Como já dizia o poeta baiano Caetano Veloso, São Paulo é o “Avesso do Avesso”. Mesmo com os arranha-céus, poluição no ar e na terra, existe uma cidade provinciana caracterizada pelo Brás, Liberdade, Bexiga, Estação da Luz, das avenidas Paulista, Ipiranga e São João, da garoa e de outros demônios típicos de um centro nervoso industrial e mundano.
Visitar São Paulo, da Semana da Arte Moderna, do poeta Mário de Andrade, em pleno mês, em que São Luís abre alas para mais uma festa e reverência a Antônio, João, Pedro e Marçal, foi prazeroso. Me senti acolhido e em casa. Toquei no Tapas Club, na Augusta, bairro tradicional, boêmio dos paulistanos e para quem vem de qualquer outro lugar.
Na pista do térreo da casa tinha gente fina, feita para “brilhar e não morrer de fome”, como o da cantora Mallu Magalhães, o polêmico jornalista Xico Sá, da Folha de São Paulo, maurícios, patrícias, dreadlocks, beatnics, emos, jogador de futebol do poderoso timão, judeus, muçulmanos, minas e manos, amigos maranhenses e baratos afins. Essa é a bandeira levantada pelo “Mixando o Mundo” compreendida por quem foi a balada na Paulicéia que é realmente desvairada.
Não fui ao cinema, não fui ao teatro, mas fui a Galeria do Rock, Mercado Municipal de SP e ao Museu. Na visita a Pinacoteca, na Estação da Luz, fiquei orgulhoso em estar próximo da obra do brasileiro Cândido Portinari exposta, graças ao amigo e mecenas Castro Maya, um dos maiores colecionadores do acervo do artista plástico.
Atravessando de um lado para o outro fiz uma rápida visita a Estação da Luz observei uma mulher, negra e humilde arriscando notas em um piano e alimentando a sua alma com acordes dissonantes e desafinados da música, numa interferência que lembra as ruas de Nova York (EUA). O instrumento foi colocado à disposição para que anônimos ou não, experimentem o prazer de fazer arte com músicalidade, em plena praça que é do povo. No mesmo prédio funciona o Museu da Língua Portuguesa.
Uma das coisas que me chamou atenção, entre tantas outras vistas no museu, foi a exposição divertida, interativa e provocativa “Menas – o certo do errado. o errado do certo”, aberta em março deste ano, e ficará em cartaz até 27 de junho. Embora seja uma palavra imprópria, inadequada, “menas” não consta nos dicionários e tampouco no vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Entretanto, não se deixou abalar e mostra pela boca do povo a sua existência.
Para os curadores da mostra, os professores Ataliba Castilho e Eduardo Calbucci, Menas está na fronteira entre tudo o que não vale e o vale-tudo. Mesmo sabendo que “menos” é um advérbio, portanto, invariável, quantas vezes já não ouvimos a “concordância” com o gênero feminino por pessoas das mais diferentes classes e idades. Ataliba acha que esta foi “uma oportunidade de expor os visitantes a um conjunto de situações linguísticas, convidando-os a refletir sobre os dados, tirando suas próprias conclusões”.
Ao ler o texto escrito nas paredes do MLP diz que “o modo de falar e escrever são sempre variados e criativos. Ele muda com o tempo, pois a língua é dotada de um dinamismo que acompanha as mudanças da própria sociedade, onde alguns segmentos sociais perdem o prestígio, enquanto outros o adquirem. E que numa sociedade plural e democrática, sempre haverá de um lado quem considere que a correção linguística é absoluta e, de outro, aqueles que adotam uma postura de relativismo completo, afastando desse tipo de discussão.
Entre as fronteiras do culto e o popular, eis a questão. “Tá legal. Tá Legal, eu aceito o argumento. Mas, não altere a ortografia do português culto tanto assim. Olha o que a rapaziada está sentindo a falta. De um bom livro, uma boa leitura e uma escola decente e com qualidade”.
Um predio antigo e bonito como esse, eles botam uma delegacia dentro. Pelo amor de deus!