Zygmunt Bauman é tema de novo texto de Bruno Dauilibe

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Após um bom hiato longe dos teclados, o cronista Bruno Duailibe – cujos textos são reproduzidos neste blog – está de volta. Desta vez, trazendo considerações a respeito do pensamento de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês de extrema importância para o contexto atual, que nos deixou no início deste ano.

A crônica em forma de homenagem aborda, entre outras ponderações, sobre o consumismo pós-moderno tão analisado por Bauman. Junto dela trazemos o vídeo “Man” de Steve Cutts, ilustrador e animador inglês, cujas ideias – vocês vão conferir no mini filme – calham perfeitamente com o tema da crônica. Dá play pra conferir e depois, delicie-se com mais este texto de Bruno – publicado na edição de O Estado MA do último fim de semana.

Da juventude na sociedade do consumo

Atento às inúmeras modificações às quais assistiu no curso de seus 91 anos, o já saudoso Zygmunt Bauman partilhou com clareza as características do homem e do mundo contemporâneo. Para ele, vivemos numa sociedade líquido-moderna, cujos membros estão sempre apressados em obter os produtos que lhes oferecem bem-estar e a descartar rapidamente aqueles que já não mais os satisfazem como outrora. Não há tempo para a solidificação da relação e as realizações pessoais não devem ser perenes, já que se modernizam de modo constante, de acordo com novas e imprevisíveis necessidades, desejos ou impulsos.

Nesse modo líquido de viver, todos estão voltados para o tempo presente, negligenciando o que virá, a ponto tal que o citado sociólogo em entrevista divulgada em 19.02.14, na página eletrônica da Revista Época, afirmou que poderíamos falar no “fim do futuro”. É que, na exata medida em que somos protagonistas e agentes do hoje, deixamos de pensar na virtuosidade de nossa conduta e de agir para alcançar um projeto de sociedade.

Assim deduzir não é exagerado, se pensarmos que as características da sociedade-líquida são reforçadas para as gerações que chegam à sociedade consumista e que devem estar plenamente integradas a ela quando atingirem a idade adulta. Bauman explica que, para tanto, as crianças contemporâneas são moldadas, desde o berço, para serem consumidores ávidos e informados que atenderão à necessidade de incentivar as relações de consumo para além de propulsionar o crescimento econômico.

Atingir tal fim não é difícil quando as crianças observam seus pais e passam a ser concebidos como seres conscientes e capazes de escolher por um marketing especializado que está pronto a estimular incessante insatisfação e novos desejos. Como resultado, o mercado de produtos infantis se expande e meninos e meninas passam a influenciar diretamente no que será consumido pelos seus genitores.

Por outro lado, à proporção que são estimuladas a perceber que precisam obter um produto para ser um tipo determinado de pessoa, passam a se sentir inadequadas socialmente quando não conseguem obtê-lo, já que o ser, a felicidade e a dignidade humana encontram-se diretamente relacionados à capacidade de ter bens de consumo. Não é difícil supor que, alfim desse processo cíclico de consumismo, os laços emocionais e de formação de identidade sejam atrelados a objetos e marcas.

E na base da pirâmide social, os efeitos das garras da sociedade líquida não são menos perversos. Os jovens excluídos sentem-se desvalorizados no meio social e carregam o estigma de uma vida sem realizações, sem significado e sem prazer. Com o incremento dos objetos de desejo que passam a rodeá-los, podem ainda nutrir sentimentos de raiva, humilhação, incitando o impulso de destruir o que não podem ter. Porém, no mais das vezes, os excluídos são ignorados. O mesmo ocorre com outros estilos de vida, os quais também podem ser julgados como repulsivos e dolorosos.

O ângulo estreito por meio do qual a maioria dos membros da sociedade consumista enxerga a vida não permite que se vislumbre mudanças sociais, nem que se perceba que o ritmo imprimido pelo mercado fatalmente conduzirá à exaustão dos recursos disponíveis, com débitos incalculáveis para o meio ambiente e para os frenéticos consumidores que habitarão o mundo.

