Ao acessar internet e passeando por blogs de gente que tiro o chapéu, me deparei com comentários do articulista, colunista musical Régis Cardoso. O que me chamou atenção foram as colocações de certa forma coerentes sobre os “investidores da morte precoce’, ou seja, são os grupos de burocratas das gravadoras que vislumbram a possibilidade de ganhar dinheiro com o fim trágico de astros da música, conceituados por ele, como “porraloucas”, que de uma maneira ou de outra acabam com suas próprias vidas de maneira surpreendente, encerrando o clico antes de atingirem a maturidade ou a de curtir a velhice com dignidade.
Régis afirma que sem a ajuda de fãs desesperadamente idiotas, a tarefa desses agentes da morbidez musical não teria êxito. “São esses admiradores “paraquedistas”, que não tinham o menor contato com a obra do artista enquanto ele estava vivo e que se tornam verdadeiras “viúvas” quando o sujeito bate as botas, é que alimentam esse mercado com seu rico dinheiro, tudo gasto em zilhões de coletâneas, discos tributos, discos póstumos, pôsteres, chaveiros e o que mais puder render um bom trocado”, criticou.
O que leva as pessoas a ter esse verdadeiro fascínio por músicos mortos de maneira precoce e surpreendentes ? Como explicar que gerações e gerações de fãs devotem tristeza pseudocomovente em relação a figuras como Kurt Cobain, Janis Joplin, Jim Morrison, Elvis Presley e agora Michael Jackson ? Simples: quando um artista carismático e famoso morre de modo trágico e ainda na plenitude de sua juventude, a grande maioria das pessoas que apenas “ouviu falar” do falecido se sente “em dívida”, muito menos em relação ao moribundo e muito mais em relação aos fãs genuínos. Afinal, para os “paraquedistas”, não fica bem ficar de fora de rodas de bate-papo a respeito disso. O que teve de gente que comprou discos do Nirvana e do The Doors depois das mortes de seus respectivos líderes não foi brincadeira. Agora, a bola da vez é Michael Jackson.
Autocrítica
É claro que o mundo inteiro está chocado com a morte de Michael Jackson. Mas é preciso ter um pouco de coragem para escrever o óbvio: todos choram pelo “antigo” popstar, que gravou discos excepcionais, e não pela patética figura em que ele se transformou. Vamos lá, faça uma autocrítica e não esconda sequer uma ponta de morbidez: quantas vezes você não se pegou ridicularizando a figura do cara, suas esquisitices, seu gosto pelo bizarro, seu “nariz de massinha”, sua brancura artificial e o diabo a quatro?
A maioria dos admiradores – e não os fãs patéticos, que agora estão se desmanchando em choros convulsivos, que não foram trabalhar porque estão deprimidos com a morte de seu ídolo – sabe que a importância de Jackson para o show business não pode sequer ser colocada em um patamar conhecido deste planeta. A maneira como ele revolucionou a indústria dos videoclipes, por exemplo, permitindo que diretores levassem suas ousadias a extremos em termos de efeitos especiais que só foram utilizados pelo cinema alguns anos depois é mais do que digna de aplausos. Isso sem contar a qualidade que ele apresentou em alguns de seus discos, como Off the Wall, o melhor de todos – não, Thriller foi o seu trabalho mais famoso, mas não o melhor em termos musicais.
Mas para quem lida com música de uma maneira séria e racional, a pergunta neste exato momento é: por que ele não foi talentoso o suficiente para apagar o fracasso de seus últimos discos, principalmente do horrível e pretensioso Invencible? Por que ele não fez como todo mundo que se presta a construir uma carreira musical sólida em termos de qualidade até os dias de hoje, como fazem Paul McCartney, David Bowie, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Mick Jagger?
A resposta é muito simples: porque faltou a Jackson aquela centelha da genialidade musical que o acompanhou desde os tempos de Jackson 5 até o lançamento de Thriller, a mesma centelha que foi capengando e diminuindo gradativamente até o punhado de canções razoáveis que ele reuniu no irregular Dangerous. A partir de um determinado momento de sua conturbada vida, a música perdeu a importância. Jackson acreditou que seria eternamente adorado independente do que fizesse. E isso é uma sentença de morte – artística e até mesmo pessoal – para quem viveu a música com tamanha intensidade.
Como não conseguia mais apresentar algum traço de criatividade, Jackson recorreu a factóides estapafúrdios, como a “agenda dos 50 shows” em Londres – chego a dar risadas quando encontro com alguém que realmente acreditou que ele faria tal pataquada -, mas isso pouco importa agora, brincou Régis. Disse o jornalista: Michael Jackson está morto. Fisicamente. Porque, em termos artísticos, nos últimos quinze anos ele foi apenas um zumbi do qual todo mundo ria e tirava sarro. E são essas pessoas que hoje se mostram comovidas com o seu falecimento. Mundo estranho este, não? Pense nisso e comente sobre o texto de Régis Cardoso… No mais fim de festa para Michael Jackson e que ele descanse em paz !!!!