Com a palavra… Bruno Duailibe

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Hot Spot volta com mais uma crônica assinada por Bruno Duailibe, que, pelo arrojo e frescor de sua escrita e pela maneira lúcida como conduz seus raciocínio e ideias, tem tudo a ver com o blog. Sem mais delongas, vamos logo ao texto dele, ilustrado aqui, como sempre, pela arte de Salomão Jr.

Sobre mal-entendidos

Entre amigos ou desconhecidos, os mal-entendidos causam sempre aquele mal-estar e o desejo de desaparecer ou de poder voltar no tempo no momento seguinte em que ocorreram. Depois de alguns minutos ou de alguns dias, você poderá rir daquele momento insólito. Não importa, por mais cuidado e cautela que você tenha, os mal-entendidos ocorrerão.

Não há tanto mal nisso, dependendo do contexto em que aconteceram e do tempo que se levou para perceber o engano; ou se, na pior das hipóteses, não puder ser mais desfeito. Em que pese esses transtornos, se digo que não há tanto mal é porque o campo natural dos mal-entendidos é a sociedade, é a vida, é a vida em sociedade.

E o motivo – também natural – é a linguagem, essa fonte de mal-entendidos, como ensina a sábia raposa da ficção criada por Saint-Exupéry, em sua obra “O Pequeno Príncipe”. E, como a linguagem envolve interações, é lógico que a intersubjetividade influirá muito na interpretação do que foi dito ou escrito por quem ouve ou lê.

Nas interações do dia-a-dia, eles são mais do que corriqueiros. Eu falo uma coisa, o meu interlocutor, distraído, já pensando num compromisso a seguir, entende outra completamente diferente. Também são comuns e dignos de nota aqueles momentos em que você se dá conta de que não percebeu nada de coisa alguma. A cena clássica é aquela em que você abre o jornal e encontra uma crítica de um especialista justamente sobre o livro que acabara de ler. No artigo, contudo, você encontra explicações que contrariam todos os seus entendimentos sobre o enredo, os personagens e a moral da história. E lá vai ter que ler o livro de novo para ver se bem compreende, dessa vez.

Aquilo que mais me deixou boquiaberto, nessa seara dos mal-entendidos, diz respeito às típicas brincadeiras de infância. Falei e ouvi inúmeras vezes: “batatinha quando nasce se esparrama pelo chão…”. Recentemente, contudo, já pensando no meu filho que nascerá no início do ano que vem, constatei que a quadrinha é, na verdade, “batatinha quando nasce espalha rama pelo chão…”.

Do mesmo gênero é o mal-entendido que já cansei de repetir, mesmo depois de adulto: “hoje é domingo, pé de cachimbo”. Se você, como eu, pensava que era assim, saiba que o dia de descanso, domingo, “pede cachimbo”. A semelhança dos fonemas sem dúvida, provocou o equívoco.

Se a comunicação se trava em língua estrangeira, temos campo fértil para uma centena de situações que podem ser reputadas desde esdrúxulas a cômicas, passando pelas vexatórias. De la lengua hermana, soube que uma conhecida de uma conhecida minha, visitando Madrid, pediu em portunhol um “cartón” do hotel em que se hospedara e depois de uma certa hesitação da recepcionista recebeu “una tarjeta”.

Um mal-entendido parece ter sido a origem da denominação do animal que é símbolo da Austrália, o canguru, que em inglês é denominado “kangaroo”. Reza a lenda que, depois que marinheiros levaram a bordo um filhote de um animal muito parecido com um cão e mostraram ao tenente James Cook, alguns dos militares foram por ele enviados ao solo para questionar aos nativos a denominação do exótico animal e os nativos, que utilizavam o idioma aborígene “Guguyimidjir”, responderam a eles “ Gangurru”. Tempos depois, descobriu-se que a expressão aborígene utilizada na ocasião significa “eu não entendo” ou “eu não sei”.

Com exemplos iguais ou semelhantes a esse mal-entendido, constrói-se a História. E ela é mesmo cheia de mal-entendidos. Num artigo também sobre este tema, Luís Fernando Veríssimo nos adverte que a experimentada liberdade dos anos vinte foi a mesma que gerou o totalitarismo. E, depois de uma análise dos mal-entendidos históricos dos últimos cem anos, parece ter chegado à mesma conclusão a que chegou o parisense Baudelaire: “O mundo caminha através do mal-entendido”.

Para Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa), em seu Livro do Desassossego, criamos mal-entendidos porque o homem procura dar ideias sobre o desconhecido a partir do que lhe é conhecido. E desses mal-entendidos provêm as nossas crenças e esperanças, enfim, a nossa própria realidade.

Na seara política, então, haveria um campo amplo para os mal-entendidos, não fosse tudo “uma questão de hermenêutica”.

De efeito, às vezes acho que essa história de que para bom entendedor meia palavra basta não é sempre verdadeira. Vez por outra são necessárias mais de meia dúzia de palavras para se bem entender. Ou, mesmo, para não ser compreendido de maneira alguma.

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF / email: [email protected]

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Com a palavra… Bruno Duailibe

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Hot Spot volta a trazer um texto assinado pelo advogado Bruno Duailibe, que, em sua mais recente publicação na coluna “Opinião“, do jornal O Estado MA, resolveu surpreender seus leitores ao escrever um conto ao invés de suas crônicas habituais.

A versatilidade de Bruno com a caneta foi evidenciada, mais uma vez, nessa nova investida literária, quando nos apresenta uma estória que, mesmo fictícia e com perfume lírico, traz seu traço característico: que é de discutir questões existencialistas de forma honesta, leve e sem outra pretensão que não seja a de um jovem de 30 e poucos anos ávido por compreender as vicissitudes desse mundão de meu Deus.

Antes de ir ao texto em questão, vale ressaltar dois pontos a título de eventuais dúvidas: Bruno só atacará como contista novamente de forma excepcional; e outra, os personagens do texto abaixo são fictícios. Agora, boa leitura!Atos e não palavras

Ilustração: Salomão Jr.

Machado de Assis diz em seu poema intitulado “Bons Amigos” que “abençoados são os que possuem amigos, os que os tem sem pedir. Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende. Amigo a gente sente!”