Essa preocupante visão de Bauman, descrita em “Vida líquida” (Zahar, 2009) e tecida igualmente em “Sobre educação e juventude” (Zahar, 2013), não dever ser, contudo, motivo para desespero. É que, segundo mencionou na citada entrevista de 2014, falar e escrever sobre as características da sociedade pós-moderna não expressava pessimismo, mas o olhar de um homem esperançoso.

Tanto assim que entendia que a juventude poderia tomar as rédeas desse curso, recuperando o interesse e a atenção para os aspectos comuns da vida e portando-se de forma diferente do modo como a maioria se comporta, através de uma “revolução cultural” capaz de gerar plena libertação da indução às compras e aos gastos. Na composição desse cenário, a educação, sempre ela, continua a exercer o papel dominante de preparar os jovens para a realidade que terão que enfrentar, tornando-os conscientes quanto ao adestramento que sofrem e desenvolvendo mentes menos obtusas aos fragmentos de informação que circulam essencialmente pela rede de computadores.

Pensando fora do círculo vicioso do estilo de vida líquido, esses jovens poderão vislumbrar que a coexistência humana e a vida social constituem o bem comum para, assim, semear as soluções dos problemas criados na sociedade do consumo. Eles podem até ser poucos, imperceptíveis, invisíveis no começo até, porém, se direcionados por um propósito comunitário, poderão, quem sabe, construir um futuro para a maioria.

Bruno Duailibe
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF

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Tragédia: Fábio Victor Araújo nos deixa precocemente

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Fábio Victor Araújo (de branco), no lançamento de uma de suas academias, com o irmão Flávio e a mãe, Socorro Araújo, que vem a ser secretária de Turismo do Município de São Luís (Foto/Kayo Sousa)

Impossível não remeter ao clichê que diz que “os bons se vão cedo demais”.

Foi com perplexidade e profunda tristeza que recebemos a informação do falecimento de Fábio Victor Araújo Costa, na manhã desta sexta-feira 13, vítima da irresponsabilidade no trânsito. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal, “o condutor de uma picape Corsa entrou em contramão e colidiu frontal” com a motocicleta que Fábio guiava próximo à Bacabeira, na BR-135.

Ainda de acordo com informações oficiais, “ele se deslocava em um grupo de motociclistas, de São Luís para Teresina” no momento em que essa tragédia selou seu destino.

Fábio era presença recorrente no blog. Jovem admirado por todos que o conheciam, era de uma educação e gentileza singulares. Compromissado com o trabalho e muito dedicado à boa forma física. Tanto que vinha fazendo um caminho promissor como dono de uma rede de academias. O verdadeiro protótipo do bom rapaz.

Indiscutivelmente, uma grande perda!

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Adeus à pequena Laura comove São Luís

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A perda extemporânea da pequena Laura Burnett Marão, na manhã desta quinta-feira (30), provocou uma comoção poucas vezes vista em São Luís. Decerto, pela sucessão dos acontecimentos, mais parecida com um desses enredos que a gente imagina ser possível apenas na ficção.

Não bastasse ter sido inclusa na estatística das vítimas de imprudências no trânsito – motivadas, possivelmente, pelo excesso de álcool -, o que, por si só, já é suficiente para despertar tamanha indignação, a bela menina de apenas 8 anos estava indo buscar a mãe no aeroporto, ao lado do pai e de um dos dois irmãos, quando sofreu o acidente – o carro da família estava parado em um sinal vermelho, no instante em que foi chocado – , na madrugada do último domingo (26), tornando o episódio ainda mais tocante. A luta pela vida que a pequena passou a travar, desde então, na UTI do Hospital UDI; toda a sensibilização nas redes sociais para ajudá-la na doação do sangue que foi necessário; o drama que, sem dúvida, aquela família se viu envolvida… Todos esses elementos tocaram a emoção das pessoas, levando ao clima de consternação geral com a confirmação de sua partida.

