A fantasia torta e bonita de Kanye West
Fosse apenas por suas gafes incontáveis – que incluem cantar nos alto-falantes de um avião e roubar microfones alheios – Kanye West bem poderia estar fechando esta lista, como o “mico do ano”. Mas quando o assunto é música, não há como negar que, de toda sua viagem, saiu um dos discos mais bacanas de 2010. “My beautiful dark twisted fantasy” contém samples de Gil Scott-Heron (em “Who will survive in America?”) e Black Sabbath (não reconheceu a melodia de “Iron man” em “Hell of a life”?). Para amarrar essa mistura, é preciso mesmo ter a cabeça descalibrada. (Marcus Vinícius)
A volta por cima de Eminem
Em entrevista recente à revista americana “Rolling Stone”, Eminem revelou que, quatro anos atrás, tomava diariamente cerca de 60 comprimidos de analgésicos e tranquilizantes. Numa noite, em 2007, a mistura provocou uma overdose que quase o matou. Por isso, seu retorno à cena é notável. Lançado em junho, “Recovery” deixou de lado o tom de deboche crônico que acompanhou a carreira do rapper desde hits como “My name is”, de 1999. Mais sóbrio (e sombrio), o álbum chegou ao primeiro lugar em vendas nos Estados Unidos e emplacou o sucesso “Love the way you lie”, parceria com Rihanna. Para os fãs brasileiros, 2010 teve outro marco: em novembro, Eminem fez seu primeiro show no país. (MVB)
Ele lançou uma faixa cujo título é um palavrão dos mais malcriados para os padrões americanos e que, ainda assim, foi eleita a “música do ano” pela revista “Time”. Feito de que só é capaz quem tem o vozeirão, o carisma e o groove de Cee Lo Green. Se no incensado projeto Gnarls Barkley o soulman teve que dividir os créditos com o produtor Danger Mouse, no álbum “Lady Killer”, Cee Lo domina a cena em hits que misturam romantismo e deboche puro. “F**k you”, a queridinha de 2010, foi parar até em um episódio da série “Glee”, numa versão comportada que virou “Forget you” em cover da atriz Gwyneth Paltrow. (Dolores Orosco)
A nova diva do r’n’b não tem as curvas de Beyoncé, nem faz parte da geração de garotas brancas que cantam como negras. Fina em seu terninho black-tie e sapatos bicolores, Janelle Monáe, uma americana do Kansas de 25 anos, incendiou a cena ao aparecer no videoclipe “Tightrope” dançando como James Brown e cantando com sua voz suave e vigorosa. A faixa, parceria com o rapper Big Boi, está entre os hits deliciosos do álbum “The archandroid (suites II and III)”, no qual a moça faz uma viagem futurista inspirada no clássico “Metropolis”. A boa notícia é que Janelle vem aí, abrindo os shows de Amy Winehouse no Brasil. (DO)
No ano em que a dance music se consolidou de vez no gosto popular, Dr. Luke foi o nome do electro pop. Muito mais discreto que David Guetta (o dono das paradas musicais em 2009), o produtor é o autor de dois dos maiores hits “bate cabelo” dos últimos 12 meses: “California gurls”, de Katy Perry, e “Tik tok”, de Ke$ha. Críticos dizem que ele usa sempre das mesmas artimanhas e até plagia a si próprio. As alfinetadas têm lá a sua verdade, mas é impossível negar o talento que Luke tem para criar melodias perfeitas para as rádios e pistas de dança. Quando ele toca, ninguém fica parado. (Gustavo Miller)
Em uma época em que muitos artistas miram a simples produção de singles para comerciais de TV ou toques de celular, a banda canadense criou uma obra feita para não ser consumida em pedaços. Terceiro disco de estúdio do Arcade Fire e comparado com “OK computer”, do Radiohead, “The suburbs” é um retrato melancólico sobre o homem moderno e exige uma audição pausada e repetitiva. Ironicamente, a ousadia levou a banda ao mainstream: shows lotados no Madison Square Garden e até primeiro lugar na parada da Billboard. (GM)
2010 foi o ano das vozes femininas da cena indie paulistana conquistarem os holofotes: Luísa Maita, Tiê, Karina Buhr e Andreia Dias lançaram ótimos álbuns. Mas foi uma moça com nome de flor e voz anasalada à Gal Costa quem arrebatou a crítica: Tulipa. Com letras doces e arranjos originais, a cantora lançou um dos melhores discos de MPB do ano, “Efêmera”. Tulipa também foi escalada para grandes festivais, se apresentou em programas de TV e dividiu o palco com Milton Nascimento. Ao que tudo indica, ela veio para ficar: Tulipa já é atração confirmada no palco do Rock in Rio 2011. (DO)
Shimbala-o-quê?
