Keep Calm and… Tenha bom senso!

4comentários

Uma coisa é inquestionável: o Instagram se tornou o novo habitat predileto de nós, seres abduzidos pelas redes sociais!

Das grandes personalidades às figurais mais prosaicas, todos estão lá, publicando imagens ao sabor de seus cotidianos.

Tem aqueles que o utilizam para se promover profissionalmente; há os que dividam apenas lances do dia a dia; tem também os que fazem a dobradinha trabalho-vida pessoal (na minha opinião, o mais interessante dos casos); e, como em tudo na vida, existe quem  use a rede de forma completamente equivocada!

O fato é que, junto do fenômeno todo que se tornou o “Insta”, a maneira mais propriada de usar a ferramenta também se tornou assunto da hora nas rodas de coversa. Isso, quando há conversa entre as pessoas – geralmente, no intervalo entre uma publicação e algumas “curtidas”. Tem cena mais comum, hoje em dia, do que roda de amigos onde a única interação que se vê é a cabeça enfiada no smarthphone?!

Bom, mea culpa à parte, deixemos essa discussão para outra oportunidade… O que quero tratar agora é a respeito do que muitos têm tentado convencionar como manual de etiqueta para o Instagram.

Tenho ouvido críticas e mais críticas a respeito da maneira como algumas pessoas têm alimentado seus perfis, que vai da overdose de fotos num curto intervalo de tempo sobre o mesmo tema a “looks do dia” de quem não tem o menor senso fashion, só para citar dois dos campeões de chacota. E tenho que concordar: tem @rroba por aí abusando da paciência alheia com cada publicação sem noção!

Mas o fato é que existe um pequeno (grande) detalhe não apenas para esta como para todas as redes sociais: você não é obrigado a adicionar nem seguir nenhum perfil. Portanto, se a maneira como o outro se expressa o incomoda, é muito simples: pare de seguí-lo, oras! E sem essa de “mimimi”…

Agora, aos usuários do “Insta”, com a licença da liberdade de expressão, um toque: não custa nada ponderar bem antes de se publicar algo. Afinal, a intenção é, senão conquistar cada vez mais seguidores, pelo menos manter os que já conquistou. É tudo questão de bom senso!

4 comentários »

Com a palavra… Bruno Duailibe

0comentário

Hot Spot volta com mais uma crônica assinada pelo nosso convidado especial Bruno Duailibe. Desta vez, para acompanhar seu texto, ao invés de uma ilustração criada especialmente para a publicação, o blog traz uma obra do expressionista noroeguês Edvard Munch, o mesmo autor do famoso quadro “O Grito“, chamada “Ansiedade“, devido, é claro, a similaridade dos títulos.

Apesar da tela de Munch dar abordagem diferente da crônica de Duailibe à respeito do tema, ambas trazem um traço em comum: a dualidade em torno da ansiedade. Senão vejamos…

Da Ansiedade

Propus um jantar, num começo de noite de uma semana qualquer, ao meu amigo poeta. Era apenas para conversarmos uma prosa sem rumo, como as que já tivemos em nossos encontros casuais.
No dia marcado, programei-me para cumprir pontualmente o compromisso. Pequenos afazeres repentinos e uma pedra no caminho, chamada engarrafamento, entretanto, atrasaram-me.

Ao chegar ao local, sentia-me um pouco mais acelerado do que considero meu normal; e olha que um amigo meu, fazendo alusão à tensão das correntes elétricas 110 e 220 volts, considera-me, às vezes, ligado a uma tensão 330.

Ao ver o poeta, apressei-me em direção à mesa. Cumprimentos trocados, silenciei repentinamente. Havia três horas que corpo e mente não paravam. Com o pensamento distante, nem percebi que o meu estado era observado. Passado um minuto, o silêncio foi interrompido:

– Algo te preocupa, Bruno?

Feita a estranha pergunta, explicou-se:

– Tens um ar ansioso.

Surpreso com a observação, dei-me conta de que meu estado de espírito era perceptível.

– Na verdade me sinto estranho e preocupado com um problema por resolver.

– Bem disseste: – “pre-ocupação”, isto é, antecipas-te. Neste século todos sentirão a ansiedade de forma mais intensa do que nos anteriores. A meu sentir, ela competirá com a obesidade para ver quem mais gente acomete. Embora, aliás, eu veja antes, uma relação de causa e efeito entre uma coisa e outra.

Essas frases soltas me diziam muito. Para instigar o tema, inquiri-lhe sobre a ansiedade. Ele, então, bebericou o vinho, como quem precisa de tempo para coordenar as ideias, levantou a cabeça e tal qual um catedrático iniciou sua digressão sobre o assunto.

– A angústia, a mente perturbada, o aperto e a tensão, sintomas de quem se sente ansioso, estão diretamente associados ao significado das palavras latinas ansietas, anxius e angere, que formam a etimologia da palavra ansiedade.

Bebeu mais um gole de vinho e continuou:

– Para Freud, a ansiedade é uma condição emocional desagradável do organismo humano; é decorrente dos conflitos do Eu em razão de um perigo real ou potencial. Para ele, existiriam três conflitos das estruturas da mente (id, ego e superego) que gerariam a ansiedade. Assim, poderíamos sentir culpa ou vergonha, se quiséssemos agir contrariando os valores morais impostos pelo superego. Mas se houvesse de fato um perigo real advindo do mundo externo, o ego tremeria de medo. Se a fonte de perigo estivesse associada aos impulsos internos, proibidos ou inaceitáveis, promovidos pelo id, teríamos a ansiedade neurótica. Como podes ver, Freud não conhecia as “cachoeiras” que estão deixando alguns políticos com as mãos enrugadas de tanto tomar banho e, ao mesmo tempo, anulando os valores morais sem qualquer resquício de culpa ou vergonha.