E eles eram assim, amigos incondicionais e, normalmente, concordavam em tudo. Estavam em sintonia sobre cerveja, futebol e mulher – desde que não fossem as por eles amadas, claro. Evitavam discutir política e religião, como era natural. Mas quem os conhecia bem, dizia que, mesmo sobre esses polêmicos assuntos, tinham ideias afins.

E talvez fossem as semelhanças o que mais os unisse até aquele dia. Poeta e engenheiro sentados na mesa de um restaurante, depois do último expediente da semana, escolheram um vinho, para diluir o estresse.

Após a sexta ou sétima taça quem tem comando sobre a língua? Quem coordena os sentimentos e os alinha aos seus pensamentos? Poucos, pouquíssimos, nestes momentos, são os que prezam o silêncio e mantêm a simetria.

Eu que dividia a mesa com eles fiquei estarrecido e parei com a cena a que assisti.

– Rapaz, cada vez mais me convenço de que a palavra é divina! – disse o poeta.

– Cara, lá vens tu com essa bobagem de que a palavra é divina e que foi através do verbo que Deus criou o mundo! Tu não consegues entender que essa linguagem só Deus utilizou e somente ele pode utilizar? Ela não é inteligível para nós pobres mortais! – logo replicou o engenheiro.

– Meu irmão, as palavras representam a realidade e o universo criado por Deus. É claro que é, sim, divinal.

– Isso é uma metáfora, como tantas outras que são utilizadas na Bíblia, maluco! Ao contrário de Deus que utiliza a palavra para criar o fato, a linguagem dos homens foi criada para relatar fatos. Portanto, o homem usa a palavra é para relatar os fatos! – apresentou sua visão enfaticamente o engenheiro.

Percebi que os ânimos, a partir daí se acirraram. Pensei em pedir um petisco para ver se a tensão se dissipava. Chamei o garçom, mas eles deram de ombros e persistiram no embate.

– Primones, tu sabes que até papagaio fala! E mamãe dizia que quem muito fala, diz ‘bom dia’, inclusive, pra cavalo – continuou o engenheiro.

– Compadre, a palavra é tão importante que é a partir dela que um fato ou ato torna-se válido e executável. Lá se lê: “Publique-se. Registre-se. Cumpra-se”. Está aí o nosso advogado ao lado que não me deixa mentir – tornou para mim o poeta.

Espantado, franzi as sobrancelhas. O engenheiro parece não ter dado muita bola e seguiu seu raciocínio.

– Palavras podem ser levadas pelo vento.

– A história só existe em razão da palavra escrita, que perpetua os atos e os fatos – mencionou o poeta.

– Tão importante quanto o fato são as versões que ele assume. A palavra muda, desvirtua, distorce o fato! É isso o que ela faz, cara pálida! – retorquiu o engenheiro.

– Não muda o rumo da prosa, meu amigo! A verdade é que desvirtuado ou não, sem a palavra um ato pode até ser esquecido – falou o poeta.

– Uma mentira contada cem vezes torna-se verdade incontestável – lembrou-se o engenheiro.

– Isso é para quem não tem palavra! Eu tenho e sabes disso – desabafou o poeta.

– E hoje em quem posso confiar? – indagou veementemente o engenheiro.

– Sem querer ser insistente e cabotinista posso te assegurar que há nesse mundo de meu Deus muita gente para quem a palavra é honra! – levantou a voz o poeta.

Nesse momento, olhei em volta e vi que chamávamos a atenção de todos que estavam no restaurante. De imediato, tentei mudar o rumo da conversa:

– Ando meio preocupado com essas especulações de cai-não-cai de ministros – disse soltando o fôlego. Será que isso vai gerar alguma instabilidade econômica?

– Iiiih! Nesse campo mesmo é que atos valem mais do que palavras. É que sem os atos que transformam as palavras dos políticos em ações, aquelas se perdem em questão de segundos – asseverou o engenheiro.

Meu esforço fora em vão. Piorara a situação. E já receava que a conversa, por culpa minha, fosse levada para o sempre palpitante campo da política.

– Só concordo contigo, se estiveres dizendo que atos devem estar em sintonia com o discurso – tentou conciliar o poeta.

– Fala sério! Eu já disse pra ti que pro bem ou pro mal os atos não podem ser contestados depois de praticados – retorquiu o engenheiro.

– Há palavras que ferem mais do que atos, provocando sentimentos incontestáveis – mencionou liricamente o poeta.

– Pior do que a palavra dita é a palavra desdita, que se torna maldita, ferindo nossa alma durante toda a vida – recitou ironicamente o engenheiro.

Foi então que o poeta saltou da cadeira, totalmente desfigurado. Eu não sabia o que aquilo significava. 

– Não fale da minha musa! Eu te contei isso, mas tu prometeste que nunca mais iria tocar neste assunto.

A hora que entrou a “musa” na conversa, eu gelei. Preparei-me mesmo foi para apartar a briga. E tudo ficou pior com a resposta do engenheiro.

Papito, todo mundo sabe que não foi por isso. Ela te deixou mesmo porque era muito pragmática. E casou com um colega que também parece ser um homem de bem, ou melhor, de bens – revelou o engenheiro.

Mentira! Ela não foi capaz de compreender meus atos de amor e esperava que eu recitasse as palavras mágicas. Ah se eu  tivesse dito “eu te amo”!!!!  – lamentou-se o poeta.

– Acorda! Não tinhas que dizer nada. Deverias, sim, ter tomado uma atitude! Meu colega engenheiro foi um homem de atos concretos e não de palavras: foi lá e colocou o anel de compromisso no dedo dela. E nem precisou dizer palavra mágica alguma. 

 Percebi que a situação estava realmente séria. Completamente fora de si, o poeta gritou:

– Nunca mais me dirija a palavra! – e foi logo saindo, derrubando as cadeiras no chão.

Com isso, só me restava pedir a conta. Confesso que já estava até sensibilizado com o romantismo do poeta, quando o engenheiro com um ar reflexivo virou-se para mim e perguntou depois de tomar o último gole de vinho:

– Não concordas comigo, meu caro, que atos são mais importantes do que palavras?

Respirei fundo. E ele complementou:

– E que estas, sem ações, tornam-se inócuas?

Tanto concordei que, de imediato, escrevi este conto.

