No último dia do SLZ Fashion, quinta, 23, aproveitei a presença da estilista alagoana Martha Medeiros, um dos nomes mais festejados da moda brasileira da atualidade, para conversar com ela sobre seu trabalho, que reúne a delicadeza da renda renascença com toque de alta costura, e a relação com a mulher maranhense [as peças de Martha Medeiros são encontradas em São Luís com exclusividade ma Elle Jolie, de Manu Schiavotelo Mendonça]. A conversa – agradabilíssima, diga-se – aconteceu primeiro no backstage e, num segundo momento, no Lounge Na Mira – espaço que Martha e a top Bianca Klamt, atração especial da terceira noite de SLZ Fashion 2010, fizeram questão de prestigiar, no fim dos desfiles (foto abaixo). [A reportagem a seguir foi publicada na coluna “Página 7”, do PH Revista do último domingo, 26]A mulher que veste Martha Medeiros – Ela não é escrava da moda. Ela usa o que lhe interessa e descarta o restante. Quando eu faço uma coleção penso em todas as mulheres: nas que moram em São Luís, em São Paulo, Nova York, Saint Tropez… Com o Maranhão a gente tem um carinho muito especial. Estamos aqui desde que abriu a Elle Jolie. A partir daí, começamos a ter um trabalho bacana, feito em parceria. E a gente começou a conhecer melhor a maranhense. Para se ter uma ideia, hoje, nós fazemos várias noivas e mães de noivas e de noivos aqui no Maranhão. A gente sente uma identificação muito forte com essa mulher, que é muito a que eu visto. Uma mulher que quer estar linda nos momentos especiais da vida dela. Ela trabalha, viaja, constrói seu espaço… E nos momentos que ela sabe que serão eternizados com fotografias, essa mulher quer uma roupa especial, feita para ela, uma roupa muito bem pensada.
Renda Renascença em Alta Costura – Isso começou muito cedo. Eu sou neta de uma professora de Artes, que, diga-se de passagem, é uma das mais conhecidas do nosso estado, Alagoas. Ela sempre me levava para passar férias numa cidade do interior chamada São Sebastião, onde o prefeito era muito amigo de nossa família. E nesse lugar é costume as mulheres cuidarem dos afazeres domésticos durante manhã e à tarde, ficarem fazendo renda nas portas da casa. Aí, comecei a fazer roupa de boneca com renda, quando tinha uns 8 anos. E aos 9 anos, eu abri uma butique de roupas de bonecas. E com minha avó aprendi que, mesmo sendo de boneca, a roupa deveria ter bolso faca, bainha italiana, todas as rendas deveriam se encontrar, a mesma roupa ser pelo direito e pelo avesso. Então, eu aprendi muito cedo esses detalhes que deixam a roupa rica. Aprendi com minha avó também que a gente não precisa ter muito. Precisa, sim, ter o que é bom. Acho, inclusive, que isso está sendo a opção atual da mulher do mundo. Mas voltando… Eu, já adulta, abri uma multimarca em Maceió. Depois de 20 anos trabalhando nela, senti a necessidade, muito pelo desejo da minha cliente, de ter uma roupa mais especial, para datas muito especiais. Aí eu fui buscar na minha infância, aquilo que era tão lindo e tão raro, cada vez mais raro no mundo. Tanto que eu, há um mês, fui convidada para conhecer o Musée de Calais, na França. Cheguei lá e a diretora já estava me esperando com fotógrafo, um monte de pessoas. A diretora de moda me apresentou o museu e no fim, fiquei surpresa de que eles conheciam todo o meu trabalho. Elas sabiam cada roupa do meu site de cor. No fim, me mostram um espaço que serve para exposições de grandes estilistas. Tinha lá o espaço do Saint Laurent, do Valentino, da Chanel, da Madame Vionnet. Aí fui convidada para expor minhas peças neste mesmo espaço, junto com os grandes criadores. Eu realmente fiquei muito emocionada! Tenho que entregar as peças até o final do ano, e a exposição acontece no início do ano que vem.
Calendário próprio para as coleções Martha Medeiros – Eu não sigo esse calendário que convenciou-se para a moda. A mulher que veste Martha não tem pressa em usar uma peça minha. Ela usa hoje, usa daqui a seis meses, uma ano… Ela vai deixar para a filha, para a neta… A roupa vai ser um vintage, será eternamente linda. A gente trabalha pensando “eu quero uma roupa que daqui a cinqüenta anos seja linda”. Como eu vejo as roupas da Jacqueline Kennedy Onassis são maravilhosas. Eu gostaria de ter eles na minha loja hoje. O que a gente faz é trazer uma proposta nova para o clássico. O que muda é a maneira de se usar, mas as peças são relativamente as mesmas. Quando um corte é perfeito e as linhas puras não têm como errar. Por isso a gente não trabalha com coleção. Anualmente, a gente faz uma linha para ser trabalhada durante o ano, escolhe a cartela de cor. Tem cores que estão em todas as coleções, como o preto, o branco e o bege, independente de ser inverno ou verão. E, semanalmente, vamos colocando uma peça ou outra dentro dessa coleção mestra.
Maranhão, um sonho! – Vim a primeira vez pra cá agora. E já estou indo embora com um sonho. Olha que eu não gosto nem de sonhar, porque quando eu sonho é certeza de que vai acontecer! E o meu sonho é fazer uma coleção inteira inspirada no Maranhão, inspirada nos lençóis Maranhense. E mais, quero que as fotos sejam feitas lá, todas com Bianca Klamt. Hot Spot não tem dúvidas de que vai ficar um arraso!
(*Foto: Daniel Martins – 9d.com.br)