A coordenação do Curso de Comunicação Social da Faculdade São Luís promoveu entre os dias 1º e 3 de junho, o 4º Fórum de Jornalismo, que trouxe como tema central o sugestivo tema: “Sou Jornalista, E Agora ?”. Foram três dias em que o corpo de estudantes do curso puderam refletir, questionar e buscar uma receita para o exercício de uma profissão fascinante, porém cheia de desafios a enfrentar.
Na segunda noite do encontro, o jovem jornalista e empreendedor, o “xará” Pedro Henrique, o jornalista multimídia e mundano Xico Sá, [euzinho aqui], e [todos nós ] mediados pela professora e comunicóloga Jô Dantas discutimos sobre o “Jornalismo: dos grandes veículos às redes sociais”. Uma tema cheio de complexidade, porém da hora.
Foi uma noite proveitosa em que Pedro Henrique falou do seu convívio com as redes sociais e preferiu buscar informações junto ao anfitrião da noite, o jornalista Xico Sá.
Com seu jeitão irreverente, instigante, inquieto convenceu a todos os presentes falando da sua vasta experiência profissional e de como fazer jornalismo multifacetado, onde o discurso vai do futebol à política, da música à literatura. Enfim, assim se define profissionalmente Xico Sá.
O jornalista que nasceu no Crato (CE), torcedor do Icasa, mas que construiu história no Recife (PE), passou meteoricamente pelo Rio de Janeiro e adotou a Paulicéia Desvairada do poeta Mário de Andrade para fixar residência e se tornar um torcedor de carteirinha do “Peixe” santista.
Ousadia e Mundanidade
Em muitas palavras e frases citadas, ‘compulsoriamente’, pelo jornalista Xico Sá, o que me chamou atenção quando disse que “foi chamado para o mundo movido pela altivez, autoestima, ousadia e a irreverência do povo nordestino” [características essas que contribuem para quebrar as barreiras de um preconceito regional ainda existente].
E logo me veio o questionamento. E o Maranhão é realmente um Estado nordestino ? Infelizmente, somos uma miscigenação regional caracterizada como Meio Norte, o que nos deixa híbridos e confusos, mas com um certo orgulho pelo fato de nos situarmos no mapa do Brasil por uma riqueza cultural, costumes e ecossistemas diversos.
Pois bem, diante do improviso de Pedro Henrique, Xico Sá e Jô Dantas, como mediadora, optei por uma fala escrita. Um discurso lido na íntegra. Foi estratégia para não perder o raciocínio. Afinal de contas, o tema em questão é cheio de nuances, pluralismo e complexidades. Portanto, cautela para não perder o fio da meada.
Bom, qual o estudante de jornalismo não ouviu alguém dizendo que saber lidar com as mídias sociais faz parte do futuro da profissão ? Pode ser um professor fissurado em internet, um chefe um pouco mais moderninho ou até o amigo de turma que já tem conta em umas quinze redes diferentes. O fato é que as tais novas mídias, queira você ou não, trouxeram transformações que exigem que nos adaptemos – para dizer o mínimo.
Não é à toa que grandes jornais do Brasil e do mundo, como a Folha de São Paulo, O Globo, etc., apostaram no jornalismo online e utilizando as redes sociais como aliados. Aqui, no Maranhão, as empresas de comunicação passaram a acreditar e investir no jornalismo online pela importância desse novo formato de fazer jornalismo, que gera audiência e dinheiro, e também dialoga com as redes sociais.
Assim como os outros veículos de comunicação, a internet tem vida própria, suas particularidades, e nos proporciona um universo, uma gama de informação nas mais variadas correntes. Não podemos esquecer que ela também veio para chacoalhar, dinamizar a linguagem da informação e, ao mesmo tempo, é um instrumento que veio para convergir, somar com os veículos já existentes, entre eles, a televisão, o jornal impresso e o rádio.
Sabemos também que a internet e as novas tecnologias mudaram drasticamente os hábitos e a maneira de se consumir notícias. Mas ninguém consegue responder a esta perguntinha incômoda: as pessoas estão mais e melhor informadas ?
Na minha opinião, aumenta o número de blogueiros, orkuteiros, facebookers e twiteiros, mas não aumenta o número dos bem informados. Este é um dos saldos da revolução informativa que, mesmo sendo um canal de comunicação valioso, com uma velocidade impressionante, às vezes parece estar resumida a uma coletânea de factóides, [principalmente quando acesso o orkut e o facebook e tenho a sensação que as redes não passam de um site de intrigas e relacionamentos].