*Bruno Duailibe
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF

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Com a palavra… Bruno Duailibe

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Hot Spot volta a trazer uma das crônicas publicadas por Bruno Duailibe na coluna dominical “Opinião”, do jornal “O Estado”. A do último domingo, 17, diga-se de passagem, está inspiradíssima. Sem mais delongas, vamos ao texto dele.O Butão da Felicidade

Não faz muito tempo, li um artigo de autoria de Pablo Guimón, publicado na edição de 29.11.2009 do jornal espanhol El País, sobre o Butão, um pequeno país localizado no Himalaia. Escrito depois de uma visita a essa democracia monárquica recentemente estabelecida pelo próprio rei e não através da força do seu povo, o citado ensaio tratava do novo índice que ali foi criado e introduzido em 2008 para medir o bem-estar de seus cidadãos: a Felicidade Interna Bruta (FIB).

A concepção da FIB, entretanto, é muito anterior ao efetivo nascimento do indicador. Guimón mencionava em seu relato que o índice teve como propulsor o discurso de coroação de seu quarto rei, Jigme Singye Wangchuck, que sustentou, naquela ocasião (1974), que “a felicidade interna bruta é muito mais importante do que o produto interno bruto”.

Embora não tenha sido referido na reportagem, esta frase já tinha sido utilizada pelo monarca numa entrevista concedida dois anos antes. E o que estava por trás dela era uma crítica enviesada e budista às políticas que priorizavam – e ainda priorizam – o crescimento do mercado, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), em detrimento de aspectos não econômicos que conduzem a uma maior satisfação social.

Trocando em miúdos, pode-se afirmar que o novo índice carrega em seu bojo a ideia de que “dinheiro não traz felicidade”, indo além do que é frequentemente validado pelo senso comum e, certamente, encerra outros detalhes de relevância para a compreensão dos fundamentos hedônicos e efeitos alcançados pelo país.

Depois de algumas pesquisas, pude verificar que desde 1999, o Centro para Estudos do Butão, com o posterior apoio financeiro do Programa para Desenvolvimento Econômico das Nações Unidas, trabalhou para a construção dos elementos que converteriam o conceito da FIB num indicador que mediria com estatísticas a felicidade quantitativa e qualitativa dos butaneses.

De modo geral, é com fundamento na forma que seus cidadãos vislumbravam dimensões holísticas, tais como a satisfação com a vida, o uso do tempo, a vitalidade da comunidade, que se embasou o índice. E o que se propõe é que essas perspectivas subjetivas dos cidadãos sirvam de instrumento para a formulação e implementação das políticas governamentais. Tudo para atingir-se o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o bem-estar emocional e espiritual. Ou seja, a FIB teve o condão de concretizar o discurso do monarca que passou a ecoar mundialmente.

Em parte, isso se deve aos efeitos obtidos em pesquisas de âmbito mundial, antes mesmo da criação do indicador, em 2008. E aí está o surpreendente, parece-me. É que, apesar de ser uma das menores economias do mundo, o Butão figurou entre os dez países mais felizes no “Mapa-Múndi da Felicidade” de 2006. E, no ano seguinte, foi a segunda economia do planeta que mais rápido se desenvolveu.

Não tenho dúvida de que esse índice de satisfação social (FIB) pode fazer rir a maioria dos economistas e dirigentes mundiais que direcionam as suas políticas para o desenvolvimento econômico dos respectivos mercados internos. E tudo se torna mais cômico, ao cogitar-se a “exportação” e implantação de tais vias para medir e produzir a felicidade nos países de cultura ocidental com economia de mercado.

Todavia, meios, fins e resultados do Butão revelaram os limites de indicadores econômicos e das políticas que se pautam normalmente no PIB, criando um clima de espanto. E causou um incômodo a mais: pairou no ar que os dados macroeconômicos capazes de evidenciar o enriquecimento (ou empobrecimento) de um país poderiam não refletir o progresso social e, em última análise, a felicidade de uma nação.

Esse desassossego vai ao encontro de diversos estudos sobre os (supostos) nefastos efeitos das economias de mercado. E pareceu incomodar também dirigentes de nações ocidentais e desenvolvidas. Tanto assim é que o Canadá já desenvolveu o seu índice de bem-estar e o Reino Unido, desde 2006, vem sustentando a sua implantação.

A França também segue esses passos. Nesse sentido, em 2008, Nicolas Sarkozy criou a Comissão Internacional para a Medição do Desempenho Econômico e o Progresso Social. Ancorada por três economistas laureados pelo Nobel de Economia e composta por reconhecidos acadêmicos e membros de organizações internacionais, essa comissão tinha como propósito investigar as limitações dos indicadores estatísticos (econômicos) em relação ao progresso e seus efeitos sociais.

A conclusão, divulgada em 2009 através de um extenso relatório, foi a de que o PIB pode ser utilizado de forma equivocada, se servir, por exemplo, para medir o bem-estar social. A dedução que se segue a essa é óbvia: as políticas públicas formuladas com base no indicador macroeconômico com o intuito de gerar maior satisfação social podem não ser capazes de criar o efeito pretendido, por uma falha constatável desde a formulação da política governamental.

Ainda que o estudo deva ser analisado com razoabilidade e tendo em vista as críticas políticas e ideológicas que se fazem à iniciativa do presidente francês, fica registrado o ligeiro descompasso entre progresso econômico e os anseios da população, tornando-se factível, mais uma vez, a fragilidade dos indicadores que subsidiam normalmente as ações governamentais.

À guisa de outra forma de repensar o equilíbrio entre progresso econômico e social, a FIB tem ganhado força em todo mundo. E com satisfação informo aos meus leitores que o Brasil não está alheio às discussões que ela enseja. Prova disso é que em 2009 foi realizada, em Foz do Iguaçu, a 5ª Conferência Internacional sobre Felicidade Interna Bruta.

Embora não seja esse o principal fundamento, nem tenha como fim políticas lastreadas na FIB, a Proposta de Emenda Constitucional n. 19/2010 parece ser uma consequência desse repensar e um incentivo para que uma vida mais feliz seja alcançada pelo povo brasileiro. Para quem a desconhece, essa proposta que tramita no Senado Federal do Brasil tem o objetivo de consignar expressamente na Constituição da República a felicidade como um direito social. Chacotas e críticas à parte, penso que a medida não deixará ninguém esquecer que esse deve ser o fundamento da ação estatal.

