O peso das dívidas: como o endividamento prolongado afeta a saúde mental dos maranhenses

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Em São Luís, 74,4% das famílias ludovicenses estão endividadas

O engenheiro mecânico Carlos Santos, de 54 anos, é um exemplo das dificuldades que muitos maranhenses enfrentam devido ao endividamento. Morador de uma casa alugada no bairro do São Francisco, Carlos contraiu um empréstimo com a esperança de organizar suas finanças e proporcionar mais conforto para sua família. No entanto, a realidade foi bem diferente. “Eu fiz o empréstimo pensando em organizar as contas e dar um conforto maior para minha família, mas a realidade foi outra”, desabafa.

Com os juros se acumulando e a renda familiar comprometida, a saúde emocional de Carlos foi severamente afetada. “A cada mês que passava, eu via que não conseguia sair do vermelho. Aquilo me deixava extremamente ansioso, eu não conseguia dormir direito, comecei a perder o apetite e a me afastar das pessoas”, relata. A situação se agravou com o medo de não conseguir pagar o aluguel e ser despejado. “Eu sentia angústia e uma sensação de fracasso”, relembra. 

Dados recentes ilustram a extensão do problema no Maranhão. Em junho de 2024, segundo o Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas no Brasil, do Serasa, o estado registrou 2.068.021 inadimplentes, um aumento de 1,4% em relação ao mês anterior. O total de dívidas no Maranhão é de aproximadamente 5,7 milhões, somando R$ 8,1 bilhões em débitos. Os principais motivos de endividamento incluem bancos e cartões de crédito (28,74%), seguidos pelo varejo (19,77%) e serviços (15,42%).

Na capital, São Luís, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Maranhão (Fecomércio-MA) em maio de 2024, mostrou que 74,4% das famílias ludovicenses estão endividadas, totalizando 227.379 famílias com algum tipo de dívida.

O psicólogo e professor do Centro Universitário Estácio São Luís, Eudes Alencar, alerta que o endividamento prolongado pode desencadear transtornos psicológicos graves, como ansiedade e depressão. “O medo constante de não conseguir pagar as contas e a incerteza sobre o retorno ao mercado de trabalho podem se tornar gatilhos para transtornos mentais”, explica Alencar. Ele acrescenta que a ansiedade é frequentemente acompanhada de insônia, falta de apetite e outros sintomas, especialmente em situações de dívida e desemprego.

Além de afetar a saúde emocional, a falta de controle financeiro prejudica a autoestima e a percepção de competência pessoal. “A falta de recursos para enfrentar dificuldades abala a autoestima e a sensação de competência, resultando em uma percepção negativa de si mesmo”, afirma Alencar. 

Para enfrentar o estresse causado pelo endividamento e prevenir o agravamento da saúde mental, o psicólogo sugere algumas estratégias. “Buscar ajuda é fundamental, mesmo que o indivíduo não tenha recursos para pagar uma terapia. Existem serviços gratuitos oferecidos por faculdades de psicologia”, recomenda. Ele também aconselha a busca por qualificação, o que pode restaurar a sensação de competência e abrir novas oportunidades. “Voltar a estudar pode criar novas possibilidades e ajudar na recolocação profissional”, acrescenta.

O psicólogo ressalta ainda a importância da resiliência, já que a recolocação no mercado de trabalho pode levar tempo, especialmente em regiões com poucas ofertas de emprego. “A pessoa terá que enfrentar muitos desafios até conseguir um novo trabalho. Dependendo da região, esse processo pode levar meses ou até um ano”, destaca.

O relato de Carlos Santos e as observações do psicólogo Eudes Alencar deixam claro a profunda conexão entre problemas financeiros e saúde mental. Enquanto muitos brasileiros enfrentam desafios econômicos, é essencial abordar tanto a saúde financeira quanto o bem-estar psicológico para uma recuperação mais eficaz e equilibrada.

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