Para completar, no ano passado, Laura fez parte de uma ação promocional para o Dia das Mães, em que prestava homenagem à sua, a odontopediatra Larissa Burnett Marão, em um vídeo tão tocante, que, sob pena de soar clichê, mais parecia um presságio de que aquela seria a última comemoração delas juntas. Comovente!

[youtube T3djb5gY4do]
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Ericka Braga, Nelson Piquet e o pesadelo no Nepal

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Nelson Piquet e Ericka Braga, em registro recente na Índia, um dos países visitados pelo ex-casal, que testemunharam o terremoto que devastou o Nepal (Foto: Instagram)
Nelson Piquet e Ericka Braga, em registro recente, na Índia, um dos países visitados pelo ex-casal durante o tour que realizaram pela Ásia, antes de testemunharem o terremoto que devastou o Nepal (Foto: Instagram)

O que era para ser uma experiência de lazer e imersão cultural, a viagem de Ericka Braga e Nelson Piquet pela Ásia acabou se tornando num episódio inesquecível para ambos. E, infelizmente, não pelos monumentos, hábitos e curiosidades dos países em que passaram. O ex-casal (que, como todos sabem, preserva a amizade e a parceria profissional) testemunhou in loco o terremoto que devastou o Nepal. Em Catmandu, os maranhenses viveram momentos de verdadeiro pesadelo. Em relato no Facebook,  o produtor cultural conta que “o prédio inteiro [do hotel onde estavam hospedados] parecia um pêndulo que chegava a se jogar de um lado para o outro num ângulo de 45 graus. A cama corria dentro do quarto e se balançava toda. Tudo que estava de pé caiu”. E prossegue: “Fiquei sem ação, parado na cama esperando aquilo tudo passar. Era uma sensação de impotência e espanto. Escutava as pessoas gritando do lado de fora desesperadas e os funcionários do hotel dizendo para sairmos de lá o mais rápido possível. Após quase 01 minuto de tremor forte, conseguimos levantar e sair correndo. Estávamos no terceiro andar, deixamos tudo nosso lá e descemos pelas escadas o mais rápido que pudemos. Saímos e encontramos as pessoas nas ruas sem saber o que fazer, comércios fechando as portas, e vimos alguns prédios que desabaram logo”. Após relatar detalhadamente as instruções recebidas – entre as quais, “se deslocar para áreas descobertas e longe de edificações”, Piquet divide mais detalhes de horror: “No caminho, vimos alguns mortos, alguns soterrados nos escombros e outros sendo carregados em carroças”. Mesmo em meio ao caos, a dupla conseguiu vaga em um hotel que disponibilizava abrigo, onde puderam se alimentar, ter acesso a internet – podendo, assim, entrar em contato com as famílias e avisar, via redes sociais, que estavam vivos – e tentar comprar passagem para sair dali. Passadas mais de 24 horas da catástrofe, com tremores seguintes de 20 em 20 minutos (só que em escalas menores), e após um périplo para recuperar os pertences, eles finalmente conseguiram decolar rumo a Bangkok, na Tailândia. “Estou contando tudo isto porque até o momento não caíram todas as fichas, mas sei que algo de formidável me espera ou algo de muito importante ainda tenho de fazer na terra. Não existe uma justificativa lógica ou de engenharia para o prédio não ter desabado conosco, nem de encontrarmos verdadeiros anjos nos momentos exatos que nós precisamos, de termos escapados de outros tremores e desabamentos. Parece ter sido tudo cronometrado e guiado por uma força suprema, que hoje acredito sem sombras de dúvidas que foi Deus em nossos caminhos”, conclui Piquet, que dissera no início da postagem: “Queria ir a lugares nunca visitados e que poderiam me oferecer maior crescimento espiritual. Nunca imaginei que além deste objetivo conseguido, ainda viveria uma experiência única, de provação e certeza de que existe uma força maior que rege este universo”. Já Ericka, em seu perfil, agradeceu às manifestações de conforto recebidas: “Muito obrigada por todas as mensagens de apoio e carinho dos amigos e família nesse momento difícil que vivemos. Ainda em processo de recuperação, mas já estamos fora da área de tensão. Conseguimos com a ajuda do Altíssimo sair do pesadelo! Aos que ficaram, emano paz e calma para que tudo se resolva da melhor forma. Peço oração pelas almas atingidas e aos que la ainda estão!” Em nome da legião de amigos que os dois possuem no Maranhão, um suspiro de alívio!

