Com a palavra… O novo papai do pedaço!
E com imensa alegria que Hot Spot anuncia, junto com a publicação do mais novo texto assinado pelo nosso convidado especial, o advogado Bruno Duailibe, o nascimento de seu primeiro filho, o pequeno Bruno, que veio ao mundo nesta quarta-feira, 15 de fevereiro. Ao invés das ilustrações de Salomão Junior, que sempre acompanham as crônicas dele, trazemos um registro do casal Bruno e Ana Clara, sábado passado, 11, durante o almoço carnavalesco do PH Revista.
Naquela semana, tive um sonho bizarro. Travava um diálogo, em voz alta, comigo mesmo, só que eu já tinha a aparência de um senhor com 70 anos de idade, com uma bengala na mão, mas que, no entanto, estava no auge da minha lucidez.
Não me lembrava exatamente o que tinha sido dito (Freud explica), mas a ideia do sonho não me deixava em paz. Quando fui ao bar, na sexta-feira daquela mesma semana, não hesitei em compartilhá-lo com o meu poeta quase sexagenário, e sem muita cerimônia, perguntei-lhe:
– Poeta, tens medo de envelhecer?
Ato contínuo, o poeta respondeu:
– Eu? Claro que não, meu amigo. Ser velho é um verdadeiro privilégio, porque é sinal de que você não morreu novo. E verdade seja dita: eu até admiro a obra e a vida de Álvares de Azevedo e de outros que morreram antes dos 21 anos de idade. Mas, aqui entre nós, eu ainda quero fazer muita poesia. Procuro viver plenamente: levanto cedo, alimento-me frugalmente, faço minha caminhada diária. Promovo uma verdadeira higiene mental nesse interregno, pois procuro não pensar, apenas me integro à natureza. É como se eu estivesse num templo, em que se pode contemplar a Terra inteira. Esse “exercício diário” dura exatamente 55 minutos, nem mais, nem menos.
Ainda pouco convencido com a resposta, provoquei:
– Mas não temes as limitações da idade avançada? O desprezo da sociedade pela velhice?
– Meu amigo, em toda e qualquer idade há limitações, não é apenas na terceira. Quanto ao desprezo, esse, sim, é temeroso. A sociedade líquida, descrita por Bauman, é um lugar de efemeridade, onde o novo é cultuado e o velho descartado. Por isso, muita gente quer parecer sempre nova, com receio de ser rejeitada.
Nesse momento, aproximou-se o engenheiro com seu ar bonachão e sorriso largo. E sem ao menos nos cumprimentar, foi logo dizendo:
– Eu li que existe uma fórmula desenvolvida na Universidade de Gifu, no Japão, para calcular a idade com a qual a pessoa vai morrer.
Gelei. Alguns de vocês devem se lembrar que a última conversa dos dois, acabou em confusão. Debochada e filosoficamente, o poeta rebateu:
– Boa noite pra você também! Como ia dizendo, Sêneca afirmava que tempo de vida é coisa do destino, e modo de viver, sim, é coisa nossa.
Interessado pela fórmula do engenheiro, interroguei-lhe:
– Ei, oriundo da ciência exata, que fórmula é essa?
– Chama-se longevidade ancestral imediata total (LAIT). Soma-se as idades da morte dos seus últimos seis familiares – mãe, pai e avós – e dividi-se por seis.
Animado, o poeta logo foi revelando a idade dos seus ancestrais:
– Então eu estou é bem na foto. Vovô, pai de mamãe, morreu com 103 anos; vovó, com 92; o pai de papai morreu com 95 e minha outra avó, com 96; mamãe tá com 88, mas é pra frente, palpiteira, curiosa, assiste a tudo que é novela e ainda tem disposição para beliscar papai – que tem 90 anos – quando ele paquera as enfermeiras nas consultas rotineiras.
Mal o poeta terminou de falar, o engenheiro já apresentava o resultado:
– A tua LAIT, hoje, é de 94 anos. Isso se tiveres um estilo de vida parecido ou melhor do que o de teus ancestrais. Pelo que tu dizes tua mãe é irrequieta, teu pai idem, principalmente nos consultórios. Como sabes, o nosso corpo quando fica parado é como se tivesse dado o comando “desligar”, então, tudo fenece.
– Não estavas aqui, logo não ouviste o começo da história. Todo dia faço muito mais do que uma caminhada e tenho uma vida saudável.
– Calma, poeta, não quero atrito – defendeu-se o engenheiro.
– Nem eu. Atrito, exagero e tristeza são coisas que não se coadunam com um bom envelhecimento.
Eu, temendo o pior entre os dois, desconversei:
– Vocês viram o que aconteceu no estádio de futebol do Egito?
– Caro Duailibe, eu prefiro o Egito antigo. Cleópatra com seus banhos de leite de cabra para rejuvenescer a pele; e os sarcedotes que, na busca da eternidade, preservavam os corpos através da mumificação.
– Por falar nisso – intrometeu-se o engenheiro – existe uma teoria interessante que sugere a “cura da morte”. Ela parte do pressuposto de que se o cérebro é o hardware (parte física) e a mente o software (parte lógica) do processamento de informações, por que não se poderia transferi-los para uma outra máquina, assim como se faz com os computadores?Atônito e curioso pedi para que ele explicasse melhor isso:
– A ideia partiu de Charles Olson, cientista americano, que propõe se guardar o cérebro numa solução química, para implantá-lo no futuro em outro “ser vivo”.
– Essa teoria não é tão inovadora assim, porque é parecida com a do povo egípcio – retorquiu o poeta. A meu ver, o que há de mais interessante quanto ao pormenor surgiu há 40 anos quando se deu início ao congelamento de pessoas que morriam de doenças incuráveis para que elas fossem descongeladas depois de descobertas as curas para as suas doenças. Vide Forever Young de Steve Miner. Só que até hoje, nada.
– Poeta, estou te estranhando. Achava que eras um visionário. Estás muito reticente, desdenhou o engenheiro.
– Se leres minhas poesias, perceberás que sou cheio de esperança, mas pragmático. Acho que a vida a ser vivida é a do aqui e agora, porque tudo é temporário. Como dizia Luther King “o que vale não é o quanto se vive, mas como se vive”.
Bruno Duailibe
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão. Pós-Graduado em Direito Processual Civil no ICAT-UNIDF.
*Foto: Miguel Viegas.