Marisa Monte: amor à flor da pele

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Senti que perdi uns quilinhos por alguns instantes, como se estivesse em uma sauna. Tive a sensação que a audição com Marisa Monte merecia um tratamento sonoro mais adequado tendo em vista o formato de um show acústico e intimista. Com ou sem turbulência, o show da turnê ‘Verdade Uma Ilusão’ aconteceu. Foi um absurdo, pra não dizer genial e trouxe a artista carioca, do Brasl e do Mundo, de volta a São Luís, após doze anos de espera. No espetáculo de quase duas horas, a artista definiu a verdade, ao conclamar a plateia, a cada canção romântica, a não ter vergonha de descobrir o amor e ter medo de amar, com ou sem pieguice. Na verdade não se precisa ir muito longe, afinal, diversas músicas de sua biografia traduzem as mais variadas histórias de amor, encontros e amizades.

marisa510Excepcional  

Não tenho medo em afirmar que “Verdade Uma Ilusão” é o melhor show já feito por Marisa Monte que eu assisti. Ela resgatou antigos sucessos, reuniu músicos excepcionais, inovou no cenário e encantou as milhares de pessoas que lotaram o Ginásio Castelinho. Marisa esqueceu da sua fase sambista. E, assim como o Papa, o show é pop e me lembrou muito o “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”, apresentado em São Luís em 2001. Nesse retorno, ela veio renovada e evoluída. Evolução natural de uma cantora que hoje atinge o auge de sua carreira e mostra porque é considerada uma das maiores cantoras do Brasil – quiçá a melhor, pelo menos em tempo de escassez, falta de criatividade, conteúdo, na Música Popular Brasileira. Ela caminha na contramão de um imediatismo imposto, que confunde fidelidade com sucesso descartável.

O show, dirigido por Leonardo Netto e Claudio Torres é sofisticado, de ótimo bom gosto, além de muito envolvente. Artistas plásticos brasileiros e contemporâneos criaram obras inspiradas em músicas do roteiro enquanto outras obras foram adaptadas. O espetáculo visual é deslumbrante, um show à parte, e Marisa Monte muito mais solta do que antes. Ela estava se sentindo em casa,  descontraida, ao ponto de emocionar, fazer a plateia interagir cantando junto com ela, ‘Gentileza’, em que a letra diz que: “O mundo é uma escola. A vida é o circo. Amor palavra que liberta. Já dizia o Profeta”. Teve ainda ‘Infinito Particular’, ‘Velha Infância’, ‘Eu Sei’, ‘Beija Eu’, ‘Diariamente’, entre outros ‘hits’, marcantes em 25 anos de estrada. Do disco novo, foram selecionadas ‘Descalço no Parque’, ‘Depois’ e ‘Ainda Bem'{que também já viraram sucesso], ‘Além de ‘Amar alguém’, ‘O Que Se Quer’ e  ‘Verdade Uma Ilusão’.  Tudo interpretado por uma voz perfeita.

Reverência

Uma das grandes surpresas do show foi ela cantando em acordes flamenco a música E.C.T. (Nando Reis, Marisa Monte e Carlinhos Brown). Após esta música, Marisa Monte relembra Cássia Eller, que morreu em 2001, gravou a canção e se apropriou dela com legitimidade. Marisa ainda afirmou que sente falta do trabalho de Cássia Eller como referência e ainda conceituou: “Ter saudade não é sentir falta de alguém, ter saudade é sentir a presença de alguém‘. Logo após a lembrança, Marisa cantou a belíssima “De Mais Ninguém“, música que ganhou novos arranjos e tornou-se um dos momentos mais emocionantes do show.

Multifacetada  

Marisa Monte surpreende o público com sua originalidade e qualidade de seu canto fazendo uma ponte entre a tradição e o pop contemporâneo. E para isso conta com o empréstimo do baterista Pupillo, do guitarrista Lúcio Maia e do baixista Dengue, da banda pernambucana Nação Zumbi. E falando na Cor do Som, o trio pinçado e cheio de ‘groove’, da Nação Zumbi chama, naturalmente, atenção na banda, mas a mola-mestra é o ex-A Cor do Som, Dadi, que toca há muito tempo com a cantora. A banda conta, ainda, com o produtor e tecladista Carlos Trilha e um quarteto de violoncelo, violinos e bandolim, dando um toque clássico e lírico nas canções.

Sem Dizer Adeus  

Com a música ‘Não Vá Embora’, Marisa Monte se despede do público e retorna para o ‘bis’ com direito a um ‘tris’. Em ‘Amor I Love You’, ela declara o seu amor por São Luís. Depois faz a festa com  a tribalista ‘Já Sei Namorar’ e fecha o ‘set’ com ‘Bem Que Se Quis’, deixando o palco à francesa e sem dizer adeus, restando o coro de uma plateia em transe, numa noite de terça-feira e com a lua cheia. Vale pontuar que esse foi, sem sombra de dúvida, uma grande celebração na voz de uma ‘Lady’ que foi feita para se ver e ouvir !

 

2 comentários para "Marisa Monte: amor à flor da pele"


  1. Antonio Rosendo

    Até concordo com parte de seu texto, mas dizer que Marisa Monte é a melhor cantora do Brasil,isso não, aonde fica a Zélia Duncan com seu repertório pra lá de primoroso, ainda mais desta recente homenagem ao grande Itamar Assunção (artista pouco lembrado pela critica),com seus arranjos sofisticados, aliás ela tem discos impecaveis.

    • Pedro Sobrinho

      Antonio Rosendo..não vamos aqui discutir gosto musical. Eu acho que Marisa Monte é a melhor cantora do Brasil e você acha que é Zélia Duncan. E não se fala mais nisso. Belê !

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