Ademais, em tempos nos quais somos bombardeados com fórmulas de felicidade a todo custo, reenergiza-se a ideia de que “não se pode ser feliz sozinho”. E, mesmo que estejamos pouco acostumados a essa visão mais plural de felicidade, não se pode deixar de concatená-la ao modelo estatal do Bem-Estar Social (Welfare State) e aos direitos fundamentais de primeira, segunda, terceira e quarta geração que sustentam as sociedades democráticas

Tal fato não ocorre exclusivamente em razão desses elementos da estrutura estatal e governamental hoje em vigor. Antes e acima de toda a visão sistematizada, politizada e econômica da vida social, parece-me que o ponto que une todos os membros da casa da humanidade é a felicidade. Assim, para mim, proclamar que a FIB é balela e que é impossível quantificar e qualificar a felicidade não pode ser justificativa e sustentáculo para deixar de repensar o que pode ser feito para que gozemos de uma vida com maior satisfação social.

É, por isso, que espero que o “botão” da felicidade, confeccionado pelo Butão, seja caseado nessa vestimenta que desejamos costurar para uma vida mais feliz, hoje, amanhã e sempre.

Bruno Duailibe / Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF / e-mail: [email protected]

*Arte: Salomão Jr.

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Voto jovem

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A coluna “Estado maior”, do jornal O Estado, traz uma nota nesta terça, 19, com o mesmo título deste post, que diz o seguinte: “A Justiça Eleitoral do Maranhão se prepara para despertar o interesse dos jovens pelo direito de ser eleitor.
Às 15h de quinta-feira, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Raimundo Cutrim, lançará o projeto ‘Voto Jovem na Escola’ para o ano de 2011.
Em tempo: o ‘Voto Jovem na Escola’ objetiva estimular a participação de jovens e adolescentes no processo eleitoral e no exercício da cidadania“.

Ok, é inegável que os jovens precisam ser estimulados a participarem do processo eleitoral. Além de terem plena capacidade de refletir e, por conseguinte, decidir sobre quem deve assumir os mandatos políticos, eles são os maiores interessados e beneficiados com a escolha correta de nossos futuros governantes.

Mas me pergunto se haverá postulantes que inspirem credibilidade e estímulo suficientes para levar esta juventude às urnas? Não seria também interessante se o TRE lançasse uma campanha para estimular jovens sérios e competentes a se aventurarem na política. A gente – e, é claro, me incluo neste rol – está precisando mesmo é de postulantes que nos entusiasmem mais!

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Agora?

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A noite de dessa quinta-feira me fez constatar que não tenho aquele, digamos, “tino” para ser blogueiro – pelo menos não nos moldes da maioria. É bem provável que eu tenha sido o primeiro da imprensa maranhense a saber do falecimento do deputado Luciano Moreira. Estava no meio de um compromisso social, por volta das 9 e pouco, quando uma amiga recebeu a ligação que nos caiu como bomba. Eu, de celular não mão, poderia muito bem ter corrido para postar algo a respeito aqui no blog. Ou até mesmo adiantar alguma coisa em uma das minhas páginas nas redes sociais. Mas não!

Pelo contrário! Naquele instante, sequer me passou pela cabeça estar com um furo que despertaria o interesse do Maranhão inteiro. O que  me veio de imediato foi a lembrança daquela família que, antes de genros e neto, era composta apenas por mulheres e Ele. Mulheres essas que passaram a vida inteira tendo no deputado – que conheci secretário – um exemplo; um orgulho; um ídolo! Sempre me chamou atenção a união familiar deles! Era bonito ver o pai reinando em meio ao seu harém. E como elas lhe tinham uma devoção tocante! Lembro de ter ficado admirado  com o quanto d. Clara e as filhas Lara, Ticiana, Lia e Rafaela se envolveram em sua campanha eleitoral. A esposa, um detalhe à parte, personificou da máxima que diz: “ao lado de um grande homem sempre há uma grande mulher!”. Era sua fiel escudeira e maior entusiasta! Há pouco tempo, durante um encontro onde conversamos muito sobre dr. Luciano, ela me revelou o quanto o marido estava feliz com o novo ofício e cheio de projetos. Sonhos que foram interrompidos tragicamente na volta para casa, após cumprir, ironicamente, um compromisso do cargo que tanto o estava dando vida!

Como eu poderia pensar em furo de reportagem? Não mesmo. (Mas que fique bem claro que não estou julgando meus colegas de profissão. Ao correr atrás da notícia, eles estão apenas exercendo seus papéis).

Bom… Minha reação não deve ter sido diferente da maioria dos maranhenses: fiquei atônito com tudo isso! Para muitos, o estado perdeu uma de suas maiores figuras públicas. Mas para mim, mais que isso, uma célula familiar das mais inquebrantáveis ficou sem seu principal esteio. E agora? O fato é que ninguém está preparado para lidar com a morte. Resta acreditar que os desígnios  divino nos reserva mais explicações do que supõe a vã filosofia…Como singela homenagem, Hot Spot traz no post de despedida do deputado Luciano Moreira seu registro favorito: entre seu harém, Rafaela, Lia, Clara, Ticiana e Lara.

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Com a palavra… O novo papai do pedaço!

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Aproveitando a ocasião da postagem da mais recente crônica assinada por Bruno Duailibe, também publicada no último domingo, 12, na coluna “Opinião” do jornal O Estado MA, Hot Spot aproveita para anunciar que nosso cronista especial vai realizar seu grande sonho de ser pai. Ele e a esposa Ana Clara acabam de descobrir que o primeiro filho do casal está a caminho. Viva! Como já disse antes, o expediente da cegonha vai ser frenético pelos próximos tempos! Bom… Depois do gossip do dia, vamos ao texto de Bruno!

Exemplo de cidadania

Este artigo está sendo escrito por mim em uma manhã de sábado. Estou redigindo sob intensa excitação e não me lembro disso já ter ocorrido antes. No decorrer do artigo vocês entenderão perfeitamente o porquê.

O certo é que eu já tinha lido os jornais, estava de banho e café tomados, pronto para ir à academia de ginástica.

Antes, porém, resolvi alimentar o meu vício. E então fui ao computador para checar meus e-mails. A propósito, soube que há programas para esse tipo de dependente, cujo objetivo é combater a obsessão compulsiva na verificação de e-mails. Todavia, esse vezo que aflige a maioria dos internautas pode se configurar em tema, de repente, para outro artigo.