– Interessante – intervim. E, curioso, perguntei: – Sob esse ponto de vista, devemos considerar que a ansiedade estará sempre presente na vida das pessoas?

– De certa forma, sim. Freud tem meu respeito, porém prefiro a explicação do filósofo espanhol José Antonio Marina que descreve a ansiedade como uma inquietude e a caracteriza de duas formas: uma agradável, gerada pela excitação de quem deseja ardentemente algo; e outra desagradável, que pode se revestir em medo (causa real) ou em angústia (causa desconhecida).

– Parece, então, que ele foge ao senso comum e vê a ansiedade como algo que pode ser positivo, arrematei. Essa conclusão me fez sentir mais calmo e igualmente compreendido.

– De fato, a ansiedade não é de todo ruim. Ela nos remete ao medo primal, resultado de um mecanismo orgânico que, desde os nossos ancestrais, preserva a vida. Num ambiente de perigo, o corpo se prepara para fugir ou para enfrentar, com todas as reações orgânicas conhecidas, como aceleração do batimento cardíaco, aumento de adrenalina e por aí vai. Qualquer atividade que nos faça sair de nossa zona de conforto traz ansiedade.

Àquela altura, com a diminuição do cortisol, sentia-me relaxado e envolvido com o discurso do poeta.

– E, sem qualquer apologia à ansiedade e à melancolia, devo lembrar que muitos ansiosos e melancólicos nos deixaram obras magníficas. Beethoven, Nietzscheze, Lutero, por exemplo. Aliás, crescer é ser ansioso. Soren Kierkegaard alertava que, para crescer, precisamos de liberdade, e que o crescimento em direção à maturidade significa lidar com a ansiedade, que é parte integrante da experimentação das possibilidades.

Nesse momento, fomos interrompidos por um atencioso garçom e lhe pedi que trouxesse pão e azeite, como entrada. Antes mesmo que o moço se afastasse da mesa, o poeta retomou a palavra:

– Agora me lembrei de um mal que pouca gente liga à ansiedade: quando nos sentimos ansiosos, nossa cabeça fica bem distante de onde o corpo está. Ou seja, voltamos para o passado e projetamos o futuro, enquanto o presente passa sem que o percebamos. As variantes disso são olhar para o que a gente acha que falta e sequer notar o que de bom nos cerca, além de sempre pedir por mais e não render graças.

A partir dessa conversa, apesar de vivenciar momentos de ansiedade, reconheço-os como decorrentes de meu amadurecimento e esse discernimento permite-me apreciar profundamente desde o sorriso maroto de meu filho até o límpido azul do céu.

Bruno Duailibe – [email protected]
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNID

sem comentário »

Nó na garganta

1comentário

As últimas 24 horas foram de perplexidade  para o Maranhão. A sociedade viu calar brutalmente uma das vozes mais combativas dos desmantelos da política maranhense. A imprensa perdeu um de seus representantes mais hábeis e corajosos. E eu… Bem, eu perdi um colega de trabalho querido e um dos referenciais na arte de se fazer um blog – embora seguíssemos linhas editoriais completamente diferentes.

A partida de Décio Sá me consternou pessoalmente – afinal, como falei há pouco, tínhamos uma relação amistosa, e, em se tratando de uma perda como essa, a reação não poderia ser outra -, mas me deixou ainda mais estarrecido quando penso no rastro sombrio que ela deixou em nosso estado.

Não é por se tratar de um jornalista renomado, tampouco por ele ser profissional do Sistema Mirante, como tenho visto muitos questionarem nas redes sociais, que o episódio tem causado larga repercussão na mídia – nacional e internacional, inclusive! Pelo amor de Deus, gente: o que está em jogo é algo muito maior. Será que voltamos aos tempos da pistolagem? E pior: Será esse o fim para aqueles da imprensa que ousarem exercer seu ofício? Onde foi parar o direito à liberdade de expressão? São pelas respostas de questões como essas que o caso merece toda a importância que tem recebido.

A elucidação desse crime bárbaro é indispensável para conformar a família, dar tranquilidade aos colegas da imprensa e inspirar na sociedade, novamente, o direito à segurança e à justiça. #RIP

1 comentário »

Com a palavra… Bruno Duailibe

0comentário

Ilustração: Salomão Jr.

O vilão dos privilegiados

Além de ser a menor distância entre dois pontos, a linha reta é o sinal mais claro da intervenção do homem sobre a natureza. É com um traçado reto que o homem impõe ao universo – em sua totalidade curvo, torto, imprevisível – ordem e estabilidade.

Inequivocamente, poder-se-ia dizer que retidão moral é o caráter, ou ainda, a ética do ser humano desprovida de tortuosidades, de desvios de conduta. A retidão moral é, por assim dizer, uma linha reta ligando os princípios da pessoa à sua conduta.

Nesse contexto, o Direito aparece não apenas como meio de regulação das relações sociais e da intervenção do homem sobre a natureza, mas como instrumento de conversão das condutas humanas num paradigma de ordem, que, alinhado à razão, afasta a influência de instintos animais sobre o convívio social.

Dessa forma, ainda que tenha versado sobre a aplicabilidade de outros princípios constitucionais, o julgamento feito pelo Supremo Tribunal Federal que resolveu pela integral constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar n. 135/2010), no dia 15.02.2012, representou um excepcional momento em que o Direito é invocado para ratificar a existência de uma linha reta que, embora deva ser perseguida por todos, deve ser exigida na atuação dos agentes políticos.

