Lula, filha de Chico Science, no palco…
Louise Tainã, a Lula, de 22 anos, filha de Chico Science (1966 a 1997) – principal figura do mangubeat nos anos 1990 – estreia nesta quinta-feira (10), como cantora do projeto Afrobombas, de Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi deste a morte de Chico.
Em entrevista à Folha, a tímida Lula foi categórica em dizer para o público que ‘não esperem que ela vá ser o Chico Science de saias. Acrescentou ela, que nem usa o sobrenome artístico do pai para evitar que fiquem falando. “Ele foi gênio, não é minha intenção chegar ao patamar dele”, enfatizou.
Quando Chico morreu, Lula tinha seis anos. Só percebeu a importância musical do pai na adolescência. Antes, ouvia “bobagens de criança”, como Sandy & Junior. A mãe mostrava “coisas boas”, como Gonzagão e Clara Nunes. Aos nove, descobriu-se afinada e fez pequenas participações em uma banda de forró de sua mãe, no Recife.
FILHOS DO MANGUE
Lula conheceu Ramon, 22, filho de Jorge Du Peixe, por volta dos três anos, na capital pernambucana. Depois da morte do pai, ficaram anos sem ter contato. Aos 17, em São Paulo, para onde ela havia se mudado para estudar cinema, o rapaz a procurou.
Reaproximaram-se, começaram a namorar e moram juntos há três anos e meio. Com Ramon -percussionista da Nação Zumbi desde 2011-, ela também divide o palco nesta quinta no Afrobombas.
“Tá tudo em família. Já tocava com meu filho e achei que fosse natural convidar a minha nora. São aquelas coisas da vida que ninguém explica”, diz Du Peixe.
As referências de Lula são diversas e passam longe do manguebeat. No celular dela, tocam Céu, Criolo, Lirinha, Otto, Siba e Amy Winehouse, estampada em sua camiseta.
Nesta quinta-feira à noite, além dos backing vocals, ela interpretará algumas músicas também na linha de frente do palco. Arriscando suas primeiras letras, Lula pretende, no futuro, fazer um disco seu. Herdeira universal do espólio de Chico Science, ela também revela que há muitas letras inéditas de seu pai.
“Tem coisa guardada com minha tia, em Recife, e deve ter muita letra com os parceiros dele. Não tomei conhecimento de tudo, ainda é um assunto de família.”
BAILE BEATNIK
Fã do escritor americano Jack Kerouac (1922-1969), Jorge Du Peixe batizou o show do Afrobombas de “baile beatnik”, no sentido de ter um “romantismo escuro” e de ser “meio fuleiro, fácil e breve”.
No repertório, além de músicas com influências jamaicanas, de afro-rock e de psych-funk, Du Peixe e banda tocarão também composições autorais inéditas.
Sem contar suas canções gravadas por outros artistas, como “Chegar em Mim” (Céu), “Saudades do Mundo” (com Ortinho, gravada por este), e “Passione”, composta com Junio Barreto para a trilha do filme “Febre do Rato”, de Cláudio Assis, e que está em álbum de Barreto.
“A gente não quis revelar muita coisa intencionalmente. No Brasil, as pessoas não estão habituadas a ir a um show sem saber o que esperar. Elas compram ou baixam o disco e já vão sabendo o que vai rolar”, comenta Du Peixe.
“A gente testa no palco e depois vê se vira um CD.”