Basta entrar setembro e São Luís se torna a capital da moda. Griffes, modelos, celebridades e simpatizantes se reúnem envolvidos pelas cores, tendências e estações no SLZ 2010.
Se a teoria que ‘o mundo trata melhor quem se veste bem’ é legítima, a única coisa que defendo com unhas e dentes é que elegância não se compra, você traz de berço e tem como ideologia para viver. Não vamos [aqui] tentar entender o que é moda, quem sabe se vestir ou não de acordo as tendências, se alguém é ‘chic’ ou ‘cafona’ porque está ou na moda. Enfim, o que curto em meio a um desfile é aquela trilha sonora feita com personalidade para definir o perfil da passarela.
Assim como dizem por aí, que lei não se discute, se cumpre, sou da opinião de que moda e música, também não se questiona, pois sempre estiveram diretamente relacionadas. Enquanto a moda dita tendências do que as pessoas vestem, a música dita tendências de ritmos, misturas e sons que compõem a trilha sonora da vida de todos.
A moda está na música. A música acompanha a moda – A sintonia entre moda e música é perfeita, harmônica. A influência que exercem no dia a dia de diversas tribos, comunidades, cria estilos e conceitos, definindo tendências culturais e comportamentais que marcam gerações.
É inevitável separar estes dois segmentos. Cada movimento musical é associado a um visual próprio, determinando a atitude ligada ao gênero. Num desfile de moda, a trilha sonora deve ser extremamente adequada à proposta da coleção e à ambientação da passarela. Entra em cena a sensibilidade apurada dos criadores – o estilista e o DJ, [discotecário] – pois são eles os regentes da “orquestra” que apresentará as novidades esperadas pela “plateia”.
Nesta fantástica união, o conceito de moda é “musicalizado” e cada ideia para a roupa ganha uma ilustração melódica específica. A moda interfere no estilo musical e a música influencia conceitos de moda.
Música & Tendências
Bandas e cantores sempre ditaram tendências vestidas pelo público, comprovando que música pauta moda. Elvis definiu estilos da cabeça aos pés, quando instituiu os topetões com gumex e ensinou os jovens a adotarem botas e jaquetas. A cabeleira baixou no início dos anos 60 com a febre dos Beatles em início de carreira. O quarteto fazia o estilo “menino-família” com as franjinhas grudadas na testa, mas, a partir da segunda metade da década, os rapazes de Liverpool descobriram a veia revolucionária, assumiram os fios rebeldes e deixaram a cabeleira escorrer livre, leve e solta.
Música já ia além da diversão e fazia moda. O rock deu voz ao inconformismo social que marcou a juventude da época, e, para isso, foi preciso contestar exibindo um visual transgressor. Depois vieram diversos estilos – Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Santana, Robert Plant, Frank Zappa, John Kay etc. Referências indígenas apareciam intensamente no final dos anos 60 em bandanas nos cabelos e tiras nas roupas, inspirando, posteriormente, Black Sabath, Joe Perry, Susy Quatro, Alvin Stardust, Motley Crue, David Lee Roth, Axl Rose e Slash.
Nos anos 70, o visual “bicho-grilo” perdeu espaço devido ao novo som que dominava as paradas de sucesso e as pistas de dança. As divas Gloria Gaynor e Donna Summer instituíram a “Era Glitter” com muito paetê, lurex, sandálias plataforma e boca de sino, trazendo muito brilho para ferver ao som dos batuques eletrônicos, sem refletir sobre antropologia, sociologia e filosofia.
A moda “disco” mencionava o futurismo, inspirada nas roupas metálicas e brilhantes dignas de astronautas. Grandes estilistas como Courrèges, Paco Rabanne e Larry Le Gaspy assinaram os modelitos espaciais adotados pelas estrelas da discoteca.
A década terminou com metade dos jovens usando cabelo black power e sandálias multicoloridas no pé, e outra metade vestida de preto, com madeixas espetadas e coloridas, pele esbranquiçada, olheiras profundas, além de brincos em tudo quanto é parte do corpo
Inicialmente, o visual esquálido apregoado por punks como Sid Vicious tomou formas sadomasoquistas até ser transformado no ‘‘punk de boutique’’ e adotado por roqueiros das mais diversas vertentes. Roupas e acessórios de couro, látex e cetim preto ganharam apetrechos metálicos, como pinos e tachinhas.
Tudo era válido para “assustar” – desde as coleiras com espetos, até as botas de saltos altíssimos, muito exploradas por Kiss, AC/DC, Ozzy Osbourne, Marilyn Manson, Alice Cooper e Nina Hagen, a ‘‘linda garota de Berlim’’ de Supla.
Paralelamente, alguns cantores adotaram o visual andrógeno, já ensaiado por David Bowie, Iggy Pop, Micky Jagger, Randy Jones e Dave Davies. Na década de 80, assumir o lado do sexo oposto não era problema para artistas como Boy George, Freddy Mercury e Cher.
O visual feminino foi um sucesso entre os ‘‘metaleiros”. Apesar da imagem machista passada pelos cantores, a profusão de acessórios, jóias, maquiagem — além das cabeleiras imensas — não dá para negar a androgenia, bem definida pelo Twisted Sister: ‘‘Vestir-se como mulheres, praguejar como caminhoneiro e tocar como loucos’’.
Na segunda metade da década de 80, começando a colher os frutos do sucesso, cantoras pop como Madonna, Nina Hagen e Cyndi Lauper adotaram um guarda-roupa com cheiro de naftalina, composto de peças berrantes, garimpadas em brechós. Foi a época dos crucifixos exagerados, das meias-calças rendadas e coloridíssimas, das saias de napa, da vulgaridade camuflada pela sensualidade.
No finalzinho da década, o grunge dá seus primeiros acordes em Seattle. Kurt Cobain aparece de bermuda comprida, camisa quadriculada, botas tipo coturno. E a tendência foi seguida. Nas ruas, um espetáculo de flanela xadrez
Assim, a confirmação da música ditando moda. Até hoje espera-se dos ídolos propostas de novos estilos. Enquanto isso, vale destacar o look “pop-fashion” de Britney Spears, Sandy, Cristina Aguillera, Lady Gaga e de bandas, como as que trazem vários meninos dançando no palco com boné virado para trás.
Finalizando esta “linha do tempo”, em pleno 2010, música e moda também permitem releituras de época, como o punk de butique, os ‘darks’, o ‘new look’ dos emos, enfim tudo é moda. Agora, ainda, restam alguns anos para definir a tendência desta década, mas a única certeza de tantos remixes e desfiles é que o casamento entre moda e música é insolúvel.
Fonte: Release
[Texto: Pedro Sobrinho – Jornalista]