Por conta do virtuosismo ao violão, Luiz Jr. era constantemente cobrado pela gravação de um CD solo. Como tudo vem na hora exata, o primeiro disco do instrumentista foi concebido no fim do ano passado, e ainda está novinho em folha para ser apreciado em qualquer ambiente apropriado para uma audição instrumental. Tive a oportunidade de ouvir em um faixa a faixa e não me surpreendi com a performance de Luiz Jr. O disco “Luiz Jr. Instrumental” reflete a trajetória de uma pessoa que veio ao mundo a serviço da música. E como todo bom músico é um produto do meio.
Histórico – Filho e neto de músicos, o envolvimento do violonista Luiz Júnior com a música vem desde os oito anos de idade e sua carreira profissional começou aos 14 anos, tocando nos shows da cantora Virna Lisi, de quem é irmão. Ainda criança, levado pelo pai, o saxofonista José Luís, acompanhava as rodas de Choro, no bairro Monte Castelo, onde morava em São Luís. Nesse ambiente conheceu instrumentistas precurssores do Choro no Maranhão, como Zé Emetério, Palito do Sax, Zequinha do Sax, Neres do Trombone, Gordo Elinaldo e Solano 7 Cordas. Nessas roas de Choro, iniciou os primeiros acordes.
Na adolescência ingressou na Escola de Música do Maranhão “Lilah Lisboa”, onde estudou violão clássico. Em seguida, morou em Beagá. Iniciou os estudos de harmonia, inspirado nas obras de Toninho Horta, Milton Nascimento, Lô Borges, entre outros. Mais tarde, mudou-se para São Paulo (SP), para estudar no Conservatório Souza Lima, além de fazer shows na capital paulsita. Também passou uma temporada no Rio de Janeiro (RJ). Em 2000, retornou ao Maranhão, onde mora e trabalha exclusivamente com a música.
Piauiense que veio para o Maranhão ainda criança, o violonista Luiz Júnior, ainda na faixa dos 30, é dono de um talento a toda prova e acumula 23 anos dedicados à música. Músico experiente, já percorreu o mundo apresentando o seu trabalho, em Atenas (Grécia); Lisboa e na Cidade do Porto(Portugal); Madri (Espanha); Genebra, Lousane, Montreaux, Neouchatel e Friburg (Suiça); Hustock e Berlin (Alemanha); Londres e Walsall (Inglaterra). Tem como padrinho musical o renomado violonista e compositor carioca Guinga. Fez a abertura do show “Só Pixinguinha”, dos instrumentistas Zé da Velha e Silvério Pontes; e do show dos instrumentistas Yamandu Costa e Armandinho.
Em 2008, dividiu com o maranhense Zeca Baleiro a direção musical dos cd’s Emaranhado, de Chico Saldanha, e Balançou no Congá, de Lopes Bogéa. Gravou no CD do percussionista Papete; de Tom Cleber; no DVD do multinstrumentista Chiquinho França; e no DVD do instrumentista cearense Manassés. Como violonista, foi vencedor, por seis anos consecutivos (2004 a 2009), do Prêmio Universidade FM, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Dirigiu shows de grandes artistas maranhenses como Cecília Leite, Fernando de Carvalho, Cesar Teixeira, Gabriel Melônio, Josias Sobrinho, Célia Maria, entre outros. Dirigiu e participou como instrumentista dos CDs Canção de Vida e Samba da Minha Aldeia, da cantora Lena Machado, e atualmente produz e dirige os dicos dos compositores e intérpretes maranhenses Cláudio Leite e Aquiles Andrade.
Autoral – Fiz questão de contar um pouco da trajetória desse músico, que pode até ser piauiense, mas desculpem os amigos do vizinho estado, Luiz Jr. é nosso. E o seu primeiro disco com onze faixas e autoral veio para legitimar esses anos de estrada. É um registro bastante valioso a começar pela concepção caseira, ou seja, gravado no estúdio Bagasound, sendo todo ele arranjado e produzido pelo próprio Luiz Jr e o auxílio luxuoso da maioria de instrumentistas locais.
O disco traz composições próprias, tais como a faixa de abertura, Pacu, de autoria do próprio artista. Destaque para “Samba pra Lua” – do pianista e tecladista Carlinhos Carvalho, vencedora de festival piauiense, além da já consagrada toada de bumba-meu-boi “Urrou do boi”, do compositor Coxinho, considerada um hino do folclore maranhense. O álbum tem participação especial de instrumentistas renomados como o percussionista maranhense Papete, na música “Terreiro”; o trompetista carioca Silvério Pontes, em “Samba pra Lua”; e do violonista e compositor carioca Guinga, na música “Choro pro Guinga”. Conta, ainda, com a participação do saxofonista tocantinense Marcelo Braga, na música “Por amor” e do bandolinista maranhense Chiquinho França.
Contramão – O mais interessante é saber que mesmo em tempo de crise no mercado fonográfico, de pirataria por todos todos os lados do planeta, no Brasil tem gente apostando que ainda é possivel se fazer música que foge do lugar comum e mete a cara com muita independência. O violonista Luiz Jr é um desses bons exemplos.
E esse trabalho é fruto do suor, do talento, da capacidade técnica, criativa de quem sabe improvisar com os beats maranhenses (bumba-meu-boi, cacuriá, tambor de crioula e lelê (péla-porco) aliado a linguagem instrumental da música. E o artista tem uma sonoridade orgânica e original. Copiando as palavras de Zeca Baleiro, escritas no encarte do disco, a música instrumental feita por Luiz Jr. é “como uma festa no arraial – envolvente, colorida e amorosa. Ê boi !”
Foto: Aluizio Ribeiro/Imirante