A cantora mineira/baiana Jussara Silveira faz ‘jus’ ao depoimento apaixonado feito pelo ex-Titãs Arnaldo Antunes ao ouvi-la. Ele a definiu como uma intérprete de ‘densidade emocional extrema, que não deságua em dramaticidade’. Essa é a impressão que tive ao ouvi-la pela primeira vez em São Luís no palco com o acústico mais que perfeito do Teatro Artur Azevedo, o nosso templo da artes. Foi um show rápido e envolvente baseado nos álbuns “Ame Ou Se Mande” e “Flor Bailarina”, sendo acompanhada ao piano por Sacha Amback e a percussão de Marcelo Costa.
No primeiro contato, viajei na voz de Gal Costa em tempos de ‘Doces Bárbaros ‘ e a épica ‘Divino Maravilhoso’, poesia do setentão Caetano Veloso, que teve o aniversário, festejado nesta terça-feira (7), e lembrado pela artista.
Voltei ao presente e percebi que estava diante de Jussara Silveira, uma cantora com um timbre que emociona e um repertório formado por “escolhas do coração”.
Me permiti, em aproximadamente uma hora e meia de show, ouvir apenas músicas autorais na voz de uma artista fiel a interpretação e ao espírito das músicas. O show se configura numa autêntica celebração da lusofonia, das mais nobres expressões literárias e musicais de Brasil, Angola e Portugal. E no contexto São Luís coube como uma pérola. Simpática no palco, Jussara se encarregou de evidenciar isso. Sei bem que ela poderia ter cantado “Ilha Bela”, de Carlinhos Veloz, conforme o achismo, devaneio ou sonho, de que ela interpretaria um dos hinos que reverencia a cidade. A canção, que ganhou destaque na releitura da cantora maranhense Fabrícia Almeida, que fez a abertura de mais versão ludovicense do projeto MPBPetrobras, deu conta do recado.
Fabrícia é uma artista que pode ir além do trio elétrico. Ela mostrou um lado seu em que ‘eu’ desconhecia e os fãs que acompanham constantemente a trajetória da artista. Fez um apanhado de músicas de cabeceira e boas para ouvir em barzinho levando para o palco. As releituras foram feitas de maneira econômica e agradável aos ouvidos pelo ‘duo’ Luiz Jr. (violão) e Rui Mário (acordeon). No ‘set’ da artista ‘Samba de Verão’ de (Marcos Valle), ‘Corcovado’ (Tom Jobim), “Você’ e “Olha” (Roberto Carlos).
A artista maranhense cumpriu um sonho de consumo o de cantar no Teatro Artur Azevedo, postura [essa] no palco elogiada por Jussara Silveira, que em sua conexão Brasil, Angola e Portugal, apresentou a canção inédita, “Tenho Dó das Estrelas”, poema antológico do português Fernando Pessoa musicado pelo parceiro da artista, o compositor José Miguel Wisnik.
O show traz ainda os sembas (sambas angolanos) Canta meu semba (Paulo Flores) e Lemba (José Manoel Canhanga), além da clássica Calunga, do compositor pernambucano Capiba (1904-1997), canção que estimulou para que Jussara reverenciasse a sonoridade ‘típica e caliente’ de Angola.
Uma noite nostálgica provocada por duas vozes femininas em que São Luís foi citada em verso e prosa por Jussara Silveira, através dos parceiros locais que
ela admira e tem afinidades, Rita Ribeiro, agora ‘Rita Benneditto’, Alcione, Zeca Baleiro, de quem cantou “Babylon’, Antônio Vieira e César Teixeira, que tinha acabado de conhecer.
E como uma cidade que não quer envelhecer sem viver o presente, vale a pena exaltar que essa versão do MPB Petrobras com Jussara Silveira teve o sabor de uma São Luís com o perfil de a ‘Ilha do Amor’ e a genética sonora de uma cidade portuguesa, com certeza !