É o que, a propósito, pode-se extrair da leitura dos votos dos seus integrantes, e, notadamente, daquele que foi lavrado pelo Ministro Joaquim Barbosa, no qual está representado o desejo de uma majoritária porção da Nação brasileira.

Ultrapassados os lampejos de alegria que resultaram da declaração de constitucionalidade da citada lei, cabe, agora, entender as consequências, diretas e indiretas, que poderão advir de seu vigor. Nesse sentido, mesmo que à primeira vista não se possa traçar qualquer relação de causa e efeito entre um fato e outro, é possível estabelecer profunda conexão entre a força da Lei da Ficha Limpa e os movimentos atuais e futuros das duas casas do Poder Legislativo Federal para extinguir o foro privilegiado por prerrogativa de função.

Aparentemente, a vontade política que não se observou em torno da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº. 130/07, com idêntico objeto e que adormece por mais de dois anos no Plenário da Câmara Federal para ser reincluída em pauta, agora deverá aflorar. Sem prejuízo disso, conforme já noticia sítios eletrônicos, no dia 07.03.2012 iniciou-se uma nova coleta de assinaturas para outra Proposta de Emenda Constitucional, desta feita a tramitar no Senado Federal, com o mesmo intuito: dar cabo ao foro privilegiado.

Como é suficientemente divulgado, o foro por prerrogativa de função permite que autoridades políticas que venham a cometer crimes depois da diplomação sejam julgadas diretamente pelo Tribunal que, em situações normais, exerceria a sua atividade jurisdicional como órgão revisor. Por exemplo: no caso dos Deputados Federais e Senadores, a competência para julgar as ações penais contra eles propostas é do STF (Art. 53, §1º da CF).

Contudo, o seu conteúdo não se encerra nesse específico aspecto. Muito esquecido é o fato de que o seu principal fundamento é garantir a essas autoridades uma atuação independente perante os demais poderes constitucionais. E aí reside a principal fonte da controvérsia, visto que essa garantia distingue os cidadãos comuns dos agentes privilegiados, o que, segundo sustentado por alguns, contraria o Princípio da Isonomia. A isso, soma-se a constatação do desvirtuamento do instituto, na exata medida em que ele estaria servindo, na realidade, como um incentivo para a impunidade e a corrupção.

E ao que tudo indica, esses serão os discursos a serem proferidos das tribunas das casas do Senado e da Câmara Federal, as quais, provavelmente, darão todo apoio à campanha que se reiniciou na semana passada.

Porém, na atual conjuntura, o discurso empolgado, eloquente e contundente pelo fim do foro privilegiado poderá encobrir – e, certamente, encobrirá – a sua sincera motivação. E tudo isso por causa do julgamento do Supremo Tribunal Federal acerca da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa.

Como os parlamentares são julgados originariamente pelos órgãos colegiados, na hipótese de ações penais contra eles propostas, serão os parlamentares, dentre outras autoridades públicas, os mais suscetíveis de serem apanhados pelas inelegibilidades que foram admitidas no ordenamento jurídico brasileiro, através da Lei da Ficha Limpa (vide o art. 2º, e, da LC 135/2010), pois o Supremo Tribunal Federal também decidiu pela constitucionalidade da dispensabilidade do trânsito em julgado da decisão condenatória, bastando, simplesmente, que ela se dê pelas mãos de um órgão judicial colegiado. Tout court!

Assim, que ninguém se engane, pois, certamente, não será o sentimento de nobreza parlamentar que impulsionará os legisladores federais pátrios a porem fim ao instituto do foro especial por prerrogativa de função. Serão, antes disso, os riscos que ele passou a representar com a edição da Lei da Ficha Limpa, a qual, ainda que indiretamente, acabou por transformá-lo num verdadeiro vilão.

Aguardemos!

Bruno Duailibe
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF.

sem comentário »

Com a palavra… O novo papai do pedaço!

1comentário

E com imensa alegria que Hot Spot anuncia, junto com a publicação do mais novo texto assinado pelo nosso convidado especial, o advogado Bruno Duailibe, o nascimento de seu primeiro filho, o pequeno Bruno, que veio ao mundo nesta quarta-feira, 15 de fevereiro. Ao invés das ilustrações de Salomão Junior, que sempre acompanham as crônicas dele, trazemos um registro do casal Bruno e Ana Clara, sábado passado, 11, durante o almoço carnavalesco do PH Revista. 

Saber viver

Naquela semana, tive um sonho bizarro. Travava um diálogo, em voz alta, comigo mesmo, só que eu já tinha a aparência de um senhor com 70 anos de idade, com uma bengala na mão, mas que, no entanto, estava no auge da minha lucidez.

Não me lembrava exatamente o que tinha sido dito (Freud explica), mas a ideia do sonho não me deixava em paz. Quando fui ao bar, na sexta-feira daquela mesma semana, não hesitei em compartilhá-lo com o meu poeta quase sexagenário, e sem muita cerimônia, perguntei-lhe:

– Poeta, tens medo de envelhecer?

Ato contínuo, o poeta respondeu:

– Eu? Claro que não, meu amigo. Ser velho é um verdadeiro privilégio, porque é sinal de que você não morreu novo. E verdade seja dita: eu até admiro a obra e a vida de Álvares de Azevedo e de outros que morreram antes dos 21 anos de idade. Mas, aqui entre nós, eu ainda quero fazer muita poesia. Procuro viver plenamente: levanto cedo, alimento-me frugalmente, faço minha caminhada diária. Promovo uma verdadeira higiene mental nesse interregno, pois procuro não pensar, apenas me integro à natureza. É como se eu estivesse num templo, em que se pode contemplar a Terra inteira. Esse “exercício diário” dura exatamente 55 minutos, nem mais, nem menos.

