Está no centro da vida contemporânea o desafio de construir diálogos da cultura da boa convivência, pois as sociedades estão cada vez mais interculturais. É preciso lutar contra os comportamentos de discriminação e o de aceitar o “diferente” com coerência. Resistir contra a tentação fácil da xenofobia e do racismo. E o diálogo é a palavra chave do mundo contemporâneo: entre artes, etnias, religiões, culturas.
A Copa de Futebol, reunindo seleções de 32 (trinta e dois países), na África do Sul, é uma dádiva. Um momento importante para se expulsar de vez qualquer tipo de “Apartheid”. Um gol de placa contra o preconceito étnico. E no meio dessa celebração esportiva, despontam as duas estrelas, as vedetes da Copa: a jabulani, que mexe com a sensibilidade e a adrenalina do jogador. A vuvuzela, a marca da diversidade cultural, irreverência e da sonoridade uniforme nos gramados sul-africanos, em tempos de mundial do futebol.
Falar Vu-vu-ze-la é empreender uma viagem intercultural em uma só palavra. Ela se tornou o xodó das torcidas na África do Sul e mundo afora. A vuvuzela, aquela corneta gigantesca que é parte da mitologia do sul africanos, não só andou gerando polêmica, como tem uma das denominações mais deliciosas de se pronunciar. Falar vuvuzela é quase melhor do que assoprar uma. VU-VU-ZE-LA!!
A fama da vuvuzela, segundo a Wikipedia, data dos campeonatos africanos de futebol nos anos 90. Mas as discussões em torno do seu uso esquentaram no ano passado, durante a Copa das Confederações, quando a FIFA tentou banir a vuvuzela dos estádios. A alegação era de que ela atrapalhava concentração dos jogadores, causava danos nos ouvidos dos torcedores e cronistas esportivos, espalhava germes e impedia o pessoal de escutar eventuais avisos importantes do sistema de som do estádio. A tentativa não vingou e o motivo é claro: não há instituição oficial que consiga impedir o uso de nada com esse nome. Uma vuvuzela não respeita convenções.
Eu não tenho nenhuma relação pessoal com a vuvuzela. Nunca cheguei perto de uma. Mas, confesso, me apaixonei pelo seu nome. Mas vuvuzela também se presta para usos mais descontraídos. Não tenho nenhuma dúvida de que é um vocábulo que nasceu pra estar na boca dos humoristas. Vuvuzela, vamos combinar, também soa com um forte ar gastronômico. Não me surpreenderia entrar em um restaurante e encontrar no cardápio o famoso “Camarão à Vuvuzela”, ou um “Filé à Parmegiana com Vuvuzela”.
Para muitos a vuvuzela soa como uma imensa manada de elefantes em plena corrida. Tem jornalista que descreveu como o zumbido de uma colmeia de vespas. O presidente Lula comparou a corneta sul-africana como um amontoado de moscas barejeiras. Prefiro que sejam comparadas ao canto das cigarras. Agora, imaginem se ela fosse um instrumento criado para o jazz. O que fariam os jazzistas Charlie Parker e John Coltrane com a Vuvuzela ?
Vuvuzela também seria um bom nome pro filme VOVÓ ZONA em países latinos. Poderia ser o sobrenome do Ministro da Defesa de qualquer país da América Latina, um bom exemplo, Higuain El Pinto Vuvuzela. Comporia um bom trio de mambo, Paco Marín Y Sus Vuvuzelas. Enfim, como todo fenômeno de países emergentes, a vuvuzela é contagiante, alegre, onipresente e promissora. A vuvuzela é um instrumento simples com um nome grudento e um efeito avassalador.
Vuzulea instrumento/hábito, criado nos anos 90 na África do Sul, em pleno Apartheid, que ganhou o mundo pro povo fazer barulho nas arquibancadas; depois, sofreu uma tentativa de proibição por uma instituição oficial e jornalistas mal humorados, vaidosos, preconceituosos do dito primeiro mundo e de alguns emergentes. Enfim, resistiu. E todos acabaram tendo que engolir a vuvuzela, quer queira ou não.
Para o músico sul-africano Samora Ntsebeza, a vuvuzela se tornou tão popular que será exportada para o próximo Mundial, o de 2014, no Brasil. Será que esse, fenômeno pop e de barulho uniforme na Copa da África do Sul, iria funcionar muito bem com o nosso espírito carnavalesco ?
Meu caro amigo Pedro, sempre passo por aqui mas hoje resolvi postar esse comentário.
Parabéns pela fluidez do texto gostoso de ler, instigante e bem humorado como o autor.
Grande abraço amigo e saudades da sua companhia ouvindo boa musica, vamos marcar com nossas familias?
Roberto Pires
Que legal a sua interação. Precisamos marcar um encontro e cultivar a velha amizade. Abs.