Muito legal o post “Duas ou Três Coisas que aprendi com Lady Gaga“, do jornalista, crítico musical e apresentador de TV Zeca Camargo. Se perguntar para mim, se gosto do trabalho da Lady Gaga, direi que não é a minha praia, mas não faço vista grossa ao fenômeno. Se eu conheço alguma música da artista, direi que ouvi apenas “Just Dance“, em FMs e festinhas. A análise é simples: a renovação é necessária. Agora se caiu no senso comum é melhor não pré-julgar para não correr o risco do preconceito.
Zeca Camargo e Lady Gaga trocam idéias em bate papo informal
O maior mal da humanidade é o de antecipar conceitos e o julgar pela aparência. A partir desse comportamento é que são criados os rótulos, que você é isto ou aquilo, ou faz parte disto ou daquilo. Euzinho (aqui) deixa bem claro que não comungo com tribos, apartheid, entre outras formas de etnocentrismo cultural. Se a boa é uma ideologia para viver, o politicamente correto é experimentar, transitar com coerência e saber ouvir para conhecer melhor o produto.
Na entrevista feita com a cantora Lady Gaga, entre outras ‘persona’ do Pop, Zeca Camargo disse que aprendeu uma coisa na vida de bastidores do showbiz. “Você pode esperar qualquer coisas de um entrevistado. Os detalhes dessas entrevistas, bem como uma coleção de histórias vivenciadas com celebridades da música estão no livro “De A-ha a U2″. Declara o jornalista que no seu arquivo pessoal, prefere sempre ficar com as boas surpresas. Além de Lady Gaga, Camargo ficou de queixo caído, ou melhor encantado, com o jeitão politizado e o envolvimento social sem demagogia da cantora colombiana Shakira, mostrada em uma entrevista feita por ele no programa Fantástico, da Rede Globo.
– Fiquei simplesmente encantado com a honestidade da dedicação da cantora a um outro trabalho que não tem a ver com sua música, mas com um trabalho social: sua campanha pela educação primária de crianças pequenas, que começou com uma pequena iniciativa na sua cidade natal (Barranquilla, na Colômbia) e hoje é uma organização que está presente em vários países latino-americanos (inclusive o Brasil) e não para de crescer! Ao contrario de boa parte das celebridades que simplesmente emprestam seu rosto para uma causa humanitária (muitas vezes – infelizmente – como uma alavanca para sua carreira), Shakira é 100% envolvioda com sua causa. E a paixão com que ela fala de seu projeto, por vezes até supera a que tem pela música. Poderosa – quantas artistas atuais podem se orgulhar de fazer sucesso no mundo todo, inclusive no Oriente Médio? – e generosa, Shakira sabe que para levar adiante sua missão pessoal precisa mais ainda do sucesso em sua carreira, e assim, investe nas duas coisas com a mesma garra. Se já era fã, virei seu grande admirador depois de nossa conversa.
A outra artista que surpreendeu Camargo recentemente foi Lady Gaga.” Ela é a artista mais interessante que apareceu no pop recentemente? Ou que “Paparazzi” é a melhor música pop do ano (estamos em Novembro, e eu desafio qualquer artista a vir com algo melhor em seis semanas…)? Já me rasguei aqui em elogios com relação à sua performance recente no Vídeo Music Awards da MTV americana. Assim, vou cortar qualquer introdução para ir direto ao nosso encontro, que aconteceu há duas semanas, em Nova York“, comentou.
Para conseguir bater um papo com a artista não foi fácil. Foram cinco meses negociando com a gravadora dela, onde chegou a fazer um programa “No Limite” inteirinho nesse meio tempo. Camargo já tinha desencanado da entrevista até que um produtor (e amigo) do “Fantástico” veio com a notícia de que ele estaria disponível para a entrevista dia 29 de outubro, em Nova York. É, muita persistência, perserverança e determinação. São os ossos do ofício da profissão de jornalista.