Voltando à sequência do meu raciocínio, havia apenas um e-mail na minha caixa de entrada. Tinha sido enviado por Flávio Gomes Assub, um cara fantástico e grande amigo meu.

Nesse e-mail Flavoca recomendava que eu assistisse ao Lip Dub postado no youtube que estava ali anexo.

Eu preciso abrir parêntese para confessar que até então a minha ignorância não permitia que eu soubesse o significado desse negócio chamado Lip Dub. Mas, o remetente tratou logo de me explicar que “é a onda atual de clipes em que várias pessoas dublam uma música qualquer, sem corte (aí está o grande lance), com a câmera em movimento. É difícil. Precisa de muito ensaio porque não tem edição”.

Muito que bem.

Para aguçar a minha curiosidade ele escreveu no e-mail sobre a origem da filmagem.

Assim, ele esclareceu que um artigo da famosa revista “Newsweek”, tinha classificado uma cidade americana chamada Grand Rapids, localizada no Estado de Michigan, como a mais “moribunda” dos Estados Unidos.

E que a população dessa cidade, revoltada com o achincalhe, respondeu à revista por meio do Lip Dub que deu origem a este artigo.

Imediatamente, peguei o mouse do computador e cliquei no símbolo de play que dá início à filmagem.

Assistir aos primeiros segundos do citado Lip Dub foi o necessário para a retirada do tênis com  o qual eu iria correr na esteira. É que, sem ver o desenvolvimento e a conclusão, eu já tinha decidido que a academia e o professor Joe Caldas não mais me veriam no dia de hoje. Só pelo início eu já sabia que  escreveria sobre o assunto quando o vídeo chegasse ao final. Dito e feito.

A filmagem é irretorqúivel.

Verdadeiro exemplo de cidadania que cinco mil pessoas unidas estão dando para o mundo.

Jamais assisti a um filme, nem mesmo os dirigidos por Spielberg, Tarantino ou Coppola, que me proporcionasse tanta emoção positiva e arrepio quanto essa amadora filmagem.

Estou intalado até agora, mesmo sem ter chorado. Enquanto assistia, meu coração não batia do lado esquerdo do peito. Ele palpitava, mas em cada instante era num lugar diferente do meu corpo. Ao final, por exemplo, a palpitação estava na minha boca. Isso é tão inédito quanto fascinante!

O clipe, de fato, não tinha como deixar de quebrar o recorde mundial de visitas no youtube.

A cidade atingida está toda mobilizada. Um conjunto harmonioso formado por cidadãos, crianças, idosos, corpo de bombeiros, servidores de hospitais, órgãos governamentais, empresários e até um casamento de verdade com o tema American Pie, de Don Mc Lean, dominam a cena.

De uma clareza ofuscante, só por si, a película comprova que a badalada revista, quanto ao pormenor, não fez por merecer o renome que tem. Houve uma injustiça, que agora está mais do que reparada. Não pelo Judiciário dos EUA, tampouco pela retratação até então inexistente, mas pela evidência proporcionada pelo vídeo de que “moribunda” não é aquela cidade. Ela está, na verdade, é cheia de vida.

Rigorosamente falando, esse Lip Dup despertou em mim foi um real interesse em conhecer Grand Rapids. Quem sabe um dia…

E mesmo sem ser nascido ali, fui invadido por uma vontade enorme de ter participado ativamente daquela manifestação. Sinceramente, eu queria estar lá no meio daquela gente injustiçada.

Com o perdão da quase repetição,  em termos de educação moral e cívica, resgate de dignidade e mobilização social não há paradigma maior, inclusive podendo servir de estímulo para todos os cidadãos de São Luís, que mais do que nunca precisam mostrar a sua vivacidade para não permitir que a nossa Ilha do Amor venha a agonizar num futuro próximo.

Esse vídeo, que também desperta o sentimento de paz e amor, enfim, deveria ser exibido, obrigatoriamente, em todas as salas de aula do mundo e posteriormente debatido entre professores e alunos.

Senhoras e senhores, reúnam as suas famílias e assistam, se possível de mãos dadas e com o espírito aberto, a essa verdadeira lição, constituída por um dos melhores clipes dos últimos tempos.

Para tanto, basta digitar no youtube as expressões Lip Dup e Grand Rapids.

Antes disso, respirem profundamente!

Bruno Duailibe, advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF

*Ilustração: Salomão Jr.

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Com a palavra… Bruno Duailibe

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Hot Spot traz agora a mais recente crônica assinada por Bruno Duailibe para a seção Opinião do jornal O Estado do Maranhão, publicada nesse domingo, 8. O texto fala dos seus 10 anos de advocacia, que foram celebrados nesse fim de semana.

Degrau por degrau

Lograr subir escadas nem sempre é tarefa fácil. Além de todo o esforço físico e do controle respiratório que exige, há que se manter o equilíbrio, saber medir os degraus da escada e, mais do que isso, subir degrau por degrau.

Diante da inesperada trajetória, da ignorância quanto à existência de degraus maiores ou menores, mais íngremes ou menos estáveis, podemos sentir um pouco de medo. Isso é mais do que natural.

Há, contudo, quem desanime e desista apenas diante da perspectiva de que não será uma escalada fácil; há quem prefira subir de escada rolante ou de elevador. Mesmo respeitando quem toma esse tipo de atitude, chegar a outro patamar com o esforço de subir uma escada pode ser mais compensador.

Também já percebi que é muito comum no início desse tipo de empreitada encontrar quem se arrisque a pular mais de um degrau com um só impulso. A ansiedade de chegar a um nível superior ou alcançar quem está mais acima é tamanha que, às vezes, não se consegue antever que não se estava preparado para tanto esforço. Por outro lado, ir além dos limites que pensamos ter pode ser extraordinário.

Embora não se costume refletir antes, assumir esse tipo de risco pressupõe estar preparado para a eventualidade de se desequilibrar e rolar escada abaixo; ou para ser surpreendido com o fato de não estar apto para subir os degraus subsequentes. Tanto recuperar-se da queda quanto estabilizar-se depois de içar vários degraus pode ser difícil, mas torna-nos mais previdentes na assunção dos riscos.

