Uma amiga a quem respeito muito as opiniões me enviou um e-mail com o link de uma matéria publicada no caderno “Tec”, da Folha de São Paulo do último dia 26, falando sobre o mais recente trabalho do psicólogo americano Larry Rosen, o livro “iDisorder“, que aborda os comportamentos problemáticos causados pelas redes sociais e smartphones.
Além de reconhecer como crítica pessoal – afinal, devo admitir: sou vi-ci-a-do! -, achei o assunto tão salutar, que decidi reproduzir a matéria assinada por Rafael Garcia no blog. Fica a reflexão, hotspotter…
Quando o psicólogo Larry Rosen publicou seu primeiro estudo sobre problemas mentais ligados à tecnologia, em 1984, o vício em videogames Atari era praticamente o único assunto na área.
Hoje, com smartphones e redes sociais pedindo atenção permanente das pessoas, a lista de problemas cresceu para uma dezena de sintomas de males psiquiátricos.
Em seu novo livro, “iDisorder” (iTranstorno, numa tradução livre), Rosen defende a tese de que o Facebook e o iPhone acentuam comportamentos problemáticos que não seriam comuns numa sociedade “desplugada”.
“Narcisismo, depressão e obsessão são aqueles que parecem ser os mais frequentes”, afirmou Rosen em entrevista à Folha.
“Mais gente está se tornando mais narcisista, ou está se apresentando para o mundo como se só se importasse consigo própria. Mais gente está ficando obcecada e compelida a checar constantemente o telefone. E há uma pesquisa que mostra que mais pessoas estão ficando deprimidas quando não têm coisas maravilhosas para mostrar aos outros no Facebook.”
No livro, além de apresentar resultados de estudos com centenas de usuários de internet e dispositivos móveis, Rosen ilustra sua tese relatando casos individuais.
São jovens que sofrem crises de ansiedade por estarem sem sinal de internet, estudantes que perdem a capacidade de concentração e até um programador que começou a desenvolver esquizofrenia por viver isolado, interagindo só via web.
Em algumas histórias, é fácil sentir empatia. Quem nunca viu uma mesa de bar onde as pessoas estavam manipulando seus celulares em vez de conversarem entre si?
Coisas como ansiedade e obsessão, porém, sempre existiram. Será que na interação com iPhones e iPads eles se transformam em novos problemas?
“Não”, disse o professor da Universidade do Estado da Califórnia. “Cunhei o termo ‘iDisorder’ porque quero chamar a atenção para o modo como as pessoas interagem com esses aparelhos. Quero mostrar que eles geram a aparência de que temos um transtorno psiquiátrico, mesmo quando não temos.”
FOCOS DE TENSÃO
Ainda assim, é algo preocupante, afirma Rosen, que divide a autoria do livro com Nancy Cheever e Mark Carrier. Os problemas descritos por eles são fonte de atrito nas relações interpessoais e pioram nossa qualidade de vida.
Para organizar essa tese, “iDisorder” apresenta um capítulo para cada tipo de transtorno tecnopsicológico.
Ao final de cada um, há um trecho de autoajuda, que mostra dicas de como evitar o problema. Algumas sugestões são senso comum, enquanto outras usam material mais sofisticado, como questionários que os psicólogos adotam em suas pesquisas.
Os autores defendem que, cada vez mais, psicólogos não podem ignorar a tecnologia. Não há como cuidar de um adolescente sem entender qual personalidade ele exibe no Facebook, por exemplo. E isso também é verdade para muitos adultos.
Rosen foi pioneiro em dar alguma ordem no conhecimento que existe sobre o tema, apesar de algumas de suas alegações soarem exageradas: seu livro se autointitula “groundbreaking” (uma inovação surpreendente).
SEM JULGAMENTO
Mas, mesmo que não seja um salto de conhecimento radical, o livro “iDisorder” tem algo de inédito. Uma qualidade especial de Rosen é a de não exercer tom julgador quando fala sobre algum transtorno, algo que resulta de sua própria obsessão por aparelhos eletrônicos.
“Com frequência, percebo que estou apalpando meu bolso da perna direita”, conta o psicólogo. “É estranho, porque faço isso mesmo quando sei que meu telefone está lá. Quando, por acaso, ele não está lá, começo a ficar ansioso. Até descobrir onde deixei meu telefone, a ansiedade não diminui”, diz.Editoria de arte/Folhapress