A maranhense Flávia Bittencourt diz que, como boa nordestina, aprendeu a gostar das canções de Dominguinhos desde criança. Já quando adulta e cantora profissional, teve a honra de tê-lo como convidado em seu revelador CD de estreia, Sentido, de 2005. Agora Flávia dedica seu segundo álbum, Todo Domingos (independente), ao compositor pernambucano. Gravou clássicos e raridades dele, teve novamente o sanfoneiro e cantor como convidado (em Diz Amiga, parceria com Guadalupe) e ainda compôs em sua homenagem uma canção bem ao estilo dele, Seu Domingos.
Valorização
O Dominguinhos forrozeiro todo mundo conhece melhor, mas é o grande melodista que a cantora quis valorizar nesse belo e delicado CD. Numa vasta amostragem de cerca de 40 anos de carreira, foi inevitável regravar êxitos como Lamento Sertanejo e Abri a Porta (as duas dele e Gilberto Gil), Quem me Levará Sou Eu (com Manduka), Eu Só Quero Um Xodó e Tenho Sede (ambas da frutífera parceria com Anastácia, predominante no CD. É sempre um risco recriar canções tão conhecidas. Fazer igual ao já feito é dispensável. Flávia conseguiu um equilíbrio, colocando marcas pessoais e diversificadas, mantendo a estrutura e a beleza da forma original das canções.
Releituras
Dominguinhos já disse que o reggae é um xote sem vergonha. Vai daí que, sendo de São Luís, onde o ritmo jamaicano é forte, Flávia atendeu aos pedidos dos conterrâneos levando Abri a Porta (gravada como xote pelos autores e como balada-reggae pelo grupo A Cor do Som) para dançar um reggae suingado. Xodó acabou incorporando algo de flamenco, e também tem a ver com a levada polirrítmica do bumba-meu-boi.
O forrozão Sete Meninas (parceria com Toinho) ganhou roupagem funkeada. Contrato de Separação e Quem me Levará… trazem uma certa erudição de Villa-Lobos nas cordas e nos sopros. A festiva São João Bonito é uma prazerosa ciranda. O Babulina, homenagem a Jorge Ben, é um sambalanço de gafieira.
– Primeiro conversei com Dominguinhos porque fiquei preocupada em não reinventar essas canções de forma que ele nem as reconhecesse. Depois, eu e os músicos da banda, como moramos perto, pudemos tocar bastante essas músicas e as ideias de arranjos foram surgindo naturalmente – diz a cantora, que fez questão de incluir o maior número possível de diferentes parcerias de Dominguinhos, como Retrato da Vida, feita em dupla com Djavan.
Há uma delicadeza nas canções mais lentas que afinam com o canto feminino. “As músicas dele são muito melodiosas e bonitas, principalmente as parcerias com Anastácia. Não é à toa que elas são maioria no meu disco.” Arrebol é uma das faixas raras e complexas que ela destaca. “Gosto muito do Dominguinhos forrozeiro, mas quis mostrar também esse outro lado dele, mais rebuscado. Arrebol é fora do comum do que se conhece dele, acho muito parecida com algumas músicas de Arrigo Barnabé.” Flávia, como Dominguinhos, surpreende.
Fonte: Lauro Lisboa Garcia (Jornal O Estado de São Paulo)
Oi Pedrinho!!!
Muito bom ver essa cantora maranhense tendo seu devido valor em um jornal de circulação nacional!!!! Desejo muito sucesso a Flávia Bittencourt! Sou profunda admiradora dela e de vc também por falar de música refinada com tempero maranhense!
Bjos
Gardênia