Ainda pouco convencido com a resposta, provoquei:

– Mas não temes as limitações da idade avançada? O desprezo da sociedade pela velhice?

– Meu amigo, em toda e qualquer idade há limitações, não é apenas na terceira. Quanto ao desprezo, esse, sim, é temeroso. A sociedade líquida, descrita por Bauman,  é um lugar de efemeridade, onde o novo é cultuado e o velho descartado. Por isso, muita gente quer parecer sempre nova, com receio de ser rejeitada.

Nesse momento, aproximou-se o engenheiro com seu ar bonachão e sorriso largo. E sem ao menos nos cumprimentar, foi logo dizendo:

– Eu li que existe uma fórmula desenvolvida na Universidade de Gifu, no Japão, para calcular a idade com a qual a pessoa vai morrer.

Gelei. Alguns de vocês devem se lembrar que a última conversa dos dois, acabou em confusão. Debochada e filosoficamente, o poeta rebateu:

– Boa noite pra você também! Como ia dizendo, Sêneca afirmava que tempo de vida é coisa do destino, e modo de viver, sim, é coisa nossa.

Interessado pela fórmula do engenheiro, interroguei-lhe:

– Ei, oriundo da ciência exata, que fórmula é essa?

– Chama-se longevidade ancestral imediata total (LAIT). Soma-se as idades da morte dos seus últimos seis familiares – mãe, pai e avós – e dividi-se por seis.

Animado, o poeta logo foi revelando a idade dos seus ancestrais:

– Então eu estou é bem na foto. Vovô, pai de mamãe, morreu com 103 anos; vovó, com 92; o pai de papai morreu com 95 e minha outra avó, com 96; mamãe tá com 88, mas é pra frente, palpiteira, curiosa, assiste a tudo que é novela e ainda tem disposição para beliscar papai – que tem 90 anos – quando ele paquera as enfermeiras nas consultas rotineiras.

Mal o poeta terminou de falar, o engenheiro já apresentava o resultado:

– A tua LAIT, hoje, é de 94 anos. Isso se tiveres um estilo de vida parecido ou melhor do que o de teus ancestrais. Pelo que tu dizes tua mãe é irrequieta, teu pai idem, principalmente nos consultórios. Como sabes, o nosso corpo quando fica parado é como se tivesse dado o comando “desligar”, então, tudo fenece.

– Não estavas aqui, logo não ouviste o começo da história. Todo dia faço muito mais do que uma caminhada e tenho uma vida saudável.

– Calma, poeta, não quero atrito –  defendeu-se o engenheiro.

– Nem eu. Atrito, exagero e tristeza são coisas que não se coadunam com um bom envelhecimento.

Eu, temendo o pior entre os dois, desconversei:

– Vocês viram o que aconteceu no estádio de futebol do Egito?

– Caro Duailibe, eu prefiro o Egito antigo. Cleópatra com seus banhos de leite de cabra para rejuvenescer a pele; e os sarcedotes que, na busca da eternidade, preservavam os corpos através da mumificação.

– Por falar nisso – intrometeu-se o engenheiro – existe uma teoria interessante que sugere a “cura da morte”. Ela parte do pressuposto de que se o cérebro é o hardware (parte física) e a mente o software (parte lógica) do processamento de informações, por que não se poderia transferi-los para uma outra máquina, assim como se faz com os computadores?Atônito e curioso pedi para que ele explicasse melhor isso:

– A ideia partiu de Charles Olson, cientista americano, que propõe se guardar o cérebro numa solução química, para implantá-lo no futuro em outro “ser vivo”.

– Essa teoria não é tão inovadora assim, porque é parecida com a do povo egípcio – retorquiu o poeta. A meu ver, o que há de mais interessante quanto ao pormenor surgiu há 40 anos quando se deu início ao congelamento de pessoas que morriam de doenças incuráveis para que elas fossem descongeladas depois de descobertas as curas para as suas doenças. Vide Forever Young de Steve Miner. Só que até hoje, nada.

– Poeta, estou te estranhando. Achava que eras um visionário. Estás muito reticente, desdenhou o engenheiro.

– Se leres minhas poesias, perceberás que sou cheio de esperança, mas pragmático. Acho que a vida a ser vivida é a do aqui e agora, porque tudo é temporário. Como dizia Luther King “o que vale não é o quanto se vive, mas como se vive”.

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF.

*Foto: Miguel Viegas.

1 comentário »

Com a palavra… Bruno Duailibe

0comentário

*Ilustração: Salomão Jr.

Política com “P” x política miúda

Há muito o que se ler e estudar, quando se procura entender os contornos da política e do governo, mas é a Antiguidade clássica que fornece os pilares para a sua compreensão. Em seu diálogo dialético A República, Platão esboça uma sociedade ideal, cujo fim é o bem comum. O seu discípulo Aristóteles, mais pragmático, assenta a política na ética como uma praxis condutora para a felicidade (individual e coletiva).

Todas essas concepções de política tinham como âmbito de aplicação as cidades-estado (polis). Com a sua destruição, novas formas de organização vieram a se estabelecer. No Renascimento, surge a ideia moderna de Estado e as teorias contratualistas desenvolvidas por Rousseau, Hobbes e Locke, que  explicitaram o liame existente entre o indivíduo e o Estado: através de um contrato social o indivíduo cede parte de sua liberdade ao Estado que em contrapartida lhe garantirá proteção e segurança.

Sendo gerido por seres humanos – não por anjos, não por santos –, o Estado poderia se tornar uma outra fonte de ameaça contra os indivíduos, por isso passou a integrar o contrato social regras que limitam o poder estatal. De modo que, chegados aos dias atuais, tanto o bem comum como os limites da atuação estatal, assim como suas funções, atribuições de instituições e governantes são definidas pela Constituição.

