O primeiro transplante foi executado na década de 1950 e, atualmente, milhões de pessoas receberam células-tronco do sangue para diversos tratamentos de cânceres, além de outras doenças sanguíneas e da medula
A associação global de registros de células-tronco do sangue – World Marrow Donor Association (WMDA) – criou o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea. A data, que tem o objetivo de conscientizar os brasileiros sobre a importância da doação de medula óssea, marca o mês de conscientização, sendo celebrada anualmente no dia 17. Muitos não sabem, mas ao fazer uma doação é possível ajudar diversas pessoas/pacientes das mais variadas doenças, como leucemia, linfomas, mieloma múltiplo, aplasia de medula, entre outras imunodeficiências.
“Precisamos aumentar o número de doadores brasileiros, pois só assim também aumentaremos as chances de encontrar medulas compatíveis. Um outro fator importante é a lista de espera pelo doador ideal, que pode demorar meses e isso é de extrema relevância para o sucesso da cura dos pacientes que aguardam por uma doação”, afirma o hematologista e professor do IDOMED – Instituto de Educação Médica, Vitor Paviani.
Para mudar esse quadro, é preciso estimular a doação. Paviani diz que o ideal é atender quatro quesitos principais para ser um voluntário: ter entre 18 e 35 anos; estar em bom estado geral de saúde; não ter doença infecciosa ou incapacitante e não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico. Após o registro, o voluntário retira sangue para análise e os dados são mantidos em um sistema nacional consultado sempre que há um novo paciente com necessidade de tecidos.
Segundo o especialista, o transplante consiste na substituição de uma medula óssea doente, ou deficitária, por células normais da medula óssea. Essa ação tenta reconstituir uma nova medula saudável. As células-tronco hematopoiéticas, responsáveis pela produção do sangue (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas), são as células substituídas no transplante. Elas podem ser coletadas por meio da aférese (quando acontece a separação dos componentes do sangue, permitindo o retorno ao organismo do doador dos elementos não utilizados) e no sangue do cordão umbilical, quando coletadas após o nascimento do bebê. Por conta destes procedimentos, atualmente, o termo transplante de medula óssea tem sido substituído por transplante de células-tronco hematopoiéticas.
Como se tornar um doador de medula óssea?
Os interessados em fazer suas doações devem procurar o hemocentro do seu estado, agendando uma consulta de esclarecimento ou palestra sobre doação de medula óssea; o voluntário irá assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e preencher uma ficha com informações pessoais. Será retirado do voluntário, uma pequena quantidade de sangue (10ml) e é necessário apresentar o documento de identidade; o sangue será analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), que nada mais é do que um teste de laboratório para identificar suas características genéticas que vão ser cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade.
O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) incluirá os dados pessoais e o tipo de HLA e quando houver um paciente com uma possível compatibilidade, o doador será consultado para decidir quanto o transplante. O REDOME alerta que é sempre importante manter os dados cadastrais atualizados. Após a aceitação por parte do voluntário, serão necessários outros exames para confirmar a compatibilidade e uma avaliação clínica de saúde. O doador poderá ser considerado apto e realizar a doação após todas as etapas concluídas.
Transplante de sucesso
A pequena Isabela Feckinghaus, que irá completar 7 anos em 20 de dezembro, felizmente, conseguiu um doador 100% compatível. Atualmente, ela brinca, vai a escola normalmente e seus pais afirmam que o pior já passou. Ela é filha da médica Carolina Monteguti Feckinghaus e foi diagnosticada com uma doença rara, a linfohistiocitose hemofagocitica.
Durante a pandemia, em junho de 2020 ela teve febre e várias lesões pelo corpo. Após várias consultas e exames chegamos ao diagnóstico da doença, uma síndrome de hiperativação imunológica. “Em palavras simples: na presença de uma infecção, o sistema imunológico dela respondia de forma exagerada, o que provocava danos a vários órgãos: fígado, coração, baço, medula óssea”, diz a mãe de Isa.
Graças ao transplante de medula óssea, a saúde de Isabela mudou completamente, e esse procedimento só foi possível através da doação voluntária de medula óssea de uma pessoa cadastrada previamente. “Foi através do sim dessa pessoa que a Isa pôde ter uma vida normal de criança novamente: brincar, poder sair sem restrições, frequentar a escola, ir na igreja, dançar ballet. A doação dessa pessoa não salvou somente a Isa, mas nossa família toda, que será sempre grata” reforça.