O Percpan Panorama Percussivo Mundial está de volta em sua 14ª edição. O festival, que abriu os os merecidos holofotes para a percussão, um dos movimentos musicais que mais crescem em todo mundo, foi criado em Salvador (BA), em 1986, e correu o mundo. Já teve uma edição em Paris e este ano seguindo a fórmula itinerante será realizado no Rio de Janeiro e em São Paulo. O Percpan será aberto nesta quarta-feira (23), no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso, na Lapa,; 25 de maio, em Salvador, no Museu do Ritmo, e acaba na capital paulista nos dias 26 e 27, no Auditório do Ibirapuera.
As atrações internacionais são o porto-riquenho Giovanni Hidalgo, o francês Mino Cinelu, o britânico/indiano Dhol Foundation, o americano Hands OnSemble, o argentino Minino Garay e o nigeriano Sikiru Adepoju. Dos três primeiros, que estiveram no PercPan 2006, só Hidalgo volta a se apresentar em Salvador. Considerado um dos melhores congueiros do mundo e disputado por artistas como Paquito dRivera, Carlos Santana, Tito Puente e Paul Simon, Hidalgo vai fazer uma dobradinha com Sikiru Adepoju.
O africano é herdeiro de uma família musical da Nigéria Ocidental, com a qual aprendeu uma técnica de percussão vocal que tem impressionado músicos e platéias. Sikiru também deve despertar curiosidade pelos instrumentos tribais que toca, como o dundun, gudugudu, gome e omele. A grade baiana inclui, ainda, Minino Garay e o grupo Hands OnSemble. O primeiro é um artista que cruza influências musical das minorias negras e indígenas de seu país com o jazz urbano de Paris, onde mora há dez anos. O segundo é um quarteto percussivo dedicado à batida de mão, na linha da técnica desenvolvida por John Bergamo.
Entre os artistas nacionais, a platéia de Salvador vai assistir a um dueto de Marco Suzano com o pianista Fernando Moura e shows da Lira Imperial do Samba e de Peu Meurray. A surpresa da programação fica por conta da Liga, uma associação baiana que reúne velhos e novos adeptos da idéia de ter de volta as escolas de samba no Carnaval baiano. O baterista Robertinho Silva e o percussionista baiano Dinho Nascimento, que só estarão no Rio de Janeiro e São Paulo, completam a seleção nacional.
Além dos shows, o PercPan também promoverá encontros culturais e workshops. Em Salvador, o projeto social Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia recebe a visita dos artistas Marco Suzano, Giovani Hidalgo e do grupo Hands OnSemble (dia 25, 11h). Os workshops serão no Teatro Castro Alves, com Hands OnSemble, Giovani Hidalgo e Sikiru Adepoju (dia 24) e com Minino Garay (dia 25).
O Festival
O Percpan, idealizado pela socióloga e produtora Elisabeth Cayres, une os continentes através da linguagem universal da música. É a Mama África, Mama Europa, Mama América, Mama Ásia, enfim é a festa da percussão universal, plural e da multietnicidade. Tive o privilégio de participar da segunda edição do festival em 1987, como assessor de Imprensa do grupo local Fogo de Mão, liderado pelo percussionista Luiz Cláudio, além do tambor de crioula do saudoso mestre Leonardo. O festival contou com as presenças do músico e atual ministro da Cultura, Gilberto Gil, e do percussionista de fama internacional Naná Vasconcelos(foto). Foi uma grande celebração que serviu como aprendizagem eterna para o meu currículo. Ao ver o tambor de crioula do Maranhão mostrando a sua força no Teatro Castro Alves e Pelourinho se permitindo a conviver com outras culturas. Veio a confirmação de que os povos andam e que um povo estático corre um sério risco de ficar isolado.
Já dizia o poeta português Fernando Pessoa, da minha aldeia vejo a cidade. Cá com meus botões às vezes não entendo porque São Luís com o potencial turístico, dona de uma poliritmia e riqueza cultural invejável faz questão de se manter intocável. Sei que a geografia não foi muito favorável para nós, mas já que vivemos numa aldeia global, nada mais sugestivo experimentarmos, interagirmos com as possibilidades que a arte musical proporciona. Não seria justo quebrarmos a tradição religiosa dos Festejos Juninos, do Divino Espírito Santo e de outros festejos religiosos existentes no estado.
Seria bom que aparecesse alguém que optasse em fazer uma Festa Julina, um Folguedo Fora de Época ou o Festival “O Couro Come”, ou qualquer coisa que nos remeta a um compromisso com esse hibridismo cultural que às vezes sinto a presença de uma certa resistência. Já que falamos de uma agenda de desenvolvimento do estado através da cultura, teríamos como uma boa opção a interação entre a tradição e a modernidade dentro do nosso próprio território. Foi muito interessante a experiência em São Luís do encontro entre Dona Teté, Humberto de Maracanã, Selma do Coco (PE) e Mestre Ambrósio (PE), tempos atrás no Ceprama.
Precisamos ter um calendário anual com esses eventos para nos legitimarmos de vez como uma cidade empreendedora, que respira cultura, festa e turística na verdadeira simbologia da palavra.
Volto a lembrar o Fernando Pessoa na Pessoa: Somos estrangeiros em qualquer lugar que moremos. Tudo é Alheio….