A cidade histórica de Parati, no Rio de Janeiro, se tornou desde a última quarta-feira (4), até domingo (8), o endereço da literatura no Brasil, com a presença de mais de 70 escritores entre nacionais e internacionais. A quinta edição da FLIP – Festa Literária Internacional de Parati homenageia este ano Nélson Rodrigues, “O Anjo Pornográfico”, celebrado em mesas-redondas, leituras e exposições.
O livro “The Importance Of The Yellow Papers”, que o diretor de programação da FLIP, Cassiano Elek Machado comprou num sebo da Bulgária, abriu a festa. O livro dizia que coisas mágicas acontecem quando escritas em papéis amarelos.
A concretização e o crescimento da festa literária fizeram o diretor de programação concluir que coisas mágicas vêm acontecendo em Parati. Nesta edição, 12 mil pessoas passam pela cidade nesta semana para acompanhar as discussões dos mais brilhantes e diferentes escritores, de doze diferentes países.
Na cerimônia de abertura, na Tenda da Matriz, Liz Calder, idealizadora da FLIP rememorou o nascimento da idéia mirabolante do festival, lembrando o primeiro nome que pensaram para o evento: pensamos em Palavras na Água, com as palestras acontecendo numa grande bolha, flutuante na baía de Parati. Aí concluímos que seria uma experiência muito molhada, brincou Liz Calder.
A crítica de teatro Bárbara Heliodora falou sobre o homenageado, o escritor Nelson Rodrigues. Bárbara ressaltou a relação do autor, nascido no Recife, com a cidade do Rio de Janeiro, pontuando os lugares e os personagens da então capital federal na obra do bardo dos subúrbios. Ela ressaltou a quebra de paradigma que Nelson impôs à nossa literatura, ao escrever errado pela primeira vez. Antes de Nelson nós falávamos errado mas escrevíamos certo. O escritor, segundo Bárbara, inaugurou o estilo coloquial na boca dos personagens citadinos e burgueses. Até então, o tom coloquial era exclusivo dos personagens caricatos, oriundos da literatura regionalista.
Depois da palavra falada, a palavra cantada. A FLIP foi aberta com o concerto da Orquestra Imperial. A orquestra de gafieira reinterpretou com muita irreverência clássicos da época de ouro da música popular brasileira, boleros, rumbas, twists e até pérolas do rock progressivo em cadência de sambalanço. Na Imperial não há maestro nem saxofones, como nas orquestras tradicionais que floresceram entre as décadas de 1930 e 1960; o naipe de metais é reduzido, abrindo espaço para muitas guitarras e cantores.
O público que estava nas cadeiras logo tomou as laterais do grande auditório para dançar e balançar a seu modo. Entre 19 membros da orquestra há figuras experientes como o guitarrista Nelson Jacobina, eterno parceiro de Jorge Mautner, e o baterista Wilson das Neves, compositor e sambista da Império Serrano ao lado de jovens talentos como o músico Moreno Veloso, o baixista Kassin Kamal e o baterista Domenico Lancelotti, todos do grupo +2; Rodrigo Amarante, cantor e guitarrista da banda Los Hermanos. Em Parati, o lendário pianista João Donato se juntou ao grupo. Vestido com boné rosa, ele deu ainda mais colorido à Imperial.
Como já é de costume, a Feira Literária Internacional de Paraty vai escolher a palavra do ano de 2007. Entre algumas citadas pelas vozes singelas das crianças na edição desta quinta-feira (5) do Jornal Hoje, da TV Globo, estão: bondade, paz, harmonia. Que tal “educação”, um dos mais significativos exemplos de cidadania para libertar um povo da exclusão, alienação, opressão e a ignorância.