Abro meu espaço hoje para render uma homenagem a um colega médico, amigo particular por quem sempre tive admiração desde os idos de 73 quando dávamos nossos primeiros passos nos corrredores da então semi- nova Faculdade de Medicina da UniversidadeFederal de Pernambuco iniciando nosso curso médico.
Alírio ou melhor Luís Alírio Pereira Laranjeiras mostrou-se desde cêdo um bom companheiro. Estudioso, aplicado, organizador por excelência sempre destacou-se dentre seus colegas como um” bom caráter”.
Bons momentos vivemos juntos durante o curso básico.. recreios, passeios de final de semestre, coisas de estudante. Ao final do curso lá estava ÊLE na frente da comissão de festas, função que seria sua até os dias atuais comandando um pequeno grupo de colegas que são verdadeiros baluartes em matéria de boa vontade e alegria de ver reunida a cada fim de ano e em maior quantidade a cada 5 anos um número cada vez maior de irmãos (pois assim nos sentimos inclusive com os conjuges), para comemorar a data de 8 de dezembro alusiva a nossa colação de grau como bem diz Ana Catarina : vamos para nossa festa de formatura.
Em dezembro de 2010 nos reuniríamos pela última vez com Alírio. Como médicos sabíamos que aquela seria a última comemoração de formatura com Êle, porem sua força de vontade de viver era surpreendente. Basta lembrar que a partida do ônibus que nos levaria ao Hotel numa paradisíca praia do litoral alagoano selecionada por êle e sua equipe precisou ser retardada e momentos depois lá vem Alírio ainda com braço garroteado saído de uma das centenas de hemodiálises a que se submeteu nos últimos anos de sua vida. Ainda pálido demonstrando um pouco de cansaço cumprimentou a todos e falou ao motorista: confere a turma e vamos embora..
Durante nossa estada no hotel lá estava Alírio sempre coordenando, sugerindo, agregando e fazendo planos para o próximo encontro. Muitos dos colegas chegaram a comentar comigo a coragem e o amor pela vida daquele homem. Nas serestas lá estava Êle cantando em voz baixa e seu ar de fadiga era indisfarçavel.
Naquela que seria a última seresta ao som do violão do Luís Paulo um grupo animado se reuniu junto ao barzinho na noite de sábado. Conosco, lógico, o comandante Alírio que muito se divertiu com Ricardinho Wanderley tocando um pandeirinho e matando a curiosidade sobre o Bostômetro elegantemente postado na mesa de centro da roda. Lá pelas tantas comentou comigo a inteligencia do garôto e o poder do amor que reune nosso grupo pois mesmo tendo seu pai se recolhido quis o menino participar ativamente da nossa roda de samba, mpb, roque e seresta,ora cantando músicas que nada tinham a ver com um menino de 10 11 anos, ora participando das conversas não tão adultas dos colegas relembrando “causos” do tempo da Faculdade.
Sim o nosso pressentimento daquela noite hoje 21 de agôsto
se concretizou Alírio foi para mais perto do criador.
Há exatos 8 dias atrás de passagem por Recife e já sabendo de seu estado de saúde fui com meu filho Leonardo até o seu leito na UTI do Sabin. Sedado não pôde me ver mas com certeza sentiu todo o meu carinho e recebeu a Unção dos Enfermos quando impuz minhas mãos sobre sua cabeça e em nome de todos os colegas e mais especialmente dos amigos mais íntimos entreguei de volta a Deus o nosso Alírio.
Meu amigo deixaste aqui na terra teu corpo que há muito Te pesava,teu espírito, tua energia jamais deixará de circular dentre todos que te amam.
Descança na Paz do Senhor e até nosso Próximo Encontro !
Por vêzes nos entreolhavamos e no silêncio de cada coração pensávamos..não O teremos na próxima.