Porém, há indícios de que nem o bem comum, nem a felicidade, efetivamente, constituem os escopos da atuação estatal; e é perceptível, nessa conjuntura, que grande parte dos governantes há muito deixou de ter em conta os limites do seu poder e de suas atribuições. Parece predominar as formas mais impuras do governo, descritas nas obras de Aristóteles e de Maquiavel, que em razão de suas diminutas finalidades, dão ensejo e vigor a uma política que ultimamente vem sendo tachada de “miúda”.

Cada vez mais presente em nosso tempo, essa “política miúda” administra, organiza e dirige os interesses daqueles que assumem o poder e pautam suas decisões através da troca de vantagens e desvantagens entre os grupos de comando. E, enquanto ocorrem as negociações, criam-se justificativas políticas e jurídicas de modo a demonstrar a todos que isso é para o bem comum.

Ainda que se legitime da ordem estabelecida por um Estado de Direito, a “política miúda” pode, às vezes, assemelhar-se às relações que emanam do pátrio poder ou do poder despótico.

E nem pense que ela é exceção nesses tempos de amadurecimento da democracia. Em verdade, parece endêmica e contamina searas que não se poderia imaginar. Por exemplo: a sua atuação pode contar com a contribuição de muitos daqueles que assumiram o compromisso de ajudar na administração, organização e direção da coisa pública, mas que, no exercício de suas funções, honram os interesses pessoais e materiais ao invés de promover o bem público.

Também a título de exemplo – e sem surpresa nenhuma –, é possível dizer que a “política miúda” está presente entre as entidades privadas que não querem ter seus interesses prejudicados. É que o Estado sempre pode dar um impulso para que a mão invisível não cumpra com a sua função.

Não bastasse a conivência de servidores públicos e da iniciativa privada, toda a “política miúda” também conta com o apoio de quem, por ignorância, imagina que os que estão a exercer o poder político podem usar como bem quiser a coisa pública. Na verdade, esses ignorantes também acham que se estivessem a exercer uma função pública, não deixariam de tirar uma “casquinha” da viúva.

O que é mais infeliz em toda a rede que é trançada pela “política miúda” são as suas consequências e seus efeitos, que podem ser sentidos em menor ou maior grau. E porque a ineficiência e ineficácia do modo de governar desse tipo de política posterga-se no tempo, mesmo aquele que ainda não nasceu também poderá ser atingido pelos seus tentáculos.

A não ser que, de amanhã em diante, a predominância da “política miúda” seja sobrepujada pela Política, escrita assim, com “P” maiúsculo, e que pode ter por referência Platão, Aristóteles, Hobbes, Montesquieu e até mesmo o incompreendido Maquiavel.

Bruno Duailibe
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF / [email protected]

sem comentário »

Com a palavra… Bruno Duailibe

0comentário

Hot Spot volta com os textos do nosso convidado especial, Bruno Duailibe, que assina, uma vez por mês, uma crônica para a coluna Opinião, do jornal O Estado do Maranhão, e reproduzido, em seguida, no blog.

No último domingo, 25, foi publicado o artigo que trazemos a seguir, onde o autor, motivado pelo momento que está vivendo (prestes a se tornar pai pela primeira vez), nos brinda com uma mensagem sensível e mais que oportuna para este momento de reflexão que a virada do ano nos inspira.

Lembrando que, excepcionalmente, este post não virá acompanhado da ilustração de Salomão Jr, como sempre acontece, devido as atribulações destes últimos dia do ano. Vamos ao texto!

Tripé da cidadania

Ao chegar num bar que não era o de costume, feliz foi a coincidência que tive em encontrar sentado sozinho numa mesa, com o olhar voltado para o horizonte, o poeta a quem me referi há algum tempo num conto publicado neste matutino com o título “Atos e não palavras”. Aproximei-me e o cumprimentei, pedindo, em seguida, permissão para partilhar de sua companhia.

Conversa vai, conversa vem, comentei as boas novas que recebera quanto ao meu bebê que ainda está na barriga da mãe, mas que chegará em breve para desbravar o mundo. Rapidamente, ele se tornou para mim e fitando-me com a feição de quem faria uma revelação surpreendente disse:

–— Meu caro Bruno, tu nunca mais serás o mesmo quando esta estrela guia nascer!

Algumas pessoas já tinham me dito isso, contudo, foi nesse justo momento que essa certeza se tornou inafastável. E, como quem procura o auxílio de alguém mais experiente, falei das preocupações que volta e meia consumiam-me, desde que soubera que seria pai.

Lembro-me de lhe ter contextualizado as minhas angústias. Relatei-lhe com minúcias que todos os dias vejo que a violência aumenta; que a educação do jeito que está não é garantia de que se conseguirá um emprego digno; que o sistema público de saúde ainda é sinônimo do caos e o pior é que, à medida em que o tempo passa, diminui o número de pessoas preocupadas com os pequenos e grandes deveres que temos de honrar em nosso convívio social. Em tom apaziguador, ele me interrompeu:

–— Eu te compreendo. Antes mesmo de nascer meu primeiro rebento, vovó me dizia que, mais cedo ou mais tarde, meus descendentes passariam a ser o principal foco de minha vida.

Antes de retomar a palavra e completar com mais detalhes meu raciocínio, o poeta me advertiu:

–— Ademais, como diz o sevilhano Antônio Machado, “não há caminho, se faz caminho ao caminhar”.

Sem que houvesse tempo para eu absorver a sua assertiva, ele completou:

–— Então, acima de tudo, ama. E cria o teu filho firmando a educação dele naquilo que eu costumo chamar por tripé da cidadania.

