Os três dias de viagem ao Rio de Janeiro fez legitimar que tenho sede de arte. Aproveitei para assistir o espetáculo “Tatyana”, da bailarina e coreógrafa paranaense Debora Colker, o show do rapper paulistano Criolo Doido, com direito a participação de Caetano Veloso, em dueto na canção “Não Existe Amor em SP”, além de pautar uma entrevista com a cantora maranhense Rita Ribeiro. Os desencontros impediram um pingue-pongue face a face. Mas, conseguimos papear virtualmente sem perder o foco e a vontade de saber a quantas anda a carreira da artista.
Em meio a perguntas e respostas, a cantora Rita Ribeiro diz estar, no momento, em recolhimento artístico. Ela se prepara para uma nova fase musical e confessa que está pesquisando repertório e construindo novas sonoridades para o próximo trabalho, que será lançado no tempo certo.
Durante a conversa, Rita destaca os oito anos em cartaz do Tecnomacumba, considerado por ela um projeto musical vitorioso. Ela se posiciona sobre a nova ordem musical brasileira. A artista também fala dos 400 anos de São Luís e deseja que o povo seja agraciado com um grande calendário cultural programado para festejar o aniversário da cidade, em que as manifestações artísticas locais sejam prioridades.
– E, mais que tudo desejo que haja uma consciência e um interesse maior em manter São Luís íntegra e preservada por mais 400 anos – defende a maranhense Rita.
Pedro Sobrinho: O que a artista Rita Ribeiro está fazendo atualmente ?
Rita Ribeiro: Estou no momento em recolhimento artistico, preparando-me para uma nova fase musical, pesquisando repertório e construindo novas sonoridades para o próximo trabalho que será lançado no tempo certo.
Pedro Sobrinho: O tempo é implacável e o mundo gira com uma rapidez enorme. E como a sua música acompanha essa mudança ?
Rita Ribeiro: “O tempo não para e no entanto, ele nunca envelhece”. Um dos primeiros sábios ensinamentos que aprendi na vida artística é ser eterna aliada do tempo. Acredito que dessa forma tudo o que acontece na minha musica é sempre de forma harmoniosa e atemporal. As mudanças são sempre necessárias ao seu tempo, mas o que nunca podemos perder é a essência do que somos e a consciência do caminho que queremos trilhar. Por isso, procuro sempre estar atenta ao movimento da minha musica no tempo.
Pedro Sobrinho: Leila Pinheiro, em entrevista ao G1, definiu o momento da música brasileira e internacional como ‘exótica’ e ‘bizarra’, criticando músicas em que prevalece a poesia: ‘eu digo tcha, eu digo tchu..tcha!.tcha !tcha! e pronto!) Você comunga dessa opinião ?
Rita Ribeiro: Esse é um assunto um tanto polêmico e contraditorio sobre vários aspectos. Concordo quando Leila critica essa forma imperativa de composição que cada vez toma conta da musica brasileira. Isso é reflexo da educação e das oportunidades oferecidas ao povo. Tudo ficou aparentemente mais fácil, mais fútil e descartável. Atualmente quase ninguém se liga na consistência poética das letras. É como se não tivéssemos mais nada a dizer ou defender. Esquecemos que durante muito tempo a musica serviu como forma de protesto as normas estabelecidas e que mesmo nossos compositores mais românticos sempre tiveram uma abordagem mais revolucionaria sobre o amor e sua capacidade de transformação. Perdemos muito no conteúdo das canções. Ainda quero acreditar ser possível uma revolução através da musica, pois sei que em contrapartida desse movimento alienado, existem grandes compositores de varias gerações empenhados em manter viva a tradição da boa musica brasileira.
Pedro Sobrinho: Você acha necessário correr riscos diante dessa nova realidade musical brasileira ?
Rita Ribeiro: Pra mim, artista que não arrisca, é artista morto. O desafio está justamente em não se acomodar e em não seguir apenas regras estabelecidas. É importante criar novas regras e subverter a realidade que se impõe de forma autoritária dentro do meio musical. Acredito que no dia que entenderem a arte e, especial, a musica brasileira como atividade basica na formação do povo, teremos muito mais oportunidades de escolhas. Poderemos interferir muito mais e de forma consciente sobre o que é melhor para nossos ouvidos.
Pedro Sobrinho: E vamos falar do Tecnomacumba. Tive o privilégio de assistir, em novembro do ano passado, o show do Tecnomacumba, no teatro Rival Petrobras, no Rio de Janeiro. Vi um show concorrido em que os cariocas assimilaram a ideia e festejaram no palco. A que você atribui essa interação ?
Rita Ribeiro: São 8 anos de festa, celebração e devoção. O Tecnomacumba provou ser um projeto vitorioso, popular e atemporal. Tudo que hoje acontece em relação ao projeto deve-se a devoção, carinho e respeito do publico, especialmente os cariocas, que me acompanham durante todos esses anos. Tenho completa sensação de dever cumprido e me sinto vitoriosa no meu objetivo de mostrar ao povo brasileiro o quanto a nossa musica deve a religiosidade africana. Tecnomacumba é um manifesto de brasilidade, uma intervenção cultural que busca manter viva a cultura popular de nosso país.
Pedro Sobrinho: E como ficou o projeto do disco “Suburbano Coração”, em que você chegou anunciá-lo como o sucessor do “Tecnomacumba’ ?
Rita Ribeiro: Tá na gaveta esperando uma oportunidade futura, o importante é ter sempre boas ideias para oferecer. Suburbano Coração é apenas uma questão de tempo.
Pedro Sobrinho: O assunto do momento nos quatro cantos de São Luís converge sobre o Quartocentenário da cidade. Rita Ribeiro foi convidada para participar da festa ?
Rita Ribeiro: Até o presente momento não fui chamada e nem sei qual é a programação cultural para festejar os 400 anos de nossa ilha. Independente de ser convidada ou não, espero que o povo maranhense e, especialmente, os ludovicences sejam agraciados com grandes eventos comemorativos ao longo desse ano e que acima de tudo seja destacada a cultura maranhense nessa programação.
Pedro Sobrinho: E como nem só de pão e festa vive o homem. Você teria um recado especial para uma São Luís prestes a completar quatro séculos ?
Rita Ribeiro: São Luis é nossa terra, nossa ilha, patrimonio cultural reconhecido mundialmente. É terra de poetas, músicos,vestida de azulejos e pedras de cantaria. É nosso dever preserva-la, exaltá-la, exigir das autoridades que sejam tomadas todas as providências para a manutenção desse patrimônio. Espero que haja um grande calendário cultural programado para festejar os 400 anos de nossa ilha. E, mais que tudo desejo que haja uma consciência e um interesse maior em mantê-la íntegra e preservada por mais 400 anos.”Todo mundo canta sua terra eu também vou cantar a minha modéstia parte seu moço minha terra é uma belezinha.” (Rita Ribeiro encerra o bate papo improvisando incidentalmente em trechos da poesia “Todo Mundo Canta a Sua Terra”, composição de João do Vale/Julinho).