A festa Bailinho, uma das noites mais famosas do país, está de volta ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, após nove meses rodando o Brasil. E voltou no último domingo (8) com Gilberto Gil como o responsável pela trilha sonora – mas não no palco, terreno onde é consagrado, e sim como DJ.
Ter Gil cuidando do som da noite causa pouca estranheza, mas ele é raridade: quem dá o som em boa parte das festas mais disputadas atualmente são blogueiros, atores, ex-BBBs, modelos e celebridades. Uma compilação de sucessos garante pista cheia. E os DJs ficam de fora ou com papéis secundários. A invasão de “não-DJs” às pistas de dança do país divide opiniões e promove um debate entre produtores e, claro, DJs.
Criado pelo ator Rodrigo Penna, o Bailinho, que completa o seu quinto verão carioca e já teve edições em 12 cidades, engrossa uma lista extensa de festas que cresceram para além das divisas estaduais tendo como um dos diferenciais a presença de celebridades convidadas para tocar.
“A ideia do convidado é uma brincadeira. Combina com o clima da festa”, explica Penna, que apesar da experiência prefere não se intitular DJ. “Toco há mais de 20 anos, mas sou um produtor que toca. Não estou tirando o lugar de ninguém. Já vi muita cara feia, mas, sinceramente, estou pouco me lixando. Tem muito recalcado por aí. Tom Jobim tinha razão: sucesso no Brasil é uma ofensa pessoal. Tem muita gente querendo só aparecer mesmo, mas esse julgamento é careta.”
Na mesma linha, há três anos à frente da festa Funfarra, o também ator Pedro Neschling engrossa a reclamação contra o que chama de “patrulha”. Para ele, o profissional de qualidade, em qualquer área, vai sempre ter o seu espaço. “Os DJs bacanas que conheço não se preocupam se fulano ou beltrano está brincando de DJ.”
O DJ e produtor musical Nepal, que no sábado (7) tocou na Coqueluxe, no Studio RJ, concorda: “Não vai ser um ex-BBB ou o cara da novela que vai tirar nosso lugar”. Ele culpa o “oportunismo” dos produtores pelo exagero de celebridades nas pistas. “Em vez de colocar alguém que vai priorizar a música, chamam o famoso para atrair público. É muita falta de criatividade”, ataca, com uma ressalva. “Tem uma grande diferença entre o convidado que vai lá tocar uma vez, de brincadeira, tipo a galera do Bailinho, que já vive bem na própria profissão, e o que começa a viver daquilo. Essa galera não passa da segunda base”.
O DJ Paulo de Castro, que também atende por Zeh Pretim, como o baile que promove, acha ruim quando convidados querem “tirar onda” de DJs, sem nunca terem tocado na vida, e dão as caras nos eventos apenas para aparecer nas fotos. “É preciso respeitar a profissão.”
Com alguns cuidados técnicos, no entanto, é possível um amador levantar o público, admite: “Tem que saber o quão não-DJ ele é. Se dá para confiar que pode tocar sozinho ou se é preciso deixar um DJ de backup. A música não pode parar”, explica Zeh, que no sábado (7) participou de noite dedicada a Tim Maia na quadra do Santa Marta, favela do Rio de Janeiro, e na quarta-feira (11) toca no desfile da Addict, no Fashion Rio.
Até Rodrigo Penna, um dos responsáveis pelo sucesso do modelo de festas com DJs convidados, acha que há exageros. “Virou a casa da mãe Joana. Tem genérico de convidado, tem genérico do baile… Mas, como tudo na vida, dá para diferenciar o bom do ruim.”
Criador do Chá da Alice, outra festa que começou entre amigos e hoje lota casas por todo o Brasil – sábado (7) foi a vez do Circo Voador, no Rio -, Pablo Falcão gostaria de menos discussão e mais união. “Não é para ter disputa. Seria ótimo se existisse uma classe mais unida de produtores e DJs. Acaba rolando uma energia de competição. É pequeno, bobo.”
Qual seria, então, o papel do DJ profissional, que estuda, pesquisa e domina a técnica? “É legal trazer uma coisa nova para a pista. O público tem preguiça e quer cantar o refrão. Cabe aos DJs reeducar aos poucos. Colocar uma música que ninguém conhece. Quando é colocado de uma maneira legal, a galera acaba curtindo. Esse papel é o DJ nas festas, já que a cultura do jabá acabou com a reeducação no rádio”, opina Nepal.
Zeh Pretim simplifica: “A função do DJ é animar a festa, fazer a pista pegar fogo, com ou sem técnica. Seleção musical é tudo!”
Polêmicas à parte, todos concordam em um ponto: amador ou profissional, o mais importante é que o DJ saiba sentir o que o público quer. “Um: toque para as mulheres. Elas que puxam a animação. Dois: olhe para a pista. Tem que sentir o clima”, dá a dica Penna. “O cara tem que chegar na pista e ter feeling. E isso vem da paixão por música”, acrescenta Nepal.
Fonte: G1