Eu parei, pensei e percebi. Em 26 anos de profissão temos de ter cuidado com essa tal da modernidade e toda essa revolução no jornalismo. Mesmo assim, procurei me adaptar a essa nova realidade, até porque eu não quero virar bolsa de madame. E percebi a necessidade de me reinventar, pois essa é a receita básica, para qualquer profissional, principalmente quem trabalha com comunicação.
Comecei com o rádio nos anos 80 e já fazia a convergência com o jornal impresso. E ao ouvir que o futuro do jornalista era tornar-se multimidia, adotei o jornalismo online logo que ele ganhou corpo no Maranhão. E daqui por diante, procurei exercitar jornalismo usando o rádio, o jornal impresso e o online, o que tem sido uma experiência enriquecedora, por você trabalhar com linguagens distintas, mas com a percepção que todos esses veículos têm algo em comum: a informação.
Pois bem, essa nova realidade informativa da internet não mudou a maioria dos valores sociais vigentes”. Mas, devemos reconhecer que a convivência nem sempre é tranqüila com os outros meios de comunicação tradicionalistas, pois vive-se a transição de um modelo de cobertura jornalística.
Toda transição é uma luta de rupturas e mudanças que nem sempre são bem digeridas pelos tradicionalistas. Da mesma forma, os seguidores das novas tecnologias tendem a transformá-las em mitos, o que cria generalizações tão equivocadas quanto a resistência ao novo. Portanto, cautela, pois há espaços para as duas formas de se fazer jornalismo.
A avaliação que faço é que a internet, as redes sociais, são tão valiosas quanto a competência de quem estiver usando estas ferramentas. Um outro detalhe a ser constatado é que a partir do uso maciço das novas mídias, o argumento de que a imprensa é dominada por poucos grupos não é mais válida. Você pode buscar mídias alternativas para sobreviver ao mercado definido como convencional, eis como um bom exemplo, os Blogs.
Por outro lado, a dificuldade não está mais na falta de informação, mas na falta de edição. Ninguém mais sabe onde encontrar informação confiável. Na minha opinião, é preciso que o internauta, leitor, saiba discernir que fontes têm mais credibilidade. A pressa em abastecer em tempo real um veículo de comunicação aumenta o potencial de erro.
O foco será a reflexão, a busca por outras informações e cabe aos jornais e revistas, cumprirem esse papel buscando informações mais detalhadas. Eis aí, um mercado de credibilidade e uma escola para quem gosta e tem como opção o jornalismo escrito.
Ser Profissional
E fazendo uma relação entre o discurso das novas mídias e o mercado de trabalho no jornalismo, chego a conclusão que o jornalista tem que estar preparado para a profissão e para a vida. Tem que encarar o jornalismo como ciência social.
Aí, independente de nota no calendário escolar, do diploma, da especialização jornalística escolhida para ser desenvolvida no mercado, ou se você trabalha para “fulano, cicrano ou beltrano”, o essencial é ter um conhecimento geral, a leitura de mundo com criticidade e que a prática do jornalismo diário seja exercitado com o olhar local e o restante no Globo.
Costumo dizer para os meus alunos que devemos ser cosmopolita com o olhar em Nova York, mas o destino no Maranhão, mas que também devemos fazer jornalismo além do Estreito dos Mosquitos.
Desta forma, o profissional se tornará, de verdade, adaptável a qualquer um desses veículos. E, mais, defendo que não devemos virar as costas para o senso comum, mas se pudermos fazer um jornalismo mais criativo, instigante e que fuja do lugar comum, de vez em quando, estaremos dando também a nossa parcela de contribuição à sociedade.
E procurando não ser afetado, mas realista e defensor dos meus ideais, adotei uma frase citada pelo ator Ney Latorraca, em entrevista à jornalista Marilía Gabriela, no canal GNT. “Eu prefiro agradar com o meu trabalho um homem inteligente do que uma cambada de ignorantes” (frase adaptada de “Hamlet”, de William Shakeaspeare).
Vocação e Missão
E aproveitando o tema central do 4º Fórum de Jornalismo da Faculdade São Luís, “Sou Jornalista, E agora ?”. O meu recado foi singelo e direto. Não espere a hora, faça acontecer…
Ser jornalista é uma missão e para isso é necessário ter vocação. É uma profissão em que podemos aliar o dinheiro e o prazer e às vezes apenas o prazer de ser jornalista. E encerrei a fala, definindo que para ser jornalista é necessário atitude. E ter atitude, de acordo com o DJ Dolores, o sergipano conhecido como Helder Aragão, é correr riscos.
Imagens: Ribeiro Jr/Fac São Luís.