Foto publicada por Nelson Piquet, no Instagram, no dia do terremoto no Nepal, com a seguinte legenda: "Uma tragédia que passou a fazer parte de minha vida e de todos que aqui estão"
Foto publicada por Nelson Piquet, no Instagram, no dia do terremoto no Nepal, com a seguinte legenda: “Uma tragédia que passou a fazer parte de minha vida e de todos que aqui estão”.
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Estamos de volta

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Nada melhor de que se desconectar um pouco da rotina para reoxigenar o entusiamo pelo trabalho. No meu caso, então, onde o ofício está intrinsecamente ligado à inspiração, uma viagem pode significar um verdadeiro elixir motivacional.

Foi o que acabei de me permitir. Em quase seis anos de Hot Spot, nunca havia me dado ao deleite de tirar férias e me desligar completamente do blog. Pelo contrário. As viagens acabavam se desdobrando em posts e mais posts, feitos, quase sempre, no calor dos acontecimentos. Desta vez, senti a necessidade de fazer diferente. Estava precisando de um “detox” da função, sabe?! Durante vinte dias, meu contato com o mundo virtual se restringiu à postagens nas redes sociais, onde a relação com o conteúdo é mais descompromissada, completamente diferente de quando me sento na frente do computador para produzir um post para cá.

Antes de mais nada, preciso deixar claro que o blog esteve presente em meus pensamentos o tempo inteiro. As férias foram apenas do hábito, da maneira quase mecânica como eu vinha conduzindo o trabalho, jamais do comprometimento que tenho por este espaço e do enorme apreço por todos os leitores que compõem nossa audiência. Nesse período, as ideias brotaram e meu ânimo para realizá-las foi redobrado.

Agora, de volta ao batente, reitero minha gratidão a todos que acessam Hot Spot e reafirmo o propósito de continuar  dando a este espaço o tônus de exclusividade e badalação que o alçou a uma das maiores audiência da família Imirante.com. É isso aí!

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Eduardo Campos se despede da vida para entrar na história

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Eduardo Campos, há um mês, quando assistia a um jogo da Copa do Mundo ao lado da família. Na foto, o candidato à presidência com o filho caçula no colo, Miguel, que é portador de Síndrome de Down e cujo nome foi escolhdo homenagem ao avô Miguel Arraes, grande nome da política em Pernambuco. (Foto: PSB)
Eduardo Campos, há um mês, quando assistia a um jogo da Copa do Mundo ao lado da família. Na foto, o candidato à Presidência da República é clicado com o filho caçula, Miguel, que é portador de Síndrome de Down e cujo nome foi escolhido homenagem ao avô Miguel Arraes, grande nome da política em Pernambuco. (Foto: PSB).

O almoço do brasileiro desta quarta-feira 13 teve sabor indigesto. Enquanto muitos de nós nos posicionávamos à mesa, o noticiário surpreendia o país com a morte do candidato à Presidência da República Eduardo Campos em acidente aéreo na cidade de Santos (SP). Não é para menos a perplexidade que a notícia despertou no Brasil. Afinal, até mesmo para além dos 9% do eleitorado que o queria como o próximo presidente – segundo revelado em pesquisa Ibope de 07/08 -,  é chocante a perda repentina de uma figura proeminente do cenário nacional da atualidade.

Político jovem, aos 49 anos, de histórico vitorioso (sobretudo no estado de Pernambuco, onde foi governador por dois mandatos e exercia forte liderança política) e futuro promissor; casado e pai de uma família de 5 filhos (o mais novo, a propósito, com apenas 6 meses de vida e portador de Síndrome de Down, o que torna o contorno familiar ainda mais sensibilizante); a maneira trágica da morte… Tudo contribui para nos deixar tocados. Como se não bastasse, o presidenciável ainda partiu no mesmo 13 de agosto que o avô, o histórico político Miguel Arraes, falecido há 9 anos. Data que, certamente, vai marcar em definitivo a família, os conterrâneos  e todo o eleitorado de Eduardo Campos.