Nesses momentos, pode vir a ser necessário procurar forças ou amparo em quem está a acompanhar nossa ascensão. Podemos igualmente nos inspirar em quem já logrou subir as escadas que nos propusemos escalar ou em quem retomou com o espírito renovado a subida depois de tropeçar em algum degrau. Contudo, não é apenas nesses momentos difíceis que essas pessoas são importantes.

Além de amparo e inspiração, elas são incentivos fundamentais, quando não se tornam mesmo a razão de ser do nosso empenho e da perseverança utilizadas na empreitada. Subir os degraus da vida, definitivamente, não se pauta na simples e exclusiva satisfação pessoal.

Também já observei que, no meio do caminho, pode mostrar-se imprescindível estimar-se quantos degraus precisam ser superados, ou avaliar maior ou menor dificuldade para superá-los, para atingirmos um patamar superior. Ter objetivos em vista e planejar, mantém-nos focados e estimulam persistir na subida.

Pode também parecer indispensável sentar-se de modo a ajustar a respiração, para se recuperar do cansaço ou para conferir os estragos de uma topada. Saber o momento de fazer pausa não é sinal de fraqueza. Mente e corpo sãos, consubstanciam-se em condições sine qua non para que a subida tenha continuidade.

Modificar metas, ajustar estratégias ou mesmo mudar de escada pode ter efeitos mais positivos do que se poderia pressupor. Não é aconselhável a acomodação, só porque achamos que já conhecemos a estrutura da escada que resolvemos escalar. A estabilidade é apenas aparente, tudo está em permanente transformação.

Embora essa metáfora possa ser semelhante com as utilizadas nos livros de autoajuda, não achei outra melhor para me referir aos ensinamentos que ganhei no exercício de dez anos da advocacia, que completo neste mês de maio.

É que subir alguns degraus não foi fácil, especialmente, quando me lembro do começo. Para que se tenha ideia, em minha primeira sociedade profissional, composta por mim, Eduardo Salim Braide e Ney Batista Leite Fernandes, depois de saldadas todas as despesas mensais que tínhamos no escritório, o que cada sócio podia retirar a título de lucro não passava da metade de um salário mínimo da época, em razão da escassez de clientes.

Essas dificuldades jamais fizeram desvanecer a certeza absoluta que já tinha quando estudante do primeiro ano científico: advogar era o que eu queria, ao escolher o Direito como área de estudo. Em verdade, as vicissitudes aumentaram o meu amor pela profissão e me deram mais vontade de trabalhar. Por isso, posso afirmar categoricamente que desistir foi uma palavra que não me ocorreu nem mesmo em pensamento. Subir degrau por degrau foi a minha escolha.

É claro que tive medo e que, impulsivo como sou, permiti-me saltar, de quando em vez, mais de um degrau. Não me detive, entretanto, cercado de receios. Assim, foi quando aceitei o convite de Eduardo Moreira para trabalhar no Kleber Moreira – Advogados. Eu sabia que trabalhar nesse novo escritório imporia a mim muitas responsabilidades, mas não tive medo disso, nem de alterar a escada que estava a subir.

Para fazer face a essa nova oportunidade, empenhei-me, esforcei-me e compreendi – especialmente observando Dr. Kleber Moreira – que no sacerdócio da advocacia a escadaria não tem fim e o seu aprendizado é incessante.

Demais disso, devo dizer que, com o passar do tempo, as subidas não se tornam menos árduas. Isso porque, as responsabilidades que assumimos ganham mais peso, na exata medida em que adquirimos mais experiência. Assim, constato que as dificuldades apenas vão tomando novas formas. E são elas que me dão maior ânimo para exercer com zelo a advocacia.

Isso nada significaria se não fosse a confiança que meus clientes emprestam a mim, se não fosse a segurança de meus sócios no meu trabalho, do companheirismo da equipe que integro e do amor que minha esposa, meus pais, meus irmãos e meus amigos me dedicam.

É, aliás, por todas essas pessoas que a minha escalada tem um sentido. Muito obrigado! Saibam que é por vocês que continuarei a assomar os inúmeros degraus que, do patamar de dez anos de carreira, vislumbro e tenciono percorrer durante todo o meu futuro.

P.S – Por razões profissionais não conseguirei manter o intervalo quinzenal na publicação dos meus artigos e daqui em diante isso deverá ocorrer de forma mensal.

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF / Email: [email protected]

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Com a palavra… Bruno Duailibe

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Hot Spot reproduz agora a crônica publicada pelo advogado Bruno Duailibe no jornal O Estado do Maranhão do último domingo, 1, na seção Opinião. Na ocasião, o jornal estava comemorando seus 52 anos de fundação. Vamos ao texto…

O quarto poder

Um dia você acorda e percebe que os meios de comunicação desapareceram por completo. Os canais de tv, o rádio, as páginas da internet estão fora do ar, os telefones, fax, telégrafos não têm sinal e os jornais não circulam pelas ruas. Enfim: você não pode saber o que aconteceu em sua cidade, muito menos no seu país e, tampouco, no mundo. Não pode, nem consegue informar-se. O que você acha que sucederia a partir de então?

Essa hipótese que soa impossível permite-nos pensar e valorar o papel e a importância que os meios de comunicação assumem para mim, para você e para toda a sociedade. Não me refiro apenas aos seres que nasceram e vivem na denominada era da informação, mas a todos que participaram dos acontecimentos dos últimos três séculos, pelo menos. Ou talvez, desde sempre, quando as notícias demoravam meses a chegar de um ponto a outro.

Embora seja certo que todas as mudanças econômicas têm consequências nos planos social e político e se influenciam mutuamente, parece-me necessário convir que a comunicação, em especial a comunicação coletiva, ao cumprir sua missão de informar, torna possível e mais fácil que a sociedade trilhe por caminhos que ensejam mudanças.

Assim, não foi apenas o desenvolvimento econômico, social e político que afetou a comunicação; o processo de comunicação coletiva influenciou igualmente o desenvolvimento de todas essas áreas. E, por essa razão, são fatores entrelaçados, inclusive, historicamente.