Foi numa quinta-feira ensolarada, depois de um drinque com amigos no teto do Metropolitan Museum – onde tinha acabado de ver uma mini-exposição em torno de uma verdadeira obra-prima emprestada do Rijksmuseum holandês: “A leiteira”, de Vermmer –, Camargo foi a pé até um hotel em Columbus Circle e esperou. Sim, porque esperar faz parte…
A perspectiva não eram muito ruim: Lady Gaga, anunciava seu assistente, atrasaria uma hora para começar as entrevistas. A sugestão era que ele voltasse em uma hora – tempo que gastou então na megalivraria Borders, ali mesmo no Columbus Circle. Quando retornou, o mesmo assistente disse que Lady Gaga já estava lá, que as entrevistas já haviam começado, e que a minha aconteceria dali a mais uma hora. “Não posso dizer que reclamei de passar mais uma hora na Borders, mas, só lembrando, estava em Nova York de “folga”… Se ela atrasasse um pouco mais, poderia facilmente arruinar meu programa da noite – e só de pensar nisso eu já começava a ficar um pouco tenso”, desabafou.
No entanto, quando voltou ao quarto do hotel, exatos 60 minutos depois do segundo aviso, veio a boa notícia: ele era o próximo na fila! “E menos de um quarto de hora depois eu estava diante de um rosto redondo emoldurado por uma cabeleira loira – muito loira! – vestida num longo preto de cetim (quem, em sã consciência, recebe a imprensa de tarde para entrevistas num longo preto de cetim?), e óculos escuros “banda larga” e praticamente impenetráveis! O que esperar de uma figura assim? Bem, como já disse que a experiência me ensinou… qualquer coisa! Apesar de ser fã – e, por isso, acompanhar bem sua carreira –, naquela manhã achei que precisava me preparar um pouco melhor para entrevistar Lady Gaga. Assim, mesmo de férias – é bom reforçar –, dediquei boa parte da minha manhã a conferir outras entrevistas que ela havia dado na TV (viva youtube!), apenas para sentir o clima. Ela me pareceu extremamente atenciosa e paciente em quase todas elas (a com Johnathan Ross é a exceção gritante!), especialmente com quem lhe perguntava pela “zilionésima” vez de onde vinha seu nome (para os não iniciados, vem da música do Queen, “Radio Gaga”). Fiz uma anotação mental para não fazer essa pergunta…Diante dela, porém, toda minha pauta desmoronou. A mulher poderosa dos clipes e das poucas performances no palco que eu pude conferir parecia recatada – quase frágil. Tudo bem que essa era a quarta ou quinta entrevista do dia – essas sessões acontecem sempre em “pacote” –, mas será que ela estava tão cansada assim a ponto de mal projetar a sua não exatamente tímida voz? Seria um personagem? Um truque para eu me compadecer e tentar poupá-la fazendo a entrevista com menos do que os 15 minutos que me haviam sido concedidos? Nada disso. Aquela impressão inicial era passageira. Não demorou muito para perceber que não era eu que estava avaliando ela, mas ela que estava me “sacando”, tentando descobrir se aquela seria mais uma entrevista protocolar ou ia dar para sair uma conversa interessante. Senti-me desafiado e comecei – confesso – meio nervoso. O que foi bom, pois acho que acertei logo na primeira pergunta: se era mais importante para ela ser reconhecida como uma cantora pop ou uma artista performática…”, conta.
A resposta para essa – e as outras perguntas – você vai ver em breve no “Fantástico”. “Mas eu quis avançar um pouco essa conversa para falar mais das minhas impressões sobre Lady Gaga – aliás, como fiz no próprio livro que já citei (“De a-ha a U2”), depois de ter chegado à conclusão de que boa parte do que é dito nessas entrevistas envelhece, mas a experiência de encontrar essas pessoas fascinantes não!”, explicou.
No final do bate papo, Zeca Camargo conclui que Lady Gaga não é uma pessoa comum e vazia no cenário do pop. “Entre uma pergunta e outra, ela criticou sultimente o culto à celebridade e para quem não sabe a sua origem como cantora vem da música clássica”.
Portanto, quais são, enfim, as duas ou três coisas que Camargo aprendeu com a cantora? “Primeiro de tudo, não julgar um artista apenas pelo seu produto final – tem sempre muita coisa no seu processo criativo que pode te surpreender. Depois, nunca me desanimar com o pop – pois sempre vai aparecer gente com a sofisticação e inteligência como a dela para oferecer ao mundo um trabalho interessante. E ainda, se for para passar uma mensagem maior com sua arte, tente fazer com que ela seja simples e acessível: o que tem que ser maior é a intenção e não o que as pessoas vão receber, já que cada um interpreta tudo do jeito que quiser”, opinou.
Foto postada no Blog do Jornalista Zeca Camargo