Espelho dos dias de hoje, tamanhã comoção ganhou corpo, é claro, nas redes sociais. Eu mesmo fui um dos que se sentiu tentado a exprimir o impacto provocado pelo episódio. Amiúde o que publiquei em meu perfil: “Agora é momento de se hastear a meio mastro bandeiras partidárias, dar um tempo das piadas (todas, desnecessárias) sobre a eleição e deixar de lado toda e qualquer discussão a respeito da sucessão presidencial. O Brasil está estarrecido. Eu diria mais: em luto. E não por menos. O país acaba de perder um grande expoente político, num momento crucial e da maneira mais surpreendente possível. Eduardo Campos se despede da vida para entrar na história.”

No entanto, minha compreensão não alcança o porquê de algumas pessoas aproveitarem um momento como este para fazer colocações, no mínimo, inoportunas. As de maior mau gosto e inutilidade são, indiscutivelmente, as que sugerem a morte de outros políticos no lugar e as que colocam culpa em “a” ou “b” pelo acidente. Do mesmo modo que não consigo compreender como há quem trate dos possíveis desdobramentos que a tragédia vai trazer para as eleições com tom virulento ou sarcástico. Pedir respeito, sobretudo num momento de luto como este, é demais?!

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Apesar de atordoados…

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Seleção brasileira 2014 (Divulgação)
Seleção brasileira 2014 (Divulgação)

Devemos encarar o episódio inclassificável deste 8 de julho como uma lição. É consenso que nossa derrota alcança proporções inimagináveis – e sei também que todas elas são dolorosas, difíceis de aceitar; esta em questão, então, foi além da conta. Mas não podemos agir como crianças mimadas, que não sabem lidar com adversidades. Encaremos, pois, o resultado desta semifinal contra a vitoriosa Alemanha como adultos, de maneira sensata. Não precisa ser muito entendido de futebol para saber da ilógica que, muitas vezes, o cerca, sem contar nos golpes de (má) sorte que, sim, também fazem parte deste esporte. E, independente do quilate do time alemão – que, convenhamos, já se anunciava superior ao longo do mundial -, só mesmo o inexplicável para justificar o que aconteceu naquela partida. Portanto, pra começo de conversa, que a “caça às bruxas” se restrinja aos personagens para os memes criativos que nos tem feito rir, apesar de tudo. Aliás, nada mais saudável, dizem especialistas, do que rirmos de nós próprios (e nisso somos campeões!). Jogadores e comissão técnica, até a véspera da eliminação tratados com toda euforia, não merecem ser demonizados pela derrota do Brasil. O preço, pode apostar, todos eles já estão amargando. Confesso que também fiquei encabulado com a derrota. Mas, ao mesmo tempo, não quero apagar da memória os momentos felizes que vivi nas cinco partidas até aqui. Não é justo. Sofremos, gritamos, xingamos… E fomos ao delírio, contagiados por uma imensa alegria após cada vitória. Prefiro ficar com o carinho pela seleção 2014 – e, a partir de já, com o coração na mão para 2018. Ah, e estarei com eles no sábado, vibrando pela conquista do 3º lugar. É o que nos resta…

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Com a palavra… Bruno Duailibe

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Tela de Romero Britto (Reprodução)
Tela de Romero Britto (Reprodução).

Amor de Carnaval

Quem nunca se rendeu à dor do fim de um romance? Com direito a tudo: lágrimas, bebedeiras, remorsos e aquela leve esperança de que tudo possa se recompor, ainda que nada mais possa ser remendado? Pois é, foi num estado pior do que este que encontrei meu amigo engenheiro nesta última quarta-feira de cinzas. Lá já estavam o meu amigo poeta; a mesa do bar; a música dor de cotovelo e o vinho. Eu não sabia direito o que tinha acontecido, mas logo soube de toda a história que lhes conto agora.

