Meninos, eu vi: Madonna em SP

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Na qualidade de fã da Madonna, é mais que natural que eu já tivesse visto toda a apresentação de seu novo show pelo Youtube (e não foram poucas as vezes!). Mesmo assim, na última terça, 4, quando estive na passagem da turnê M.D.N.A por São Paulo, no estádio do Morumbi, foi inevitável que o arrepio tomasse conta de mim, diante daquela performance completamente surpreendente – por mais que eu já soubesse todo o script.

Como já disse, faço parte da legião de súditos da Rainha do Pop. Não tanto pela música – que, devo admitir, já teve momentos melhores, mas, mesmo assim, continuo gostando! -, quanto pela imagem que Madonna construiu, reinventou e vem perpetuando de si, ao longo de trinta anos de estrada – e com incontáveis concorrentes pelo caminho. Todos, aliás, abatidos pelo seu poder.

Beira o surreal vê-la no palco. Aquele corpo (não adianta: vou sempre me ruborizar diante dele!) e sua atuação tem qualquer coisa de espartano, conquistados, a gente sabe, unicamente pelo caminho de uma disciplina que nos esgota só de ver. É, meus caros, carregar o cetro e a coroa tem lá seus fardos!

Além de todo o seu potencial físico, Madonna ainda conta com uma parafernália tecnológica digna de “Star Wars”, ajudando a hipnotizar sua plateia pelas duas horas de duração de seu show. Isso sem falar do corpo de bailarinos, outro trunfo crucial para tornar o espetáculo NO espetáculo!

Em M.D.N.A Tour, no quesito canção, as performances mais empolgantes são as de “Girl Gone Wild” – que abre majestosamente o show -, “Turn Up the Radio” e “Give me all your luvin” (precedida por “Express Yourself” e a homenagem-provocação “Born This Way”, da Lady Gaga), ambas do último CD. Mas os pontos altos da noite ficam mesmo com as clássicas “Vogue”, “Open Your Heart” e a sublime “Like a Prayer”. E o gran finale: “Clebration” e “Give it 2 me” (com direito a Rocco, filho da cantora, misturado aos bailarinos) juntas, para nos fazer sair do estádio sem fôlego algum!

Mas em se tratando da maior entretainer do pop, o conjunto do show é, de fato, o que faz de M.D.N.A algo de inesquecível.

Madonna em ação; e eu, em transe / Micaelly Rolim, minha partner na aventura M.D.N.A / O palco durante a apresentação de “Girl Gone Wild”, a primeira e mais surpreendente da noite / A rainha próxima dos súditos / e o encontro maranhense com Gerusa Alves, Marcela Simplício e Michelle Kyatt.
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Com a palavra Bruno Duailibe!

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Do equilíbrio

A cena mostrava-se hilariante. O engenheiro vagando, aos tropeços, circulando entre as mesas do bar como se buscasse algo, mas, na verdade, ele estava bastante alcoolizado e tentava se aproximar da mesa do nosso amigo poeta, desenvolvendo um caminho tortuoso, totalmente desnecessário sob o ponto de vista de uma pessoa sóbria.

Eu, propositadamente, atrasei os passos, para acompanhar a cena de perto, com a premonição de que ele iria precisar de ajuda. Não deu outra. Desequilibrou-se para o lado em que eu estava e, se eu não o apoiasse, teria se estatelado no chão. Acomodei-o numa cadeira e ele balbuciando externou:

– A acho que é a mi mi minha la la la labirintite.

O poeta, que acompanhava a cena desde o começo, glosou:

– É, parecias estar no labirinto do Minotauro, da forma como te deslocavas neste pequeno ambiente.

O engenheiro, como que despertasse, imediatamente retrucou:

– Se este ambiente é um labirinto, quem seria o Minotauro?