Quero crer que essa influência e entrelaçamento se tornam mais perceptíveis para a sociedade informacional, para a qual a integração de comunicação e tecnologia tem possibilitado uma maior facilidade na divulgação e no acesso à informação. Assim, não é raro nos dias atuais que a simples suspeita de que novas medidas políticas serão adotadas seja capaz de alterar as transações econômicas em nível mundial. Seus efeitos são imediatos e, às vezes, inexoráveis.

Ao revalidar a força e o poder da comunicação, vem-me à mente as recentes revoltas que eclodiram no Egito, na Argélia, na Costa do Marfim e na Síria. Esses exemplos permitem também ponderar o quanto a comunicação e a ampliação da informação possibilitam aflorar tensões e provocar metamorfoses em todos os planos a que me referi.

No âmbito das democracias constitucionais, os meios de comunicação e a imprensa independente participam ativa e cooperativamente no controle crítico sobre os órgãos dos três Poderes constituídos e, logo, são determinantes na formação e politização da opinião pública.

Por exercer esse papel de natureza politizante, ganhou forma e lugar a expressão Quarto Poder, que pretende agregar os meios de comunicação social aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, institucionalizados pelo Estado na forma separada por Montesquieu.

Trata-se, entretanto, de uma expressão criticada. De um lado, porque as exigências econômicas para garantir a sua sobrevivência enquanto empreendimento e sua consequente dependência dos anunciantes ocasionaram a diminuição do confronto das opiniões, próprio do jornalismo político que vigorou até meados do século XX.

De outro, porque juridicamente não seria correto designar os meios de comunicação social como “Quarto Poder Constitucional”. Isso sem deixar de lado o fato de que a institucionalização desse Poder não contaria com o sólido alicerce filosófico e político que sustenta os três outros Poderes.

Inobstante a razoabilidade das críticas, parece-me que a expressão não poderia ser mais apropriada. A imprensa e a comunicação coletiva exercem força, autoridade, influência e império, que são signos que estão associados à ideia dos Poderes Constitucionais. Por isso, a imprensa pode não ser um Poder de direito, mas, sem dúvidas, é de fato. E há mais.

Primeiro, não acredito que o seu potencial se altere diante das exigências econômicas, porquanto a informação nos dias atuais ganha novos suportes e canais, que, por sua vez, possibilitam que os consumidores da notícia se tornem agentes ativos na produção da informação.

Depois, liberdade política e democracia não podem sobreviver sem a livre atuação dos meios de comunicação. É que, além de serem fruto de um mesmo contexto histórico-político, liberdade de imprensa e liberdade política têm conteúdos intrinsecamente ligados à formação do Estado Democrático de Direito.

Não há, assim, uma relação de subordinação da liberdade de imprensa em relação à liberdade política, mas, sim, de equidade. Essa constatação se extrai do que foi afirmado nas linhas anteriores: ao exercer o controle crítico dos Poderes constituídos, a imprensa permite que toda a sociedade observe o correto exercício dos Poderes democráticos. E, nesse passo, legitima-os.

Também é essa constatação que possibilita a conclusão de que, sem a livre atuação dos agentes da comunicação, desaparece por completo a verdadeira democracia. Não é à toa que os maiores atentados ao Estado democrático se proliferam através da supressão da garantia da liberdade de imprensa, quase permitindo tornar-se real o cenário hipotético que criei nas primeiras linhas deste artigo.

Enaltecendo o poder da imprensa e a importância de sua ação sem rédeas, rendo minhas homenagens, na data de hoje, ao quinquagésimo segundo aniversário do jornal “O Estado do Maranhão”, que jamais deixou desvanecer seu papel fundamental na proteção e salvaguarda dos valores do Estado democrático e que, através da honesta informação, propicia – e propiciará por longos anos – o desenvolvimento social, político e econômico do Maranhão.

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF / Email: [email protected]

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The show must go on…

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O que se passou na mente da visivelmente radiante Kate Middleton, durante a manhã deste 29 de abril, na Abadia de Westminster, só a própria poderá dizer (quem sabe isso não seja revelado em sua próxima biografia autorizada… Sim, leitor desligado, ela já tem uma para chamar de sua!). Mas o trecho de “The Show Must Go On“, do britânico Freddie Mercury, gravada ainda na época do Queen (tá sentido as coincidências?), “My soul is painted like the wings of butterflies. Fairytales of yesterday will grow but never die…” ( em português, “Minha alma é pintada como as asas das borboletas. Contos de fada de ontem vão crescer mas nunca morrer…”), caberia perfeitamente em seus pensamentos.

Afinal, mais que o casamento do herdeiro do trono de uma das monarquias mais tradicionais e longínquas que se tem notícia, a apoteose dessa manhã, assistida por mais de 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo, foi, sobretudo, a consagração de Kate. Ou melhor, de Lady Catherine, Duquesa de Cambridge e futura Rainha Consorte do Reino Unido. William, filho da mítica Diana, neto da imponente Elizabeth II, príncipe nascido sob os olhos do mundo, se resumiu a acessório daquela que, mesmo sem sangue azul correndo nas veias,  encantou o mundo como se o direito divino tivesse determinado que ela, sim, fosse soberana de seu povo.

Fico arrepiado até agora só de relembrar de sua primeira aparição de vestido de noiva! Sua produção, além de ser uma das mais deslumbrantes que já vi, veio repleta de simbolismos. A começar pelo vestido, obra-prima da estilista Sarah Burton, que assumiu a marca do inesquecível Alexander McQueen, ambos britânicos. A escolha foi uma espécie de ode a um dos nomes mais significativos da moda inglesa da atualidade. Sóbrio, clássico, jovial e requintado como a noiva, o vestido ainda sinaliza a leveza e espontaneidade que ela trará à realeza. Falando nela, o respeito à Família Real ficou por conta da tiara usada pela nova princesa. Como manda a tradição, a soberana presenteia a noiva com uma tiara da coleção real, que não necessariamente deve usada no casamento. Isso fica a critério da noiva. Lady Catherine, é claro, usou a sua. A tiara ainda trazia outra mensagem importante: a de que a Rainha nutre carinho especial por ela, já que o adereço pertenceu à Rainha Mãe, e foi presente pelos 18 anos de Elizabeth II. Além de valiosa, a jóia, que foi feita em 1936, pela maison Cartier, tem valor sentimental para a soberana.

