Para alguns críticos de plantão, Caetano Veloso é uma espécie de músico genial, polêmico e oportunista. Eu prefiro apostar na teoria que o músico baiano é sempre reinventivo e que gosta de experimentar. Essa capacidade de se movimentar faz com que ele se mantenha em evidência no auge dos seus 70 anos. É um privilégio de poucos. O senhor Caetano, sempre atento ao presente, está com uma nova ideia lançada. Trata-se da expressão Abraçaço, cujo o sufixo aço é usado como aumentativo, numa forma de intensificar o que é dito. A partir daí, o Abraçaço se fortaleceu e acabou servindo para nomear o álbum lançado no ano passado por ele, cuja turnê foi lançada na última quinta-feira (21), no Circo Voador, no Rio de Janeiro.
O Picadeiro
Indagado sobre a escolha do Circo Voador para o ponto de partida da turnê, Caetano disse que a volta ao espaço criado na década de 70 por Perfeito Fortuna é motivo de alegria por conta da plateia que frequenta o local e que permanece até hoje como um local arejado para a música. Eu endosso o comentário do músico. Ele complementou dizendo sentir a necessidade de atuar em ambientes diferentes das casas de show que se cristalizaram no Brasil.
– Pode-se fazer coisas boas nelas, mas preciso de soltura, da ligação direta de lugares como o Circo, que é especial. Para meu trabalho com a banda Cê, o Circo é o lugar emblemático. Mas, desde há muitos anos, cantar no Circo tem sido algo revitalizador para mim – explica o músico em entrevista.
Abraçaço
O elogiado 49º disco de Caetano marca o fim de sua parceria com a banda Cê, que o acompanhou nos álbuns Cê, e Zii e Zie. A ligação entre os músicos, que já dura sete anos, foi marcada por um forte espírito colaborativo, criando um ciclo bastante inovador na carreira do cantor, com arranjos intensos e tons de guitarra espalhados pelo repertório. Essa renovação evoluiu ao longo dos três discos e também pode ser observada neste último trabalho em canções como A Bossa Nova é Foda e Funk Melódico, que estarão no setlist do show.
Semelhança
E quando questionado por Regina Casé, no programa Esquenta da Rede Globo, se o Funk carioca, considerado por alguns críticos, como uma música primária e sem conteúdo, Caetano rasgou seda ao gênero alertando pelo flerte do Funk feito no Rio com a batida eletrônica e da ligação ancestral com o maculelê [pra quem desconhece, o maculelê é originário de uma arte marcial armada, mas atualmente é uma forma de dança que simula uma luta tribal usando como arma dois bastões, chamados de grimas (esgrimas), com os quais os participantes desferem e aparam golpes no ritmo da música. Num grau maior de dificuldade e ousadia, pode-se dançar com facões em lugar de bastões, o que dá um bonito efeito visual pelas faíscas que saem após cada golpe. Esta dança é muito associada a outras manifestações culturais brasileiras como a Capoeira e o frevo].
Com essa definição ao Funk dos cariocas, Caetano quebra mais uma vez paragidmas e conclama os patrulheiros de plantão para uma reflexão sobre a música denominada de senso comum.