Senti que o clima iria esquentar. Mas, para minha surpresa, o poeta manteve-se calado, numa postura equilibrada. O engenheiro alfinetou novamente:

– Poeta, parece que viveste na Grécia Antiga, pois toda vez que queres falar alguma coisa sempre te voltas para personagens gregos. O poeta, pensativo, provavelmente ainda digerindo a provocação sobre o Minotauro, aludiu:

– Meu estimado homem do concreto, mesmo passados dois mil anos, vivemos sob a égide das ideias de Platão e Aristóteles. Quase todo o conhecimento posterior a eles está assentado nas suas ideias de como o homem deveria viver. Platão sempre olhando para cima, no mundo das ideias, e Aristóteles, mais pragmático, olhando para o mundo real. Aliás, Aristóteles nos dá uma boa contribuição sobre o princípio do equilíbrio que, pelo visto, o colega hoje desconsiderou ao ingerir uma carraspana, que gerou essa “labirintite” de dá dó.

Para evitar um desentendimento desnecessário, imediatamente intercedi:

– Poeta, o equilíbrio é, por certo, um dos princípios mais apregoados nos dias de hoje, principalmente quando se fala de gestão pública. Eu, por exemplo, tenho um amigo prefeito de um município do interior, que sempre que alguém lhe pede algo logo responde e repete: “Tenho que manter o equilíbrio fiscal, tenho que manter o equilíbrio fiscal”. Vocês não estão vendo o que está acontecendo com a Grécia, Espanha e Portugal? Não mantiveram o equilíbrio fiscal…

O engenheiro, como se despertasse de um novo sono profundo, se levantou e afirmou:

– Eu consigo manter o equilíbrio. Vou fazer um quatro!

Nessa hora, se eu não o tivesse segurado, com certeza teria era caído de quatro no chão. Movido por mais essa cena cômica, o poeta não se conteve:

– Meu caro amigo das leis, o ser humano precisa compreender que o equilíbrio é de fundamental importância para o bem viver. Somos seres duais. Todas as vezes que uma das partes se sobrepõe de uma maneira muito intensa sobre a outra, ficamos desequilibrados e podemos desmoronar…

O engenheiro, porém, insistia em participar da conversa e logo interrompeu o discurso filosófico do poeta:

– É verdade, se não houver equilíbrio entre a quantidade de água, areia, cimento e brita, um prédio pode até desabar. Aliás, decisão sem equilíbrio, seja ela qual for, é sinônimo de decisão equivocada!

O poeta, como se não tivesse ouvindo a participação do engenheiro, continuou:

– Somos disputados por duas poderosas forças internas: Eros e Tanathos. Temos que mantê-las sob controle, como um cabo de guerra, em que não pode haver vencedor. Razão e emoção também devem encontrar o equilíbrio. Embora utilizando a nossa habilidade de racionalizar, não podemos desprezar o sentir. Um ser totalmente racional ou completamente emocional não contempla a beleza que existe na natureza onde tudo tende ao equilíbrio. O mesmo vale para a arte. Aliás, nesse campo é o equilíbrio da forma, é o equilíbrio das cores, é o equilíbrio dos sons que nos permitem apreciar a estética da beleza e do belo.

Mais uma vez, o engenheiro se levantou e, com o dedo indicador em riste na minha direção, inquiriu:

– A questão do equilíbrio é tão importante, meu nobre causídico, que o símbolo da Justiça é uma mulher de olhos vendados, carregando numa mão uma espada e na outra uma balança que expressa o equilíbrio. Não é isso?

– Sim, sim. É a representação da deusa Têmis, a deusa grega dos juramentos e da Justiça, a protetora dos oprimidos – complementei.

Como se refletisse por uns instantes, o engenheiro, agora num tom mais sério, se dirigiu ao poeta e propôs:

– Meu amigo poeta, com o causídico de testemunha, convido-o para visitar a Grécia, com todas as despesas por mim custeadas. Não posso morrer sem ver de perto o local onde viveram esses homens que tanto nos influenciam.

O poeta, como se duvidasse, me olhou de soslaio e indagou:

– Será que amanhã, quando ele recuperar o equilíbrio, ainda manterá esta proposta de pé?

Bruno Duailibe

Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF/ [email protected]

 

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