Foi amor à primeira vista. Nas primeiras festas de pré-carnaval, nossos olhares se cruzaram de repente. Eu estava de um lado da rua e ela do outro. Sorrimos, fui em sua direção e nos beijamos. Desde então vivemos dias de uma paixão, horas de ternura e muitas promessas de amor eterno feitas minuto a minuto, relatou o engenheiro.
– Se bem vejo, acabaram-se em questão de segundos – completou ironicamente o poeta.
– Não tinha acabado! Tínhamos dado um tempo. Ela disse que precisava pensar e viajou com as amigas para Recife.
– Em pleno carnaval? Logo vi que se tratava de um retiro espiritual…
– Meu caro literato, hoje não estou para o teu sarcasmo-filosófico-poético. Ela, na verdade, me disse que estávamos indo rápido demais.
– Como assim rápido demais? – perguntei curioso.
– Fiz planos com direito a tudo: igreja, casa, filhos.
– E, deixe-me ver: ofereceste-lhe uma aliança? – questionou o poeta com ironia.
– Diferentemente de ti, sou homem de atitude, poeta. Sei o que quero e vou à luta. Por isso, há uns quinze dias, escolhi o anel mais bonito da joalheria e programei um jantar à luz de vela, em frente ao mar…
– Então foi pra isso que me pediste um soneto de Neruda?
– Claro que sim! No momento que entreguei a prenda, recitei-o. Como seu sorriso era lindo!
– Ela devia era estar rindo de toda a tua palhaçada. E, deixe-me ver, de repente, não mais que de repente, ela declamou-te o “Soneto da Separação”?
– Como é que sabes? – tornou-se surpreso o engenheiro.
– Eu que não entendi foi nada! Não era só um “tempo” pra pensar? – interrompi a digressão.
– Fala sério, conspícuo! Acreditas mesmo nessa história de “pensar com as amigas” durante o carnaval?
Depois de tomar dois goles de vinho, já se debulhando em lágrimas, o engenheiro retomou a narrativa de seu triste amor de carnaval:
– Ontem de manhã recebi uma mensagem com o soneto de Vinícius no qual ela se dizia consternada e que não poderia seguir ao meu lado, pois não estava a minha altura e nem preparada para os compromissos que eu queria assumir.
– Eu vi o quanto ela estava desolada na foto que ela partilhou com os amigos do grupo de mensagem instantânea. Linda em sua morenice brejeira, com plumas e paetês, brindava com as amigas e os amigos a alegria do carnaval.
– Não me venha semear a discórdia com intrigas e disse-me-disse – retorquiu indignado o engenheiro.
– Pior cego é aquele que não quer ver.
– Não jogues pedra que tens teto de vidro – ameaçou o engenheiro que, depois de um breve silêncio, confessou: – O que eu quero é reconquistá-la.
– Meu caro, não há como reconquistar o que nunca se teve. E, bebendo da fonte de Bauman, ouso te dizer que as tuas promessas de compromisso eram e continuarão a ser irrelevantes para ela a longo prazo, porque os amantes creem que novas possibilidades amorosas podem vir a ser muito mais satisfatórias e completas.
– Tiro no escuro! – disse eu.
– Verdade. Mas não é menos verdadeiro pensar que é mais seguro mantermos os laços frouxos e todas as portas abertas. Por isso, evitar um compromisso pode ser a ordem do dia!
– Mas eu pensei que era exatamente um compromisso o que ela queria! – exasperou-se o amigo engenheiro.
– Eu sei que essa constatação é desconcertante. Mas pensando sob a lógica vigente nesse mundo acelerado, não se deve investir tempo em cultivos incessantes, em cuidados permanentes e nas difíceis concessões necessárias ao compromisso amoroso. Afinal, é difícil recuperar o “valor agregado” de todos esses investimentos
– Quer dizer que ela achou que eu não valia a pena?
– Por aí…quero dizer…não é exatamente isso, meu amigo. Usei apenas de uma metáfora para explicar que ela eliminou um prejuízo em potencial.
– Eu não valho nada mesmo! – exclamou o engenheiro num acesso de autopiedade.
– Nada disso! És um homem de valor inestimável. Um cavalheiro, um príncipe, como prova a tua conduta. Ela é que é insegura como, afinal, todos nós somos, engenheiro.
– Vem cá, meu amigo poeta, não estás sendo mais pragmático do que de costume?
– Muito pelo contrário, meu advogado. Apenas estou atento a essas questões que nos envolvem. E, embora nunca lhe tenha relatado, numa relação sou capaz de ser tão romântico quanto se revelou nosso companheiro aqui. Acredito naquele amor que Jacó dedicou a Raquel, na intensidade da paixão de Romeu e Julieta e na perenidade do amor de Inês e de Pedro.
– Mas…
– Mas, como meu amigo engenheiro, acredito que as relações existam para serem desfrutadas com todas as suas tortuosas amarras e emoções. Nem que, ao cabo, tenhamos que sorver com vinho o sofrimento e derramar o pranto da mal-aventurança… para em seguida abrir o peito e a mente para um novo amor. Um brinde ao amor!