–— Tripé da cidadania? – indaguei-o curioso.

Eu imaginei que o poeta fosse enveredar pelo direito de votar e ser votado dos cidadãos. Contudo, logo percebi que tinha me enganado.

–— Saúde, Educação e Segurança são os elementos que para mim constituem o tripé da cidadania – respondeu-me num tom peremptório.

Depois que ele falou isso, achei que viria um discurso sobre uma sociedade utópica. E nem tinha ideia de como me surpreenderia com suas tocantes palavras.

–— Quando falo de saúde, refiro-me não àquela que se perde momentânea ou definitivamente. Acho que a verdadeira saúde vem do modo de vida que escolhemos para nós. A forma de nos alimentarmos, de pensarmos, de nos exercitarmos, da apreensão que fazemos de nós e dos outros. Enfim, de como cuidamos do nosso corpo, a morada de Deus, e da nossa mente. “Mente sã em corpo são” diziam os gregos. Como sabes, esse povo já cultuava a saúde física, taí as Olimpíadas para comprovar o que digo. Mas não deixavam de integrar a cultura e a arte em sua educação, que vinham no auxílio de propiciar também o equilíbrio psicológico do indivíduo.

Percebi que o poeta estava passando da saúde para a educação de forma muito rápida. Atento ao seu discurso, provoquei-o:

–— Poeta, os gregos também viviam se preparando para a guerra, não?

–— Duailibe, quando falo dos gregos me refiro mais à Atenas do que à Esparta. Em Esparta, sim, o cidadão era preparado apenas para servir ao Estado, enquanto que em Atenas a educação era voltada para a formação de um indivíduo completo.

–— Compreendi, poeta. E o que queres dizer com “segurança”? – indaguei-o.

–— Uma forma de nos mantermos seguros é nos aceitarmos como somos e aceitar os outros tal como eles são. Achar o outro diferente é normal, mas não aceitar tal diferença é perigoso.

–— Poeta, quer dizer que segurança para ti não tem nada a ver com aquela que o Estado tem que nos propiciar?

–— Exato. O Estado não tem que cuidar de ninguém, deve é criar condições para cada um cuidar de si. Sou a favor da “lei de murici”, ao invés de um monte de leis para proteger os mínimos detalhes da vida cotidiana.

–— Meu amigo, isso não seria uma anarquia, palavra que deriva do grego e significa, literalmente, “sem governo”? – perguntei, provocando-lhe com a acidez da ironia.

–— Jamais! É antes a consciência de que cada cidadão é o Estado e de que são com seus pequenos gestos que ele faz o bom Estado. E isso passa, sem dúvidas, pela educação, pelo sentimento de segurança que advém também do respeito às diferenças, ao nosso corpo e ao próximo. Trocando em miúdos: És cristão?

–— Sou, claro – respondi-lhe.

–— O tripé da cidadania pode ser resumido apenas ao esquecido princípio “Amai ao próximo como a ti mesmo”. Portanto, se achares que as ideias antiquadas de teu amigo aqui nada valem, aplique no teu cotidiano esse mandamento e serás um bom pai.

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF / [email protected]

sem comentário »

Com a palavra… Bruno Duailibe

0comentário

Nosso cronista convidado volta com um de seus textos, desta vez, com sua usual forma descontraída, leve e inteligente, discorrendo sobre o prazer  de comer. Sem mais delongas, vamos à sua crônica.Ilustração: Salomão Jr.

Banquete para os cinco sentidos

Eu não escondo de ninguém que o meu apetite sempre foi visual. Se olho uma comida passando na minha frente dificilmente resisto. Não sei se consigo explicar sem deixar escapar a infinidade de sensações que envolvem esse processo de deglutição com os olhos. É como se cada uma das cores e formas da comida me fizessem imaginar o seu sabor e sentir a sua textura.

Tanto mais que ingeri-las é essa sedução que me apraz ao me alimentar. Assim, porque como primeiro com os olhos, a boa aparência do prato é fundamental. É claro que já me enganei. Aquela iguaria que se mostrava tão saborosa, no fim das contas, nem era tão assim quanto os meus olhos me fizeram acreditar.

O contrário também já aconteceu. Maniçoba, também conhecida como feijoada paraense, é o exemplo que me veio à mente: a sua aparência bizarra afugentou-me ao primeiro encontro, mas seu sabor me conquistou.

Tenho um prazer quase que carnal em comer, mas também me satisfaço demais em ver as pessoas comendo. Acho que isso é bíblico. Não sei. Mas, sei que a mesa é um lugar sagrado. Também pode ser espaço para o pecado como a gula. Ou para outros piores.

Não foi uma, nem duas vezes que me sentei e vendo alguém comer desejei aquele último pedaço que, antes de ir parar na boca desse alguém, caiu foi no chão. Uma pena: o pedacinho não foi meu, nem de ninguém. Aliás, preciso dizer que por conta de uma antiga mania, que consiste em provar a comida de quem está ao meu lado, já fui chamado inúmeras vezes de “rei da bitoca”.

Todas essas divagações sobre meu apetite visual quase me fizeram esquecer o que queria mesmo contar. É que, ao me sentar para escrever este artigo, dei por conta que o meu apetite é também sonoro. Foi algo mais ou menos casual: eu estava em frente ao computador no meu quarto, pensando no que escrever, quando então passei a me concentrar foi no barulho dos talheres de Dona Bira, minha eterna aliada, que na cozinha está a comer algo saboroso, pois tudo o que ela faz é bom.

Sei que a regra de etiqueta determina que talheres não foram feitos para fazer barulho durante as refeições. Isso é básico, inclusive. Entretanto, constatei, que o barulho, mesmo que de longe, de um talher tocando noutro ou de um talher se atritando com o prato é bastante prazeroso e fomenta o apetite. Será que alguém tem a mesma opinião?

