Foi Luiz Caldas quem inaugurou a axé music em 1985 com o sucesso de “Fricote”. A música do cantor, da qual até hoje ninguém conseguiu esquecer o refrão (“Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear…”), é considerada o marco zero do gênero baiano.
Neste ínterim de 25 anos, assistimos a uma lucrativa indústria se formar em torno do axé e do Carnaval –fora de época ou não–, alçando seus artistas entre os mais populares e lucrativos da música brasileira. Enquanto isso, o gênero cresceu para além de Salvador, se espalhando pelo Brasil e para fora dele. Mas, em um movimento inverso, perdeu espaço dentro da Bahia para outros gêneros.
“A axé music era avassaladoramente a mais executada, a mais ouvida, a mais pedida. Ela perdeu espaço nas ruas”, defende Milton Moura, professor de história da Universidade Federal da Bahia e estudioso do gênero. “No auge, nos anos 90, quando vendia milhões de cópias, o axé era 90%. Os outros gêneros eram muito poucos. Hoje, está mais equilibrado”, afirma o jornalista do “Correio” da Bahia Osmar Martins, que já visitou dez países acompanhando shows de artistas de axé. “Mas ele ainda é tocado o ano inteiro e, quando chega o Carnaval, ganha uma dimensão maior”, diz.
Moura cita o crescimento de gêneros como o arrocha –um “bolerão popular”–, o pagode baiano –“um desdobramento do samba de roda, que se modernizou a partir dos anos 90”– e o forró eletrônico como responsáveis pelo decréscimo –e não declínio, pontua– do axé dentro da Bahia.
“Quando outros ritmos populares começam a ficar importantes, o axé se sofistica, também através de conexões na MPB, procurando atrair um público de classe média de outros lugares”, afirma Moura, lembrando o contingente de foliões de outros Estados nos blocos de Salvador no Carnaval.
Carlinhos Brown, por exemplo, assinou parcerias com Paralamas do Sucesso, Marisa Monte e Arnaldo Antunes, além de se enveredar pela música caribenha. Daniela Mercury gravou composições de Lenine e Chico César e flertou com a eletrônica. “A Ivete diz que é uma cantora de axé. Mas se você ouve “Pode Entrar” [disco com convidados como Marcelo Camelo a Maria Bethânia], é uma cantora pop”, completa Martins. “Os nomes mais importantes hoje são aqueles que fazem sucesso fora da Bahia”, defende Moura.
Para o crítico musical Hagamenon Brito, que cunhou o termo “axé music”, esta geração de cantores é “envelhecida”, citando o Asa de Águia, que como o Chiclete com Banana, começou nos anos 80. “Os ídolos de hoje são os mesmos dos anos 90”, diz Moura. Hagamenon completa: “Para o tamanho da indústria, a renovação é pequena. Surgem novos nomes, que não viram estrelas”.
A última a se tornar uma delas, entre vários outros artistas de poucos carnavais, Claudia Leitte tateia sua identidade musical, mas já bem diferente daquele que Luiz Caldas construiu nos anos 80.
Fonte: Bruna Bittencourt – Folha Online