Bruno Duailibe
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF  / Email: [email protected]

 

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Inspiração do dia: Bem-te-vi

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Foto: Instagram @marcusstudio
Foto: Instagram @marcusstudio

O bem-te-vi, pelo visto, andou aguçando a inspiração de dois grandes colaboradores de Hot Spot.

Primeiro, foi o colunista Pergentino Holanda, que fechou a seção “Trivial Variado” de sua coluna desta quinta (23) com a seguinte nota: “Que os bem-te-vis cantam por toda a cidade, todo mundo sabe. O que poucos perceberam é que nos dias de calor intenso eles se mandam. para onde eles vão? Fácil. Vão gritar ‘bem te vi’ nas praias praias, onde está a mulherada. Lá eles veem bem porque bobos não são”.

Depois foi o fotógrafo Marcus Studio, que trouxe aos seus seguidores do Instagram um clique da simpática ave (este que ilustra o post), com a legenda: “bom te ver!”

O encontrar o passarinho – um dos tantos símbolos que trago da infância, sobretudo o canto, que me remete aos sábados ensolarados brincando no quintal de minha avó – presente no jornal e na rede social, foi inevitável a memória do texto de Cecília Meirelles, “História de bem-te-vi”, cujo trecho a seguir me parece oportuno: “Mas há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.E é pena, pois com esse nome que tem — e que é a sua própria voz — devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborreceria.”

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Com a palavra… Bruno Duailibe

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Nosso cronista convidado brindou os apreciados de seus textos com um artigo inspirador no primeiro domingo de 2014, na seção de opinião do jornal O Estado MA. Leitura simples – nem por isso, menos sofisticada – e sensível, que Hot Spot reproduz agora, trazendo junto, como ilustração, um click tirado do Instagram do fotógrafo Marcus Studio. Uma foto poética, dentro da mesma atmosfera tocante do texto de Bruno. Boa Leitura!

Foto: Instagram @marcusstudio
Foto: Instagram @marcusstudio

“All the lonely people, where do they all belong?”

(Paul McCartney e John Lennon)