Caso não, é possível que algum som típico da cozinha traga-lhe a expectativa de que em pouco tempo se provará o sabor de um prato que aprecia. É o ovo que se quebra e que logo se começa a bater para transformá-lo numa apetitosa omelete. Tem também aquele ruído de apetrechos de cozinha que podem trazer recordações de algum manjar perdido no tempo.

E pode até ser falta de educação, mas não tem coisa melhor que poder, com a ajuda das mãos, roer os ossos da asa da galinha. Igual a esse deleite é aquele de poder juntar o resto do molho com a ajuda de um pedaço de pão massa grossa e levá-lo à boca. Com esse ato quase se pode voltar à infância, quando não se tinha ainda muito o traquejo para usar o garfo e a faca ou mesmo a um passado ainda mais distante…

Como lembra Laurentino Gomes, no livro “1808”, na época em que D. João VI fugiu das tropas de Napoleão Bonaparte para o Brasil, nossa gente, em geral, não sabia o que era usar talheres à mesa, e assim as refeições eram feitas com as mãos.

De outra parte, bom mesmo é poder levar uma comida cheirosa à boca. O odor de um café fumegante é coisa que me tira do sério. Se junto do café for possível sentir também aquele que é proporcionado por um pão quente a perdição, então, é total. Com essa dupla de perfume irresistível, já se tem uma infinita desculpa para postergar qualquer regime.

Agora, para meu paladar, comida saborosa é aquela que encanta pelo aroma e que, quando se encontra com sua língua, você sente vontade de decifrar cada um dos temperos que a condimentaram. Aquele cheiro ardido do alho e da cebola, o aroma fresco de três ou quarto folhas de manjericão ou mesmo tomilho, o azeite de alguma oliveira e tomates, muitos tomates.

Só de imaginar o encontro de uma comida com a língua vieram a minha cabeça os ingredientes que imagino compor esse molho. É que toda vez que tenho a alegria de ingeri-lo tento decifrar quais os segredos alquímicos que a minha estimada sogra utiliza para o molho de tomate, que faz do macarrão por ela preparado, indiscutivelmente, se tornar o meu prato predileto.

Talvez, quem leia este artigo acabe por resumir que estou a falar somente de nervos, sinapses e memórias. Trocando em miúdos, pode até ser isso apenas. Mas em tempos que muitas refeições são feitas assistindo-se televisão, alimentar-se passa a ser simplesmente um ato de jogar a comida para dentro do organismo.

Hoje, que é domingo, você não deve ter a justificativa do compromisso inadiável que tanto lhe retira o prazer de almoçar com a sua família. Assim, aproveite este dia para oferecer um banquete aos seus cinco sentidos: ouça os leves sons dos talheres, aprecie as cores, os aromas, a textura, o sabor da comida e, principalmente, alimente a sua alma.

 

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF / [email protected]

sem comentário »

A noite da Ilha enfim subiu para o 2º andar

2comentários

Quando estreou em plena ebulição das férias de julho, trazendo uma proposta que já acontece em lugares onde a vida noturna é mais evoluída – com ambiente mais intimista, aura de exclusividade  e capacidade para poucos e bons; line up com nomes de primeira linha; estrutura de som e iluminação de ponta… -, sem contar o DNA notívago da própria dona da casa, a produtora de festas, DJ e globe trotter Ericka Braga, o 2nd Floor surgiu como promessa de divisor de águas na noite da Ilha. Mas o fato é que o negócio não engrenou de primeira!

Afinal, o que teria acontecido? Houve quem apontasse um certo ar, digamos, intimidante passado pelo lugar. Há também quem ao som dito conceitual demais como motivo dessa resistência inicial. Bom, especulações não faltaram…  Mas, mesmo atenta aos comentários que ouvia aqui e ali, Ericka se manteve fiel ao conceito que pensou, desde o começo, para o seu “clubinho”, apostando que o bom senso dos amantes da noite ludovicense uma hora compreenderia seu propósito, e seguiu alheia à onda pessimista que dava como favas contadas o fechamento de suas portas.

Pelo visto, a danada tinha razão! Não é que agora, após três meses trilhando um caminho que podemos definir como de afinação, as noites da 2nd Floor estão, enfim, começando a despontar?!

Prova disso foram suas mais recentes: terça-feira, 11, véspera de feriado, e sábado, 15. Tanto na primeira, com a carioca Carol Legally como atração, quanto na segunda, que trouxe João Lee de volta à Ilha, a audiência da casa foi a mais lotada possível. E o que tanto mudou? Na-da! Por exemplo: o preço da entrada continua o mesmo e os deejays, ambos já se apresentaram por lá em outras ocasiões.

Na minha humilde opinião, o público de São Luís, de modo geral e de uma forma bastante peculiar, tem certa resistência ao novo. É aos poucos que ele vai amansando e se permitindo à novas experiências. A paciência da casa em compreender esse time foi imprescindível para que, os poucos, as pessoas se permitissem conhecer, se surpreender, comentar com os amigos e desejar voltar à boate outra vez. E foi assim, comendo pelas beiradas, que o 2nd Floor conseguiu se firmar.

