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A maioria dos DJs costuma direcionar seus ouvidos para algumas poucas mecas musicais do Primeiro Mundo, como Nova York, Londres, Berlim e Paris. Nesta década, porém, emergiu uma nova categoria, a dos DJs conceituados de “globalistas”, que viajam muito mais longe em suas garimpagens musicais.
O DJ sergipano Dolores aparece na lista, ao lado de nomes como Samim, Diplo, Maga Bo, DJ/Rupture, Ghislan Poirier, construindo sets incrivelmente variados, que podem ter hip hop, dancehall, maracatu, coco, ciranda, aliados as batidas eletrônicas.
Quem quiser conferir basta marcar presença na festa Confusão Eletrônica, que acontece neste sábado (29), a partir das 22h, no Espaço Armazém (Praia Grande). A noite terá ainda a participação do DJ Pedro Sobrinho colocando o seu setlist cheio de personalidade e bastante variado para agregar todas as tribos.
Para o DJ Dolores “os computadores são os tambores de hoje, um instrumento primordial que cada um pode usar do seu jeito”. Em 2004, Dolores ganhou o prêmio de melhor DJ na categoria Club Global da Radio One, da BBC inglesa. Dolores acaba de chegar de vários shows pela Europa, onde aproveitou para lançar o álbum Um Real. Além dele, já gravou o “Contraditório (2002)” e o “Aparelhagem (2005)”. Ele concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Pedro Sobrinho, onde rasgou elogios a São Luís.
BLOG: Você é o sergipano mais pernambucano que o Brasil e o mundo conhecem. Por que essa afinidade com a cultura e os costumes pernambucanos ?
DJ DOLORES: Sou um típico homem do nordeste brasileiro com um upgrade de civilização urbana: menos machista e sem tedências ao coronelismo. Minha relação com Pernambuco começou aos 18 anos quando decidi morar sozinho em Recife para fazer minha própria história. Não é um hábito muito comum entre brasileiros que, normalmente, trocam a barra da saia da mãe pelos cuidados da esposa, uma espécie de segunda afiliação… Cai no olho do furacão pois meus primeiros amigos no Recife foi a turma que alguns anos depois e eu já completamente envolvido criaria a cena manguebeat.
BLOG: É luxuosa a embalagem do seu mais novo disco 1 Real e traz Recife como centro das atenções e mostra a sua inquietação com a miséria que assola a cidade. Como relacionar a música a um ambiente de responsabilidade social ?
DJ DOLORES: A música é a forma de expressão mais ativa na sociedade em que vivemos. Minha inpiração número um veio da música barata, feita com sintetizadores e PCs, que caracteriza as ruas do Recife. Minha intenção não é estetizar a pobreza mas lançar um olhar de dignidade nas formas de comunicação populares.
BLOG: Qual a diferença do novo disco para o Contraditório (2002) e o Aparelhagem (2005)?
DJ DOLORES: Cada disco contém um pouco da minha experi~encia de vida. Então o resultado é sempre diferente pois, aparentemente, estou vivo e vivendo coisas diferentes a cada dia.
BLOG: 1 Real representa a cara e o dia-a-dia do povo brasileiro ?
DJ DOLORES: Não. Representa o meu olhar sobre o dia-a-dia do povo brasileiro.
BLOG: O seu trabalho é alicerçado nos ritmos regionais, mas foi levantando essa bandeira que você ganhou reconhecimento internacional. Os elogios conquistados lá fora não te provoca questionamentos quando você percebe que uma minoria de pessoas tem acesso ao teu trabalho no Brasil ?
DJ DOLORES: Ser tachado de regional não é algo que me agrade pois é uma expressão típica de quem se acha no centro, no umbigo do mundo. Tento fazer música pop de forma original e é por isso que consigo reverberação no exterior.
BLOG: Para definir um artista que foge do convencional, que experimenta e incursiona por elementos culturais de países emergentes, aparecem rótulos como “World music”, “indie-global”, “som globalizado”. Em qual desses o DJ Dolores está situado ?
DJ DOLORES: Não trabalho pensando em rótulos…
BLOG: Lançado pelo selo belga Crammed (o mesmo de Cibelle, Bossacucanova, Konono nº1, John Lurie), 1 Real saiu primeiro na Europa, em fevereiro. Fale da turnê articulada para sete países da Europa com a Aparelhagem ?
DJ DOLORES: Foi uma turnê promocional na época do inverno. Tocamos em clubes, tentamos atrair a atenção de jornalistas, promotores de festivais de verão … foi parte de uma agenda de lançamento do album. Também foi um teste importante sobre repertório e performance ao vivo pois quando faço o disco não tem limites mas leva-lo para o palco já é outro trabalho: temos que pensar como a música vai soar “live”, refazer arranjos…
BLOG: Existe uma previsão de quando o público brasileiro terá acesso ao CD 1 Real ?
DJ DOLORES: Espero que no segundo semestre.
BLOG: Fale da experiência em tocar no Carnaval de Recife juntamente com a Nação Zumbi e os Paralamas do Sucesso ?
DJ DOLORES: A Nação Zumbi é uma banda que vi surgir, mudar as formações, os conceitos… é como um sobrinho para mim. Ainda na época de Chico eles fizeram uma bateria de shows na Europa com os Paralamas> Vê-los em ação novamente juntos me trouxe saudades do meu amigo que se foi.
BLOG: Como foi trocar informações no palco, em plena folia recifense, com o ucraniano Eugene Hutz, da banda nova-iorquina Gogol Bordello, já confirmada para o TIM Festival 2008?
DJ DOLORES: Uma honra grande, ainda mais por que ele conhece meus discos e remixes. Sou fã do Gogol Bordello há anos, antes desse hype em torno do grupo.
BLOG: Qual a sua expectativa em visitar pela primeira vez São Luís, onde será o anfitrião da festa “Na Confusão da Eletrônica”. Daria para adiantar alguma coisa da apresentação solo em março ?
DJ DOLORES; Eu conheço São Luis. Estive aí há uns dez anos gravando um documentário em que Ferreira Goulart apresentava a cidade aos telespectadores. Portanto tive um excelente cicerone à disposição. Mesmo que ele não gostasse de reggae… De qualquer modo, por conta própria, fui em bailes reggae diariamente. Adoro a cidade! Confira performance do DJ Dolores