A desenvoltura da nova princesa durante a cerimônia foi outro detalhe impressionante. Nem mesmo o nervosismo na entrada, evidenciado pelas mãos trêmulas de Kate e seu pai, tiraram dela seu semblante majestático. Como a imprensa mesmo não cansa de afirmar, Lady Catherine parece pre-pa-ra-dís-si-ma para o posto que a aguarda.

A cerimônia em si – mesmo protocolar, como dita a etiqueta da realeza, foi leve e emocionante; a presença impecável dos Middleton e imponente dos Windsor (com exceção das princesas Eugenie e Beatrice de York, com suas produções no mínimo equivocadas. Mas não percamos nosso tempo com pormenores!), até  mesmo o casal mais apático da realeza, o Príncipe Charles e sua Camila, que, suponho eu, deve ter titubeado diante dos olhos fulminantes do fã clube de Di; a explosão de alegria dos súditos nas ruas de Londres… Enfim, tudo saiu harmoniosamente correto, contribuindo para que a ocasião fosse marcante o suficiente para entrar o rol dos acontecimentos pop mais marcantes deste século. Mas nada foi tão impactante quanto a própria Lady Catherine.

Diana até podia não fazer mais parte da família real, mas ela nos deixou ostentando um título ainda mais difícil de conquistar do que qualquer brasão pode oferecer, o de soberana escolhida pelo coração de seus súditos – e olha que não falo apenas do povo do Reino Unido. Este, independente de coroa, a nova princesa provou, na manhã deste 29 de abril, que também está preparadísssima para assumir. E viva a era Middleton! Cenas que o mundo jamais irá esquecer!

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Com a palavra… Bruno Duailibe

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Hot Spot volta a reproduzir uma crônica do advogado Bruno Duailibe, publicada, quinzenalmente, na coluna Opinião do jornal “O Estado”, de domingo.[Arte: Gustavo Santana]

(Des)ordem e progresso

Embora inúmeros países tenham um lema que conduz a atuação do Estado, penso que o Brasil é um dos poucos que estampou em sua bandeira o mote que conduziria a nossa nação: ordem e progresso.

A bem da verdade, para compreender a escolha dessas duas palavras, um ponto de natureza histórica precisa ser esclarecido. Ele se refere ao fato de que a aristocracia que levou a cabo o golpe de estado que liquidou a monarquia em 1889 foi fundamentalmente influenciada pelo movimento intelectual idealizado por Augusto Comte.

Para esse filósofo, todo o conhecimento deveria ser baseado na experiência positiva, afastando-se da investigação científica qualquer influência de idealizações ou da metafísica. Ainda de acordo com o seu entendimento, o progresso e a transformação da humanidade dependem dos avanços científicos.

Na América, a sua filosofia ganhou contornos políticos e, no Brasil, influenciou os ideais da república que fora proclamada, bem como a sua organização formal. Essa influência ficou registrada no estabelecimento de um Estado laico e nas palavras “Ordem e progresso”, inscritas na bandeira nacional, que abreviam a máxima política do positivismo: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”.

Em meio à análise de todos esses elementos históricos e filosóficos é curioso dar conta de que ordem traz em seu significado a ideia de estabilidade, enquanto que progresso está ligado à ideia de dinâmica. Também é contraditório observar que o próprio avanço científico que determina o progresso da humanidade, segundo Comte, é obtido através do incessante movimento do pensamento humano.

Não sei se o(a) leitor(a) concordará comigo, mas não haveria, assim, uma incompatibilidade entre a finalidade (progresso) e o seu pressuposto (ordem)? Não seria a desordem também necessária para promover o propósito do lema nacional?

Permito-me aqui divagar sobre alguns elementos que podem alimentar uma discussão que tenha por objetivo alcançar a resposta desses questionamentos.

De efeito, Edgard Morin – um filósofo francês que procura em seus estudos compreender a complexidade do mundo pós-moderno – entende que o universo é um cocktail de ordem e desordem. Para ele, a presença da desordem no universo revela-se em todos os níveis, seja ele microfísico, cosmofísico, histórico ou humano.

No plano microfísico o autor lembra que a termodinâmica introduziu a desordem molecular no fenômeno chamado calor. Nosso universo também foi originado de uma explosão, que deflagrou uma enorme agitação molecular, o que demonstra que o plano cosmofísico nada seria sem a desordem.

A história, sem dúvidas, nos dá exemplos contínuos de que as relações sociais não se reduzem a processos deterministas, mas que é feita também de bifurcações, de acaso, de crises.

A II Guerra Mundial é um exemplo que cai como uma luva encomendada. Foi oriunda de uma crise política, econômica e ideológica; deu origem a eventos nefastos para toda a humanidade. Todavia, propiciou a cultura pela paz e o nascimento dos direitos humanos.

A história brasileira também nos permite constatar a razoabilidade do raciocínio de Morin. Desde 1889, o Brasil foi marcado por ciclos de crises e progressos. Nesse sentido, muitas ordens (políticas e econômicas) foram estabelecidas para promover o progresso nacional. A desordem gerada pela crise não deu origem ao caos, como se poderia pressupor, mas foi um passo para que uma ordem, em tese melhor, pudesse surgir.

Em nossas vidas, é comum percebemos que tudo está “de pernas para o ar”. Nesses momentos, costuma-se pensar que o fio da meada não será encontrado, mas, passado algum tempo, somos capazes de aceitar que eles foram essenciais para que pudéssemos ultrapassar os limites e ter novos horizontes; progredir, enfim. Como se vê, Morin tem toda razão: o nível humano é essencialmente marcado pela desordem.

Nesse passo, pode-se perceber que a desordem não é constante, nem a ordem é perene. Embora sejam ideias paradoxais, complementam-se quando se tem por fim um ideal de progresso. A desordem sufraga o início de outra ordem, que se estabelecerá até que advenha nova desordem, formando-se um verdadeiro círculo virtuoso.

Com essa reflexão não defendo que, para haver progresso, a desordem deve imperar em detrimento da ordem. Sem ordem o universo seria insensato, impossível; e a vida em sociedade seria anárquica e caótica. Ordem, portanto, é indispensável para o progresso.

Mas entendo, por outro lado, que sem desordem não existe criação, evolução e progresso. Assim, embora pareçam elementos inconciliáveis, todo processo de construção do progresso passa, sim, pela desordem.

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF. / email: [email protected]

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