A juventude brasileira, independente de qualquer tipo de conceito ou preconceito, resolveu deixar de lado o individualismo e aderir ao espírito coletivo para protestar num movimento sem face e sem líder. Mais de 250 mil pessoas participaram de protestos em várias cidades de norte a sul do Brasil nesta segunda-feira (17). A onda de protestos, que nas últimas semanas tinha como foco principal a redução de tarifas do transporte coletivo, ganhou proporções maiores e passou a incluir gritos de descontentamento com várias causas diferentes. Houve registro de confrontos e violência em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em Brasília. Manifestantes invadiram o Congresso Nacional, Assembleias Legislativas, Câmaras de Vereadores, Palácios de Governo e ganhou repercussão internacional. É a maior mobilização popular do Brasil desde os protestos pedindo o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello (hoje senador), em 1992.
Compartilhadas ou não pelas redes sociais, webativismo ou não, o que se vê é uma sociedade insatisfeita, em que desperta nela, uma consciência crítica muito motivada pela dor. Existe uma teoria na espiritualidade em que quando não se vai por amor, se vai pela dor. As pessoas parecem estar cansadas de tanto sofrimento, do descaso da classe política, da corrupção, da violência urbana e no campo, da política do Pão e Circo, das políticas de assistencialismo, que viciam e criam uma atmosfera de dependência e alienação.
Esse grito de não aguento mais, dá a impressão de que o povo reconhece a legitimidade da democracia, e sem bandeira partidária, começa a exigir da classe política uma outra postura. Se ela existe e está para legislar pelo bem comum, é necessário que se reinvente e já.
Se o Brasil pode construir estádios de Primeiro Mundo, pode também oferecer educação, saúde, transporte público, saneamento básico, enfim, qualidade de vida de Primeiro Mundo. Parece utopia o combate à corrupção, contra a desigualdade social e econômica. Mas, mobilizações consistentes, unânimes, legítimas, que preservam o patrimônio e a ordem pública, são capazes de gerar reflexão profunda de quem detém o Poder nesse País.
Baderneiros ou não, classe média ou não, gente da periferia ou não, gente em situação de rua ou não, idosa ou não, preto ou branco, manifestação organizada ou não, se vai resultar em políticas públicas concretas ou não: “eu vejo um novo começo de era. de gente fina, elegante, sincera e com habilidade” (Lulu Santos), frase citada no facebook do parceiro Jonathas Nascimento.