Quando 2010 começou, ninguém sabia o que era “Shimbalaiê”. O ano acabou, ninguém ainda faz ideia, mas a paulistana Maria Gadú continua andando timidamente pelo caminho pavimentado por seu maior hit. O primeiro álbum da cantora de 24 anos é de 2009, mas foi neste ano que ela passou a ser a centroavante da nova MPB. Aposta da Som Livre, Gadú se cerca de pessoas bem vistas por seu público (Caetano Veloso, Ana Carolina), de repertório certeiro e de números expressivos. A estreia vendeu mais de 100 mil e o CD-DVD ao vivo saiu direto com 65 mil cópias. (Braulio Lorentz)
O sertanejo pré-universitário de Luan Santana uniu fãs de Jonas Brothers e adoradores de Victor & Léo. Os shows lotados, quase sempre para mais de 20 mil pagantes, e o cachê de mais de R$ 300 mil comprovam que o ano foi do cantor sul-matogrossense de 19 anos. Dialogando e fazendo coraçõezinhos com a mão para a mesma faixa-etária, porém com calças mais apertadas e som pós-emo, o quarteto paulistano Restart cunhou o rótulo happy rock. A banda pintou de colorido o sisudo rock nacional com letras festivas e som sem firulas. (BL)
Yes, Sir!
Depois de uma espera de 17 anos, o público brasileiro pôde se reencontrar com Paul McCartney no último mês de novembro. Na ocasião, o músico fez três apresentações arrasadoras (uma em Porto Alegre e duas em São Paulo), todas com ingressos esgotados, e trouxe um pouco da beatlemania de volta ao Brasil. Aos 68 anos, mostrou energia em um show com cerca de 3 horas de duração e quase 40 músicas, a maior parte delas clássicos da ex-banda. O cantor também esbanjou profissionalismo, simpatia e bom humor ao se comunicar com a plateia em português e ao autografar o braço de duas fãs no palco. Ao partir, deixou saudade e a dúvida: fará novos shows por aqui? (Henrique Porto)
Não valeu ‘esperar pelo homem’…
Os ingressos para sua palestra na Flip evaporaram em minutos. Uma semana depois, veio a bomba: Lou Reed cancelou sua vinda ao Brasil por… hm… “motivos pessoais”. OK, fã que é fã perdoa. Segunda chance: em novembro, o lendário roqueiro de Nova York desembarcou enfim em São Paulo para lançar “Atravessando o fogo”, livro que compila letras que escreveu para o Velvet Underground. Proibiu flashes dos fotógrafos, reclamou do hambúrguer frio e, de fato, autografou algumas centenas de cópias. Para coroar, no mesmo dia em que McCartney presenteava os fãs com um repertório recheado de Beatles, Reed foi na contramão: tocou quase só faixas (?) de “Metal machine music”, disco de barulho puro que é considerado o mais chato de sua carreira, e mandou uma penca de gente embora pra casa mais cedo. Lou Reed anda tão de mal com a vida que proibiu a pobre Susan Boyle de gravar ‘Perfect day’ (Diego Assis)
Fonte: G1