Dez maranhenses em 2014

Em pé, perto de uma esquina na Rua do Passeio, José espera há quatro horas que apenas um dos transeuntes passe e lhe compre uma das antenas de tv que balança ora da esquerda para a direita, ora ao contrário. Às vezes, se pergunta se haverá quem ainda se interesse por esse tipo de paramento, já que as televisões “mais fininhas” e de “imagem bonita” estão por todo lado. “- Alguém vai parar e vai comprar”, e ele vai ter como pagar o bandeco. [2014 vai ser um dia de cada vez].
* * *
Luís caminha pela Rua dos Prazeres com quatro reais no bolso, que sobraram do reggae de ontem. Parando para tomar uma água de coco e tentar minimizar os efeitos da ressaca, ouve distante aquele “melô” que tentava, a todo custo, esquecer e que remetia a dolorosas memórias. Quando chega em casa, a música ainda está impregnada na sua cabeça e ele então decide que não irá mais sofrer por quem não merece. [Em 2014 muitas “pedras” vão rolar].
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Dona Maria caminha pela beira-mar e, pertinho do Cais da Sagração, lembra-se que ali conheceu Joaquim. Não foi nada além de um amor de carnaval, mas a sensação de que poderia ser mais do que isso perdura todo o percurso de volta para casa. Sozinha, em sua viuvez de um amor só, espera que alguém apareça em sua vida. [2014 vai ser um ano para apostar em novos amores].
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Na Rua do Alecrim vive dona Lindalva. Depois de 60 anos cozinhando para os “barões”, passa a maior parte do dia sentada numa cadeira de balanço. Do lugar onde se senta pode ver o programa que passa na tv e quem passa na rua. Com as pernas fracas, não pode ficar mais do que alguns minutos de pé, segundo os médicos. Por isso tem tempo de sobra para nutrir a expectativa de que um familiar venha lhe alegrar com uma visita. Muitas vezes, quase ninguém aparece. [2014 há de ser um ano pleno de júbilo].
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Em toda missa do meio dia está Seu Vitorino. Saquinho na mão, comunga com os cristãos que, como ele, querem expiar pecados. Na saída da missa, pede que a caridade pregada pelo padre compadeça seus fiéis. Ele precisa tomar, pelo menos, um cafezinho nesse longo dia que lhe resta nas ruas de uma velha cidade. [2014 será um ano de esperança em dias melhores].
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Margarida floresceu nas ruas e com quinze anos tem que pensar em como dar o leite ao menino que tem em seus braços. O jeito talvez seja vender o resto de sua juventude nas ruas do Reviver. O menino fica com a vó, enquanto ela ganha a vida. “- Ele vai ser um prodígio do futebol”. À noite, imagina que em 2030 seu filho vai segurar a taça de campeão do mundo. [2014 é um tempo de investir no futuro].
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Cambaleando nas ruas, Fábio ainda comemora a chegada de um novo ano. Ele vê que muita gente já está no batente, mas acha que merece mais um copo de cerveja. Faz uma parada estratégica no negócio de Seu Manuel e quatro horas depois, já bebeu dez garrafas. Pensa se o patrão ainda vai querer seus serviços amanhã. Se não quiser, já sabe que vai ter problemas com a patroa e que vai ter que dar um jeito de conseguir trabalho rápido. [2014 vai ser um ano para mudar de carreira].
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Valentina é bonita, inteligente e gostosa. Quer ser modelo. Andar nas passarelas, ser fotografada, aparecer nas capas de revistas do mundo todo. Maquia-se, arruma-se em frente ao espelho, tira diversas fotos no celular e posta na rede social. Espera uma curtida, enquanto cuida dos dois irmãos caçulas para a mãe trabalhar. Quer fazer um curso de modelo-manequim, em São Paulo, mas sua mãe mal lhe pode pagar a passagem para que ela chegue à escola. [2014 é o ano de tornar os sonhos em realidade].
* * *
No primeiro dia útil do ano, Kátia vai à Rua Grande. Quer fazer compras para atrair todo e o melhor sentimento alheio. Pensa no sapato de que não precisa, imagina-se vestida com os modelitos que vê nas vitrines. Ela ficará linda na balada do próximo fim de semana. Não lhe custa nada se pode parcelar em doze prestações ou fazer um empréstimo. [2014 é um ano para organizar as finanças].
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Gilson não é um tipo bonito, tampouco é um sujeito incrível. Trabalhou duro no ano que passou e, finalmente, pôde dar a entrada no carro zero quilômetro. Aproveitou que sobrou um graninha e comprou o smartphone que foi lançado no final do ano pela apple. Assim, vai se sentir mais seguro para “chegar” nas gatas da festa. [2014 é um ano para confiar em si mesmo].
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Num começo de ano, as listas de desejos também servem para pôr a vida em perspectiva.

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