Deu no G1
Para cada milhão de pessoas atrás dos trios elétricos Brasil afora, há um grupo que pretende manter distância de qualquer coisa remotamente parecida com folia a partir deste sábado. Os mais afinados com guitarras altas, então, dizem que não querem nada de plumas e paetês pela frente, mas admitem que vai ser difícil escapar totalmente do carnaval.
O guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, apesar de já ter usado os batuques de Carlinhos Brown no álbum “Roots” (1996), afirma que ainda não consegue ser um entusiasta da festa.
– Mesmo hoje em dia eu não gosto de carnaval, mas aqui é Brasil, não tem como fugir muito. Eu até já fui para o Rio de Janeiro para ver o desfile, mas eu gosto mesmo é de ficar com a família, viajar para o interior e sair da muvuca -, declara o músico.
Mas, surpreendentemente, Kisser já deu suas escapadas para bailes de carnaval e em suas primeiras épocas de engajamento no metal. Eu ia com os meus amigos aos bailes de carnaval e a gente apostava quem ficava com mais meninas. Era mais para tomar umas cervejas e curtir, só isso. Mas nem por causa das mulheres eu tentava dançar, de jeito nenhum.
O visual heavy metal de Kisser também dava margem para situações curiosas. Era complicado para mim já que eu tinha o cabelo meio comprido, era época do primeiro Rock in Rio [em 1985, edição em que se apresentaram o Iron Maiden e Ozzy Osbourne]. Quando tocavam ‘A cabeleira do Zezé’ no baile, você já viu…
Apesar de não gostar de carnaval, a roqueira baiana Pitty diz que não é contra. Não chega a me irritar, mas quando você não gosta, você acaba tendo de procurar outras coisas pra fazer. O que também exige muita criatividade, falando pelo lado bom. Mas já aprendi a lidar com isso. Por a gente viver em Salvador e saber que faz parte da vida da cidade, desde sempre arrumamos outras opções.
Uma delas, segundo a cantora, é o festival Palco do Rock, que acontece de graça na praia, com várias bandas. Já fui assistir muitas vezes e já toquei com outros grupos que eu tive antes.
Pitty, no entanto, faz uma reclamação: Acho meio chato esse clichê de que todo brasileiro tem obrigação de gostar de determinadas coisas. É como se você fosse um alienígena. Se você é brasileiro, tem obrigação gostar de samba, de mulata com bundão e futebol. E se você não gosta, vai fazer o quê?
Cannibal, do grupo pernambucano Devotos do Ódio, é outro que foge assim que pode do barulho dos foliões e do som do maracatu. Pouco conectado com os sons regionais, ao contrário de seus colegas de Manguebeat, o cantor diz que participa do carnaval “só pagando”. Caso deste ano, em que vai participar do Rec Beat, festa alternativa que integra o carnaval recifense.
“Tenho sorte que aqui em Recife é bem diversificado. Tem outros pólos que não tocam só frevo e essas coisas mais típicas, e a gente tem até a chance de participar. Se não é o caso, eu fujo para alguma praia, como a Enseada dos Corais”, conta Cannibal.
“Uma coisa ruim do carnaval é que é uma animação fora de controle, onde tudo pode. A gente costuma dizer aqui no Nordeste que é a festa do Satanás.” Mas não é justamente isso que também faz o rock ‘n roll? “É sem controle, mas sou eu que estou fazendo e não outras pessoas”, responde Cannibal, às gargalhadas.