Imprevisibilidade é seu maior trunfo. Dentro das quatro linhas, quando arranca em disparada, mesmo que tentem alcançar, ao demais, resta apenas abrir caminho. Os goleiros, coitados, tremem só de ouvir seu nome; afinal, cabe a eles a ingrata tarefa de tentar decifrar o humor dos deuses que regem seus movimentos.
Muitos, aliás, são os que tomam por capricho o espetáculo que lhes é proporcionado, talvez por não compreenderem o quão difícil é concentrar tamanha expectativa. Aconteça o que acontecer, não importa, nos próximos dias todos os olhares estarão voltados para si. A bem da verdade, alegrias e tristezas dependem, fundamentalmente, de sua performance. Um toque preciso, no momento certo, é o suficiente para selar destinos, o seu próprio e o de milhões de torcedores.
Parece cruel e é. Mas o que seria do futebol sem isso? O futebol não chegou aonde está por ser um esporte cartesiano, previsível ou justo. Faz parte do jogo considerar, dentre os mais sensatos prognósticos, a força do imponderável. É por transitar no espaço delimitado pelo cruzamento do provável com o impossível, que sua atuação será lembrada.
Vocês acham que me refiro aos craques?
Claro que não, eu me refiro a bola!
Pensem bem: numa Copa esquisita como essa tem sido até agora, em que placar de 2X1 é tido por goleada, em que dois dos principais times da competição são referenciados mais pelos técnicos do que pelos jogadores, e em que as melhores partidas, quanto ao nível técnico, fazem lembrar peladas de bairro, é sem dúvida a bola o maior destaque da primeira fase. Uma bola sem gomos, safada, que desvirtua a trajetória, vive sendo isolada para fora de campo e samba na mão dos goleiros.
Messi? Kaká?
Jabulani, pode estar certa, essa Copa é sua, e de mais ninguém.
Texto: G1- (Roberto Medina é músico da banda Los Hermanos, jornalista e escritor nas horas vagas)