Ah, e com um detalhe: a casa tem atraído uma mistura de tipos e tribos pra lá de interessante a subir para o segundo andar mais frenético da Avenida dos Holandeses. E quem entende do assunto sabe que quanto mais heterogênea for a frequência de uma balada, mais interessante ele se torna. Resumo da ópera: está imperdível! E fica a dica!Carol Legally, que animou a noite pré-feriado, 11; e João Lee e Ericka Braga, comandando a pick up no último sábado, 15. (Foto: Reprodução)

2 comentários »

Com a palavra… Bruno Duailibe

0comentário

Nosso cronista especial voltou com mais um de seus saborosos textos na coluna Opinião, do Jornal O Estado MA, do último domingo, e agora Hot Spot reproduz para você. Sem mais delongas, vamos à crônica de Bruno, que, como sempre, recebe aqui uma ilustração com a assinatura de Salomão Jr

Choque de Ordem

No passado, já tive oportunidade de aqui escrever umas poucas linhas no artigo intitulado “(Des)ordem e progresso” sobre a minha percepção de que desordens podem ser necessárias para que novas ordens – melhores ou piores – ganhem forma. Vislumbrando um futuro próximo melhor, creio que chegou o tempo de dar ordem à desordem social ditada pela violência.

Para um complexo problema social e histórico, porém, as respostas e as soluções não são fáceis, nem tampouco óbvias. Como a violência se nutre das circunstâncias políticas, econômicas e culturais da sociedade em que ela ocorre, cada um desses elementos deve ser considerado quando da formulação e implementação de políticas públicas que tenham como foco a erradicação da violência. E leva tempo para que se consolidem e se sintam os efeitos benéficos de suas ações.

Por outro lado, a sociedade, refém da violência, exige uma resposta imediata. É que ninguém suporta mais a opressão que, mesmo sem escalar os muros de sua casa de maneira furtiva, é onipresente e deixa-nos muitas vezes a impressão de que o Poder Público não é capaz de dominar as rédeas da situação.

Domingo passado, ao ver as notícias que circulavam nos matutinos do país, li com a devida atenção uma reportagem do jornal “O Globo” que, a meu ver, demonstrava um caminho relativamente simples na contenção da violência urbana e na diminuição dessa estranha sensação de impotência a que acabo de me referir. Afirmo isto porque a reportagem dava conta das ações introduzidas na cidade do Rio de Janeiro, através da Unidade de Ordem Pública (UOP), que visa combater a desordem social e a aparente inoperância do Poder Público.

Trocando em miúdos, a reportagem noticiava as ações dos guardas municipais que, desde o dia 18.04.2011, começaram a atuar em alguns bairros da cidade para lidar, vinte quatro horas por dia, com os problemas cotidianos dos cidadãos. Os guardas, dentre outros exemplos, atuam na organização do espaço público e na repreensão de pequenas transgressões como urinar na rua; a atuação de flanelinhas; a publicidade irregular; o estacionamento em locais proibidos; a ocupação indevida do espaço público; as construções sem as respectivas licenças. É o que a Secretaria Especial de Ordem Pública denomina por “tolerância zero”, através da qual fazem valer as leis e o código de postura municipal.

Você pode agora questionar-se qual a relevância de se coibir essas pequenas ocorrências se, na verdade, o que deve ser impedido é a prática de crimes de maior potencial ofensivo, como assaltos e homicídios. Em verdade, essa é a intenção da medida adotada pelo Rio de Janeiro, mas o caminho que se busca trilhar é o da prevenção. Eis aqui o ponto nevrálgico da questão que, às vezes, pode nos escapar: a sensação de que não existe ordem em determinada localidade pode dar ensejo à prática de atos cada vez mais violentos.

Esta ideia foi defendida num estudo desenvolvido por James Q. Wilson e por George Kelling, que foi publicado em 1982 na revista Atlantic Monthly.  Para demonstrar a importância de se conter também as pequenas transgressões, os autores se valem de um exemplo elucidativo que usa a imagem de janelas quebradas.

Segundo eles, se a janela quebrada de um prédio não for imediatamente reparada, pode sugerir o abandono do imóvel e até mesmo da rua em que ele está situado. Isso pode ensejar a prática de atos de anônimos que quebrarão as demais janelas do prédio até vandalizá-lo por inteiro. E não tardaria para que o mesmo acontecesse a outros prédios da rua e do bairro. Logo, uma comunidade estável poderia se transformar numa selva.

Esta teoria pautou as ações que foram levadas a cabo, com assessoria de Kelling, nos anos 1990 em Nova Iorque, durante a emblemática gestão do prefeito Rudolph Giuliani e que, de acordo com o governo municipal, reduziram a criminalidade substancialmente. Entre as ações que controlaram a criminalidade, estava o foco na repreensão de comportamentos anti-sociais e de pequenas transgressões, tais como as que são coibidas pela guarda municipal carioca.

Embora receba inúmeras críticas, não se pode deixar de reconhecer que a política pautada no restabelecimento da ordem pública, tal qual a implementada pela cidade do Rio de Janeiro, focada nas necessidades específicas de cada local (territorializada), possui o condão de proporcionar resultados mais eficazes e eficientes. Isto se torna possível porque as medidas e soluções são adequadas aos problemas de cada comunidade.

Ademais, deve ser igualmente enfatizado que, embora não exista uma relação de causa e efeito entre comportamento anti-social e crime, a tendência de que a desordem social aumente a criminalidade torna necessária a adoção de medidas preventivas, que impeçam a desordem do espaço público.

E porque falta menos de um ano para as eleições municipais, deixo, desde já consignado, que terá grandes chances de receber apoio popular o candidato a prefeito que inserir no seu programa de governo a criação de uma política de segurança pública que promova um verdadeiro choque de ordem na cidade São Luís, semelhante àquele que já vem proporcionando as Unidades de Ordem Pública no Rio de Janeiro. Sem dúvida, este seria um excelente presente pelo quarto centenário da nossa capital.

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF / [email protected]

sem comentário »
https://www.blogsoestado.com/otonlima/wp-admin/
Twitter Facebook RSS