação. Realmente, é escandaloso o negócio. O cara gravou como se fosse dele!”
Como “Tristeza Pé No Chão” é editada pela EMI, Mamão aguarda que a multinacional tome alguma providência quanto à situação. “Sei que já teve caso de nego mover uma ação, correr atrás para ver o que é de direito. Mas, em princípio, pensei que esse cara tinha feito isso num CDzinho que não fez sucesso. Achei melhor deixar para lá. Mas tá em aberto. Vou acabar ligando para a EMI para dizer ‘corre atrás disso aí! Tem um crioulo nos roubando!’ E eles não costumam deixar por menos, não”, diverte-se o autor, já imaginando a hora em que apresentará o seu samba e alguém irá identifica-lo como sendo de Criolo. “Pode acontecer isso, de um sujeito falar ‘ô, Mamão, você tá plagiando o outro lá’. Até explicar que focinho de porco não é tomada…”
Outras faixas de Nó Na Orelha creditadas apenas a Criolo têm suas autorias questionadas em blogs e comunidades do Facebook, casos de “Lion Man”, cuja base lembra o tema de jazz etíope “Selametaye Yederes”, gravado pelo cantor Tlahoun Gessesse, e de “Subirusdoistiozin”, cujo piano remete à gravação de Clara Nunes do clássico “Sabiá”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas – piano esse sampleado (com os devidos créditos) pelo grupo japonês Rip Slyme no hit “Nettaiya”, de 2007. Criolo foi procurado por Billboard Brasil para comentar a relação entre “Linha De Frente” e “Tristeza Pé No Chão”. Após acenar com uma possibilidade de entrevista, a assessoria do artista não retornou mais os e-mails. Texto: André Barcinski