Passei algum tempo escutando o CD duplo, “Baiãozinho Nuar”, do músico nascido em Pernambuco, paraibano de coração, Assis Medeiros, e só agora resolvi me manifestar sobre o trabalho e fazer uma resenha. Em primeiro lugar, é bom que se diga, Assis Medeiros é uma figura conhecida de todos nós. Passou uma chuva em São Luís, onde só contribuiu como jornalista e na cena cultural da cidade. Atualmente mora em Brasília, onde divide o tempo entre a burocracia do Congresso Nacional e a música. Com certeza, sabe dividir bem as coisas e a maior prova é que continua a fazer barulho com a música.
Quanto ao trabalho em overdose, Assis vai contra a corrente da indústria de massa ao colocar no mercado um disco todo dedicado ao baião. Indagado, ele diz que o disco “não se trata de um baião convencional e o define como a alma dele dividida entre o mar de João Pessoa e o céu de Brasília, entre o pulsar da zambumba do Maranhão e a zuada das guitarras. Com essa concepção dá para legitimar o trabalho como sendo conceitual, autoral e diverso, característica de uma vida marcada por andanças e experiências regionais brasileiras.
O baião que se ouve no primeiro disco traz onze faixas e tem como base a viola de 10 cordas, a zabumba, um quarteto de cordas e instrumentos de sopros (com destaque para a sonoridade de corne-inglês). Os arranjos do “Baiãozinho” são do baixista e maestro Leonardo Batista, amigo de longas datas do compositor.
Neste disco, Assis soa calmo em canções construídas com arranjos sutis e a harmonias que mostram a face mais regional do músico. Ele dialoga com vários ritmos nordestinos, como a ciranda, o boi do Maranhão e o maracatu. “Pode até não ser baião de Luiz Gonzaga ou João do Vale”, brinca o artista. Enfim, um disco cuja a base é uma só: baião, sim senhor !
Enquanto o primeiro disco traz uma textura sonora ‘linkada’ no Nordeste e no sertão – o Nuar é a face mais urbana do músico, mais concreto armado de Brasília. Ele vive na capital federal e política do Brasil, cidade formada desde sua construção por brasileiros de diferentes cantos do país. Esta multiplicidade raças e sotaques que contribuiu para a formação cultural dos chamados candangos e está literalmente presente no trabalho duplo de Medeiros.
Repertório
Entre as canções de “Baiãozinho”, destaque para “Coqueirinho” (dele/do maranhense Hamilton Oliveira), “Baiãozinho Nuar” (dele/do maranhense Hamilton Oliveira, “No Quebrar damaré”, “Canto Torto”, as três canções já conhecia desde o período em que Assis morava em São Luís, além de “Vinte Léguas de Amor” (dele) e “Vento Geral” (dele/Maurício Melo), “Uma Tarde Linda” (dele/Gustavo Gracindo). Já do “Nuar”, “Cobral Coral” (dele), “Não” (dele), “Pegadas” (dele) e “Solitário”, poema de Augusto dos Anjos musicado por Assis.
Independente
O “Baiãozinho Nuar” é o segundo disco de Assis e saiu pelo seo “Sete Sóis”, com distribuição Tratore. Numa época em que gravar disco parece uma atitude fora de moda, o CD duplo de Assis Medeiros quebra o paradigma e se resume como pura ousadia. Para conhecer o trabalho de Medeiros acesse www.myspace.com/assismedeiros.